sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

2009 on two clouds 9 :D

Quer conhecer a personalidade de uma pessoa? Pergunte-lhe como foi o seu ano. Você ouvirá da pessoa mais sortuda do mundo "poderia ter sido melhor", enquanto do que teve mais problemas talvez ouça "foi o melhor ano da minha vida". Tudo depende da perspectiva, do olhar, daquele último grão de glíter que fica encrustado na nossa retina: a esperança. Se não cuidarmos bem da esperança, ela, ao contrário do que diz o ditado, é a primeira a morrer. Por isso há tantos mortos andando por aí. Talvez você mesmo seja um deles, já pensou nisso?
Viver é, antes de tudo, ter esperança, que pode ser traduzida em palavras de otimismo ou orações cheias de fé. Ou nos dois.
Eu já vi muita gente fazer "New Year's Resolutions". Eu mesma faço algumas, mas quer saber? Não importa. O que realmente importa é estar vivo, vivo mesmo. É poder sentir o vento bater no seu rosto todos os dias e pensar que há um Deus soprando vida dentro de você. Isso, meu leitorzinho, é tudo o que importa, e você deve saber disso muito bem.
Portanto, se você não está pronto para gritar do décimo quinto andar (ou do segundo, no meu caso), que 2008 foi o melhor ano da sua vida, eu quero humildemente sugerir-lhe uma resolução de ano novo: ressuscite!
Pode ser meio desajeitado, no começo, sorrir e cantar, mas quando você começar a dançar no ritmo suave e agitado da vida, nunca mais vai querer parar. Um dia, você vai deixar tudo o que está fazendo só para ir olhar o mar ou ver um gato rolar na rua. Pronto, você está vivo!
E o meu desejo, para os que tiveram o melhor 2008, como eu, apesar dos problemas, é que passem 2009 on two clouds nine. Para os que não tiveram o melhor 2008, eu desejo que o último brilhinho do seu olho ilumine você para Deus, que pode comandar mitoses sucessivas e, in no time, você vai jorrar esperança.

Feliz 2009!

[Meu Deus! Eu não consigo para de sorrir, desde que comecei a escrever!]

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Bullets and Dots

Respondia eu a minha prova de vestibular, tão tranqüila quanto possível, em meio à prova horrorosa de física, quando a fiscal diz: "Falta meia hora, portanto comecem a passar as respostas para o gabarito." Segui seu conselho e comecei a marcar as bolhas, não podendo evitar o pensamento: "Essas bolinhas vão decidir o meu futuro." Sei que todo mundo vive dizendo que vestibular não mede conhecimento, e tudo mais. Bom, é a maneira mais eficaz de selecionar 5 mil pessoas dentro de 25 mil, com certeza.
Ao pensar nas bolinhas azuis que eu pintava, lembrei-me do discurso de Steve Jobs, a que eu assisti no YouTube. Ele defendia a tese de que tudo na nossa vida se conecta de algum jeito. Os sofrimentos, as doenças, até os insucessos, tudo vai fazer sentido um dia. Como os pontos daqueles desenhos que a gente fazia quando pequenos.
Eu acredito nisso, porque na minha própria vida já vi pontos dolorosos se ligarem em prol de uma conquista, já vi planos frustrados originarem lindas fotos, and so on.
Tomara que as bolhas do meu gabarito do vestibular formem o desenho do band-aid que eu tanto quero!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Já?!

Motivada pelo espírito de hoje, resolvi escrever uma carta para os meus coleguinhas, que enfentaram o Ensino Médio comigo, fazendo-o, no mínimo, indelével.

~

“Pode a distância realmente separá-lo dos seus amigos? Se você deseja estar com alguém que você ama, você já não está lá?” (Richard Bach)

Darlings,

Vocês sabem que uma das coisas que eu mais amo é escrever, e é nesse pequeno conjunto de palavras que eu quero deixar gravado um pouquinho do que eu sinto por vocês. Primeiro, eu queria me apossar do slogan de JK, mesmo que ele tenha feito tantas barbaridades no seu governo, para dizer que nós quase vivemos 30 anos em 3 (ou menos, para os mais recentes). É muito difícil tentar falar sobre tudo o que passamos. Foram tantas confusões, tantas brigas, discussões, mas também tanto amor e tantas risadas para cobrir tudo isso. Dizem que amigo que não ri junto não sabe chorar junto. Nós, com certeza, aprendemos os dois. Seria inútil, trabalho vão, tentar dizer-lhes como cada um de vocês é especial para mim.

De Rafa, infelizmente, o que eu mais aprendi foi ausência, mas suas risadas contagiosas e a alegria estridente que parece sair de todos os seus poros estarão sempre na minha memória.

Ju (“do olho verde”, como ficou conhecida esse ano) é o retrato típico de uma brasileira, porque a felicidade dela é muito forte, é sempre riso, mesmo que esteja tudo ruim. É sempre samba, mesmo que nem tudo seja uma maravilha. Eu guardarei dela a linda satisfação de viver e, é claro, os “cala a boca, Nena!”

Juliana foi o melhor retorno do ano e ela, sem dúvidas, sabe e sente o quanto eu a amo e admiro, o quanto aprecio sua companhia e as lembranças tão antigas que temos.

O silêncio de Amanda me fala muito. Apesar de todas as suas leseiras, a sua sabedoria vai ficar sempre no meu coração. Ela emana a paz e o amor de Deus, o que é tão raro e precioso! Quando eu tiver uma filha, quero que ela seja como Almôndega.

Da minha amiga que viu um filme pelo rádio (ou era pelo telefone?), eu carrego muita história pra contar, uma preocupação ímpar com seus amigos, as situações inusitadas, as gargalhadas, o respeito que ela sempre exigiu (“olhe o respeito”) e um companheirismo sem igual, temperado com doçura, que talvez seja genético, porque o temperamento de Lua é mesmo, como diz o apelido, um pedaço do céu. Sempre me lembrarei das suas palavras medidas e do amor inerente aos seus atos. Além disso, lembrar-me-ei de que ela nunca deixa os seus sonhos para trás.

Minha mini-amiga, que de mini-amizade não tem nada, fará tanta falta, com suas músicas, amigos emo, cinqüenta milhões de fotos, histórias engraçadas e seu “Ca-amba”, que ela jura falar certo.

Vou morrer de saudades de Alinny e das suas demonstrações esquisitas de amor, que, felizmente, eu consegui captar. Até das provas de Pernambuco que ela me obriga a resolver e das redações que ela me dá para corrigir, da maneira como ela minimiza os problemas, diz bom dia, “ta-dam” e compreende a freqüência acelerada das minhas palavras. Acho que o texto que ela escreveu e as suas lágrimas de hoje são lindas expressões do vazio que sentiremos.

Dos lindos livros de Kriscieli e dos seus comentários sempre pertinentes eu me lembrarei sempre que eu ler alguma coisa. Ela inspira livros e expira cultura, mesmo sendo tão caladinha. Com o tempo, eu vi que também a amo muito, mas vou continuar dizendo pra ela parar de impedir meu caminho (haha).

Vou sentir falta do nervosismo de Larissa e de como ela grita e fala como uma criança. Também vou sentir falta daquelas aulas que a gente assistia de tarde. E do jeito que ela puxa o braço da pessoa e diz: “Vamos!”, no imperativo mesmo, porque quando ela quer uma coisa, nunca deixa muita opção.

De acordar cedinho para ir à escola, eu só vou sentir falta da companhia do meu dude, que muitas vezes foi o primeiro do dia a escutar meus conflitos e dizer: “Duuuude, don’t worry”. Mas nem peçam para ele dizer, porque ele “só diz se ele quiser, e aí?”. Flashpig me lembra todos os dias dele. Vitoca é quase uma amiga, para mim.

Gorgon sempre me ajudou muito, com aquelas músicas de igreja que ninguém nunca escutou, só ele, mas que tantas e tantas vezes me lembravam, no meio do frenesi total, que Deus estava cuidando de tudo. Além disso, eu nunca vou me esquecer das suas brincadeiras. Acho que ele vai ser uma criança de barba, para sempre.

Dos “E aí, fêmea?” de Breno, eu com certeza não esquecerei. Ele também tem um super acervo musical, e eu vejo o amor de Deus refletido na sua vida.

Até de Gabriel sentar na minha frente e ficar falando aquelas coisas difíceis eu vou sentir falta. Embora ele precise de um gráfico de uma integral para externar quase todas as suas idéias, eu poderia usar poucas palavras para dizer que, se eu tivesse uma lista de pessoas especiais, como ele tem, ele certamente estaria nela.

As músicas de Murilo antes das aulas à tarde – mesmo que ele só tocasse Titanic – vão fazer muita falta, e o jeito desajeitado que sempre ajeita tudo dele também.

De Talita e Carol, nem quero falar muito. Foram meus braços e minhas pernas quando eu não pude andar; assistiram às minhas lágrimas, às minhas quedas e aos meus fracassos da primeira fila, e quando eu estive muito triste, sempre conseguiram me apoiar e, ao mesmo tempo, ter uma brincadeira na ponta da língua. Começo a rir, só de lembrar. Me arrancaram risadas, quando não havia nenhuma delas dentro de mim. Comeram trezentas macarronadas do século passado comigo, assistiram a inúmeros filmes, se instalaram na minha casa e no meu coração, riram das minhas piadas super engraçadas e sempre condenaram meu conceito de perfeição (Hudson). Txuli eu conheço desde sempre, compartilhamos conflitos de todas as idades a sua companhia e os seus conselhos sempre foram muito importantes para mim. Carol, só há três anos, mas tornou-se essencial, para mim. Juntas, são a protocooperação perfeita. Quando aquela menina perguntou se éramos trigêmeas, talvez seja porque elas são mesmo um pedaço de mim. Não consigo nem imaginar viver todos os meus dias sem o seu suporte e amor.

Aliás, viver sem vocês todos vai me dar muitas saudades. Sei que, onde quer que chegarmos, teremos novos e bons amigos, mas essas boas lembranças, jamais as deixaremos. É muito provável que não nos vejamos todos os dias, mas amigo é sempre amigo, não importa o que aconteça nem quanto tempo passe. Vai ver Deise se muda pra Floripa, Vitoca vai trabalhar na Bolsa de NY e Gorgon, Murilo, Breno e Gabriel vão dançar forró em Campina todo dia. Pode ser que Ju Dentista, Ju Médica, Luzanna e Amanda construam um hospital (ou talvez Luzanna volte à sua carreira de Miss Alhandra, quem sabe?). Talvez Lua vire juíza, Carol consiga o emprego de nutricionista no Juliano Moreira, eu consiga ser uma advogada casada com um inglês e Txuli vá trabalhar em Fernando de Noronha. Talvez Kriscieli vá com ela, ou funde mesmo aquele cursinho de português (vai ser colega de Hudson!). Acho que Alinny consegue fazer cinco cursos, viajando para Hellcife todos os dias e Lalá vai trabalhar na Folha, em qualquer sessão que não seja a de fofocas. É impossível prever o que o destino nos trará, mas em meio a tantas especulações, há uma certeza, em mim, bastante forte: sempre que nos reencontrarmos, haverá festa; sempre que estivermos juntos, nossos sorrisos nos lembrarão de tudo o que foi bom. Eu vou sentir todas as saudades do mundo, tão-somente porque os amo como a irmãos.
Que Deus possa lhes dar cada vez mais alegria, riso e força e que Ele seja o melhor amigo de vocês. Haverá, ainda, muitos fins de percurso, algumas separações, mas Deus estará sempre conosco. Dele, não há nada que nos separe. Agostinho dizia que Deus nos fez para Ele, e, enquanto não descansar nEle, o nosso coração andará inquieto.
Amo-os muito,

Maria Helena

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Wig

Ela lembrava-se de Machado: "A necessidade os tornou suportáveis, o tempo os tornou mutuamente precisos." Eram pequeninos. Não digo jovens, porque jovem é quem quiser ser jovem. Eram mesmo pequenos, como crianças. Lembro-me das besteiras que falavam e de como elas não pareciam nem um pouco absurdas, para eles, como parecem hoje. Naquele dia, você lembra? Ele brigou com ela porque ela disse que ele tinha que cantar e porque ela deu um murrinho na sua barriga. Foi a maneira mais automática de expressar o carinho, mas eu acho que ela o machucou. Foi engraçado. Depois das músicas, fizeram quase uma maratona por aquele corredor que passava pelos pássaros e riram muito. Ela até esqueceu que estava de salto, e ele teve que esperar que ela ajeitasse as sandálias e reclamasse dos machucados, depois da corrida. Ele tinha aquele olhar de proteção, por ela. Enquanto ela sentava na escada, ajeitando as sandálias, ele foi buscar água, e nunca parava de falar. Isso foi muito antes de descobrirem que compartilhavam o silêncio melhor que as palavras. Ele quis ajudá-la a levantar, mas ela puxou a mão bruscamente. Ele entendeu o recado. Entendeu, mas nunca foi sinônimo de conformismo. Hoje, ela vive os sonhos que tinham naquelas manhãs fatigantes, diz que não se esqueceu daquele português perfeito e das três palavras que eles tinham. Pergunto-lhe sempre quais eram as palavras, mas ela se nega a me dizer. A única coisa que ela fala é: "ele foi como um algodão doce cor-de-rosa, mas eu vi que só gosto dos branquinhos."
Já faz tanto tempo, e eu sinto como se fosse ontem, aquela noite em que seus olhos se encontraram, bem na frente de todos nós. Eu os amava tanto, queria ser a madrinha dos seus filhos. Ela, ao me escutar as lamúrias, só me diz: "Ah, querida, você ainda não sabe? A vida é uma doceria."
E esses eram os únicos momentos em que a sua loucura não parecia tão grande quanto a do Quincas Borba que ela sempre citava: "As batatas, querida, as batatas."
E um dia, ela também virou uma nuvem de algodão doce. Eu a sinto quando chove. Ele também a sente.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Aeroplano

Escrevo textos, parágrafos, linhas, palavras e letrinhas. Entre eles, coloco pontos e vírgulas, para não impedir ninguém de respirar. De vez em quando, até arrisco um ponto-e-vírgula, que eu nunca aprendi a usar direito. E perguntam-me: "Por que você escreve?"
Quem disse que eu sei? Não sou cronista, não gosto muito de fazer críticas, não noticio nada. Apenas gosto de colocar para fora minhas impressões e criações. Faz-me mais leve, escrever. Nem sempre consigo fazer algo que eu realmente goste. Aliás, quase nunca gosto do que escrevo, porque não consigo ainda traduzir completamente o complexo enlinhado de sentimentos e impressões que assolam o meu coração.
Escrevo histórias, pedaços, contos, até poemas. Tenho uma caixa com esboços, e ao contrário de muita gente, acredito em inspiração. Há dias em que nada sai, enquanto há outros em que o entusiasmo não cabe no papel nem no computador.
Engraçado escrever, não é? Imagino os jornalistas, que precisam escrever sempre, para viver. Quantos não devem estar agora mesmo fazendo suas matérias incríveis, suas crônicas, colunas...
E eu, uma menininha das palavras, engatinhando ainda do A para o E, percebendo inconscientemente o vôo, que só acontece depois da corrida. E sempre que caio, uma vírgula daquelas me levanta, pra dizer que eu estou aprendendo, e um dia, os dois pontos me dizem, um dia, eu também vou, eu também vôo: homófonas perfeitas.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Little pieces jumping around

O amor, que implica empatia, é estranho. É uma sensação fora do comum sentir pular em nós mesmos a alegria de outrem ou chorar a dor que não nos pertence. Hoje, lendo Bandeira, vi no poema "tudo o que amamos são pedaços vivos do nosso próprio ser". Realmente, re-al-men-te. Quantos pedaços de mim vagam por aí! E o meu coração, por vezes, parece mais uma pipoqueira, de tanta alegria, o extraordinário que nunca é demais, eu poderia dizer a Mogli.

(Certo, Talita?)

sábado, 6 de dezembro de 2008

Caro Vestibular,

Sílvia nos entregou uma apostila em que uma moça escreveu uma carta para o vestibular. Gostei muito da idéia e resolvi escrever a minha própria.

~

Caro Vestibular,
Eu também só estou chamando você de "caro" por educação, visto que não tenho o mínimo afeto pela sua pessoa. Primeiramente, você quase sempre consegue perturbar a minha calma, me trazendo aquelas notícias de quantos super-dotados vão fazer Direito pela manhã na UFPB e de como a prova de Física do terceiro ano vai ser a mais difícil de todas. Por falar em física, este é um excelente motivo para que eu não goste nem um pouco de você. Pelo amor de Deus, quando eu estiver acusando alguém em um tribunal, para que diabos quererei saber qualquer coisa sobre indução eletromagnética?
Tudo bem que eu só perdi uma noite de sono no ano todo, estudando História, mas mesmo assim, EU PERDI UMA NOITE DE SONO. Além disso, eu praticamente preciso morar no colégio, já que tem aula 24-7. E aqueles pobres que vão fazer Medicina? Você não tem pena deles?
Eu poderia contar nos meus dez dedos as vezes em que saí de casa sem peso na consciência, este ano, e tudo por causa de quem? VOCÊ.
A menina da carta de Sívia já não te pediu? "Be nice, dude". Mas não, você tem que ser um chato mesmo, né? Sabe qual é o resultado disso tudo? Ninguém gosta de você. Daqui a pouco, todo mundo só vai querer fazer faculdade particular, e sabe de quem é a culpa? SUA.
Tá bom que eu me divirto um bocado com aquele povo desesperado nas aulas, vai. O desespero faz as pessoas ficarem engraçadas. Até Alinny, que fica em todos os primeiros lugares, fica desesperada. Você acha isso engraçado, né? Eu também. Deve ser porque eu tenho certeza que ela vai passar.
Sabe o que eu tenho vontade de fazer com você? Chutar seu balde, até quebrá-lo em três pedaços, mas eu dependo de você (oops).
Então, Vestibular, como eu ia dizendo, você é um amor de pessoa. Talvez eu inteire até a sua bebida.
Chutes e beijos,
Maria Helena

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Suco de acerola

Era uma vez um menino que contava a partir do polegar, mesmo não sendo francês. Ele gostava muito de dizer "por favor" e "obrigado". Era o menino mais educado de todos. Sua mamãe era uma boba, porque ria de tudo o que ele fazia, mas não tinha problema, pois, afinal de contas, aquele menino era muito quietinho e calmo por natureza. Não faria nada de errado, até gostava muito da sua mamãe boba, que, para ele, era a boba mais querida do mundo. Não me lembro do seu nome, mas sei que era um nome comum. Pedro, João, José? Impossível recordar. Seu nome não era expressivo. Aliás, ele era tão bonzinho que nada nele era realmente expressivo. Como diriam os franceses, ele não tinha nenhum allure. Sabe do que ele mais gostava? De rir. Não se preocupava em viajar, aprender, ter amigos: nada. Só queria uma coisa: ter sempre do que rir. E era uma figura engraçadíssima ele mesmo. Gordo, alto, branco-amarelado, óculos azuis bem redondos, com um esparadrapo na perna esquerda (ou era na direita?). Pois bem, era esse Pedro a criatura mais inofensiva do mundo. Um dia, João chegou em casa, rejeitou o suco de chuchu e tomou o de abóbora. Depois, saiu. Quando estava no portão, sua mãe gritou: "Adeus, chuchu". José respondeu: "Adeus, mamãe. Guardo você em mim". Ele, de fato, guardou a boba no seu nome, e só houve mais um pedaço de superlativo que eu ouvi dizer dele: ele nunca mais voltou. Sua mãe, sempre pensativa, olhava todos os dias para a foto que tinha dele, achando que aquilo tudo era só uma má safra e que a sua abóbora voltaria logo, mas quando um pássaro começa a voar, é impossível fazê-lo retornar. Ou melhor, é possível. Ele mesmo já vira muitos voltarem às casas, mas ele não volveria aos sucos insípidos. A vida, ele tem visto, pode ter gosto de suco de acerola bem docinho. Doce, como dizia Machado que a vida é. E o menino da minha história, depois de um gole, diria "muitíssimo obrigado", é claro, com o sorriso da liberdade. O inefável sorriso da liberdade, que eu jamais esquecerei.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

La vie comme elle vient

Todo ser humano idealiza muitas situações na vida. Primeiro, sonhamos com o emprego ideal, a família perfeita, o melhor carro, um príncipe encantado (ou uma princesa, se você for um menino), mas nossos sonhos não são tão abstratos, já que têm as cores e formas previamente definidos. A lei das probabilidades diria que é improbabilíssimo encontrarmos todas as nossas idealizações, nas cores e tamanhos que queremos. Já é tão difícil encontrar um sapato tamanho 36 preto e bonito, imagine as nossas tão bem-elaboradas quimeras. Pensando nisso, muitas pessoas deixam os seus sonhos para lá e importam-se somente em viver a realidade. Eu admiro muito esse povo, porque, de acordo com as contas matemáticas, alcançarão objetivos palpáveis, realísticos, de verdade, chatos. Sabe o que acontece? Muitas vezes, os nossos sonhos passam na rua da nossa casa, batem à nossa porta e são recusados por nós, só porque vieram em vermelho, quando queríamos azul. Os franceses costumam dizer: "prend la vie comme elle vient", que significa "pegue a vida como ela vem", porque quase sempre é bem melhor do que você sonhava, e você começa a perceber que há Alguém aí fora que sonha melhor que você. Além disso, de tudo o que eu tenho visto por aí, eu só poderia concordar em todos os tons com Bandeira, quando ele escreve que a lei das probabilidades é uma pilhéria, sabe por quê? Tanto azul quanto vermelho são indescritivelmente lindos, tão lindos quanto os sonhos quiméricos, os sonhos dos sonhadores.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Flowers in my December

Uma vez, li um livro muito lindo, chamado "Rosas em dezembro", em que a autora falava sobre perdas super dramáticas (três filhos) e de como o Senhor a reergueu da profunda dor em que se encontrava. Ela detestava dezembro, porque era o aniversário de um de seus filhos, além de ser o inverno, e o seu coração doía bastante. Quando comentava isso com uma amiga, um dia, abriu um catálogo de pôsteres em um que, abaixo de uma rosa vermelha, dizia: "Deus lhe dá rosas, mesmo nos dias de dezembro", daí o nome do livro.
Hoje é o primeiro dia de dezembro, e é tão difícil para mim acreditar que já chegou. Ontem e hoje fiz provas da UEPB, amanhã tem mais, o CAE é quarta-feira que vem, a UFPB é daqui a três semanas. Seria inútil tentar descrever todos os variados sentimentos de que minha mente se enche agora, mas o que eu mais sinto, surpreendentemente para mim, é a sensação de alívio. Hoje eu só tenho certeza de que esse sentimento bom é a minha primeira flor de dezembro. Flores, porque rosas são melodramáticas e profundas demais. Não que eu não goste delas. Adoro as rosas, mas o que Deus tem me dado são leves e puras flores. Na verdade, talvez eu mesma me sinta como uma flor.

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"Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar nas milhões e milhões de estrelas, isso é suficiente para que ele se sinta feliz quando as olhar. Ele se diz: 'minha flor está lá, em algum lugar'."
(Exupéry, no Pequeno Príncipe, TL)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Sineste(o)sia

Já diz o povo que os olhos são as janelas da alma. Pelos olhos, nossa alma vive espiando, procurando amigos, coisas divertidas, amores e a beleza. De vez em quando, ela encontra coisas tão extraordinárias, que as janelas, de tanta alegria, se fecham, espremidas em um sorriso. E é tão difícil tirar os nossos olhos daquilo que nos dá paz, não é?
Mas acima de tudo isso, acima do que faz cintilar e multicolorir nossas íris, as nossas janelas estão sempre abertas para procurar a única coisa que pode dar-lhes o brilho eterno, que é tão grande que pode ser dividido com todo o resto do corpo: o estrondoso amor de Deus. Estrondoso porque é o mais lindo som que os nossos olhos escutam, o abraço que pula a janela e envolve a nossa alma, o gosto infinito, como de estrelas, e o melhor cheiro de paz do Universo inteiro.
E um dia, quando enfim fecharmos os olhos para esta vida, nossas janelas manter-se-ão escancaradas para a eternidade, e aí será a nossa vez de pular para os Seus braços.

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Lindo, Senhor! Tudo o que o Senhor faz é muito lindo! Obrigada por poder senti-Lo de muito mais que cinco maneiras. 'Todo o meu ser, com tudo o que sou, sempre Te adorarei'!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Better Endings

Sabe o que é muito chato? Você chegar no colégio e os professores dizerem que agora é que você precisa começar a estudar, porque a prova de física no vestibular vai ser de torar o cano. Outra coisa muito porre? Você ter que escutar o stress de todo mundo, torcendo pra esse negócio não ser contagioso e não pegar em você, porque quando pega, pega feio mesmo. Pois bem, em meio a este frenesi vestibuleiro, eu tento lembrar-me sempre do que mamãe diz: "você pode escolher o que faz com o que os outros lhe dizem". Esta semana, resolvi dar-lhe ouvidos, e, junto com minhas quatro horas de estudo (já estou reduzindo-as), saí com meus amigos todos os dias. Acabamos de chegar da formatura dos nossos ex-coleguinhas, eu e Talita, estamos com os pés doendo, vimos um cover de Xuxa, divertimo-nos muito, encontrei o platonismo, sem querer, e temos exatamente três horas para descansar, para as nossas aulas de revisão amanhã. Subimos as escadas do prédio com vestidos de festa, sandálias altas na mão, eu com os óculos e uma apostila; ela com um fichário. All in all, é só uma semana, e outra divertidíssima. Você acha que estas linhas são antitéticas? Well, este ano foi uma antítese. Eu nunca imaginei tantas semanas divertidas, mas parece que o melhor sempre fica para o final. Como era aquela história? O último biscoito do pacote.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

On Cloud Nine

Quando eu crescer, penso em muitas coisas. Quero morar em um apartamento não muito grande, mas que tenha espaço para uma biblioteca e um piano, que eu vou aprender a tocar. Quero ser advogada ou professora e falar cinco línguas fluentemente, mas com um sotaque bem brasileiro. Quero ser uma mulher virtuosa, como aquela de Provérbios 31, e nunca deixar de ir para a igreja ou fazer as coisas do Senhor. Quero aprender com os meus erros, e me tornar uma pessoa madura, mas não quero perder essa vontade pueril de sair dançando, cantando e gritando, por aí. Quero, assim como agora, correr para o mar, na primeira oportunidade, e viajar para Brejo sempre que puder (quero que os meus filhotinhos conheçam as origens do meu pai). Quero aprender a sabedoria da minha mãe, a tranqüilidade de vovó e fazer um curso de leitura dinâmica. Quero ter muitos sonhos, até quando eu estiver bem velhinha, e lutar sempre por eles. Quero aprender umas três frases em árabe, para conversar com as minhas amigas, que eu também quero ter para sempre.
Quando eu crescer, não quero deixar de brincar de pega-pega, esconde-esconde, forca, adedonha nem máfia. Quero ser sempre aquela que diz: "Vamos brincar?" porque a vida sem brincadeiras não tem graça, e eu quero que a minha seja sempre um gracejo, apesar dos problemas.
Quando eu for bem grande, vou escrever um livro, em papel reciclado. Vou continuar pulando em cima dos meus amigos, quando os encontrar, mesmo que isso implique em uma blusa melada de refrigerante. Vou continuar saindo com mainha, pelo menos uma vez na semana, e não vou adquirir o costume horroroso de trabalhar ou estudar aos domingos.
Eu não vou mudar o mundo, mas pretendo fazer um pedacinho, mesmo sabendo que é só como aquele passarinho que levava as gotinhas de água no bico, para apagar o incêndio.
Quando eu crescer, quero ser ainda mais idealista, ainda mais sonhadora, ainda mais quimérica, porque eu acredito que os nossos sonhos podem mudar alguma coisa, se não no mundo, pelo menos em nós mesmos. Mas, ainda mais, quando eu crescer, eu quero ter os pés no chão. Será que eu cresço o suficiente, para que eles o alcancem? Não sei. Talvez ninguém precise do chão. Não quando está na cloud nine.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Bem-olhar

Li uma página muito curiosa, na internet, sobre as últimas frases de pessoas famosas antes de morrer. A mais breve foi a de John Locke: "Basta!" Breve e forte, não? Há umas tragicômicas, como a de um rei da Prússia, cujo nome não me recordo, que pedia que lhe enterrassem junto com os seus cachorros. Outro rei, de quem também não lembro o nome (sou terrível com nomes), disse apenas: "É só isso, a morte?"
Adam $mith viveu pela sua teoria até o último suspiro: "Liberdade até a morte". Será que ele tinha alguma esperança de ir pro céu?!
É muito engraçado que, com um conjunto ou apenas uma palavra, as pessoas consigam expressar o que foi a vida, para elas. Há os otimistas, que crêem na eternidade, e nem se incomodam muito com a morte; há os outros otimistas, que são gratos, viveram bem, e há os que agradecem o fim do martírio. Quando terminei de ler a todos (é uma lista imensa), fiquei pensando em quão poderosos somos, em relação à visão que construímos da vida, que pode ser uma música ou uma senzala, só dependendo dos nossos próprios pensamentos. É preciso olhar bem para a vida, ter um bem-olhar por ela, porque este olhar pode torná-la ainda mais fascinante. A última passagem que eu vi foi de uma poeta que disse: "Abram a janela! Eu quero ver o mar". O comentário do autor era de que a pobre mulher estava delirando. Eu deliro todos os dias.
Sir Horatio Nelson, que lutou em Trafalgar, terminou sua emblemática existência com os seguintes dizeres: "Cumpri o meu dever, agradeço a Deus." Eu também quero chegar ao fim dos meus dias e olhar para o meu Criador com mãos e consciência limpas. Quero poder dizer-lhe que cumpri os seus mandamentos e dei-lhe cada respirar da minha vida. É tudo o que eu mais quero e é tudo o que eu consigo pensar, ao considerar a morte. Ou talvez eu simplesmente dê um pulo de alegria. Se a vida já é tão boa, já imaginou como será a eternidade?

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Riponga

O grande Oswaldo canta: "É preciso paz, pra poder sorrir". Hoje, mais que em qualquer outro momento da minha pequenina vida, eu o sei. Há decisões muito difíceis de se tomar. É um trabalho indescritivelmente árduo decidir mudar os planos que pareciam tão certos, ou esquecer quem não deve ser lembrado, ainda que seja aquele amigão do peito, que você achava que tinha. É chato, embora aliviante, dizer o que as pessoas, às vezes, precisam ouvir (ou o que você precisa dizer). É um exercício nada prazeroso, que mais parece aqueles push-ups que os instrutores obrigam você a fazer na academia. Difícil e chato, mas o único jeito de conseguir paz. Não aquelas gargalhadas escandalosas e falsas, não o desprezo do passado só para contemplar o presente (mesmo que ele, graças a Deus, seja cada vez melhor), não, nada disso: a mera sensação de paz.
É impossível senti-la depois de uma decepção, mas inevitável não tê-la, depois de colocar as cartas na mesa e explicitar nossas decepções, nossas angústias, nosso desprezo, enfim, o real sentimento. E, depois de aliviada a bagagem da nossa alma, olhar para um querido amigo e cantar: "É preciso paz" (abrindo, sem perceber, o maior dos sorrisos, daqueles que vêm do seu interior, quase saltitando), para, depois de um abraço, escutar o outro pedaço da música: "pra poder sorrir", vindo dos lábios de quem se ama, ao som da voz de quem se ama, porque o amor é o que a gente descobre onde menos espera. Mais lindo, precioso, guardado e em paz.
Então, não é tão difícil entender o Peace and Love dos hippies, não é mesmo? Tem tudo a ver. Tudo a ver mesmo.

~

"Não é você quem vai me dar na primavera as flores lindas que eu sonhei no meu verão."
(Flávio José)
Afinal de contas, o verão começa agora!

sábado, 15 de novembro de 2008

(o dia da minha formatura)

É. Entre parêntesis. Eu aprendi que quando se quer fazer uma observação sobre alguma coisa ou um complemento, deve-se usar os parêntesis. O dia da minha formatura foi, talvez, a mais linda das observações, embora seja um simples símbolo da nossa conquista.

Quando eu e Vitoca estávamos indo para o colégio, ele vinha ansioso pela festa, eu pelo simulado. Meu cérebro ainda não tinha recebido completamente a informação de que era ontem. Já tinha chegado o dia. Só fui me dar conta, na verdade, quando saí do salão com aquela franjinha cheia de fixador e a maquilagem (bastante incomum, para mim). Vim para casa, coloquei o vestido vermelho. Quando vesti-o, ao olhar-me no espelho, lembrei-me de tantas coisas: dos meus amigos preciosos, dos momentos de risada com os meus professores, da tensão (que ainda não acabou), lembrei-me de que eu já passei de ano, porque completei minhas notas ontem, e, junto com uma pequena lágrima, veio o pensamento: "Já está tudo acabando". Eu que pensei que não choraria mais. Depois, vieram-me à memória umas bobagens, mas por esse tempo, mainha já estava na porta me chamando para sair.
Fomos para a festa, vovó e mainha estavam deslumbrantes. Às vezes as pessoas escondem sua real beleza, ou talvez a vida passe tão rápido que a gente não para pra ver como a nossa família é linda. Adonildo, eu e Juliana não caímos da escada, nem ficamos muito nervosos. Dançamos a valsa (1,2,3;1,2,3, lembra?), eu e painho, eu e vovô, eu e Itamarzinho. Eu, Luanna, Luzanna, Amanda, Talita e Carol nos divertimos muito. Larissa ficou grande e Alinny, graças a Deus, não subiu na mesa.
De pancadão a forró, passando por um rock 60's e axé, dançamos de tudo. Meus pés estão doendo até agora. Falando em forró, era a única coisa que painho estava esperando, para começar a dançar. Está no nosso sangue, compreendi mais ainda ontem. Luiz Gonzaga, Petrucio Amorim, Flávio José, Alceu Valença... Forró nunca é demais!
Fiquei o máximo que pude. Sou fraquíssima, depois de meia-noite. Não fui feita para noitadas, definitivamente. Às quatro e meia, quando cheguei em casa, vi os ensaios de bolhas nos meus pés. Puras marcas de felicidade. Simples e puros sinais de alegria. Tomei um banho, dois copos de leite e dormi até meio-dia.

Expectativas superadas, foi a melhor festa de formatura de todas! Além disso, deu-me a certeza de que virão mais parêntesis bons. Muitos.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Édipo

Minha mãe, e eu já o disse incontáveis vezes, é uma criatura muito forte. Na fila de distribuição da força, ela era, sem dúvidas, uma das primeiras. Deus foi muito gracioso com ela. Papai também é um lutador exemplar, nessa vida que Gonçalves Dias chama combate. Embora eu adore exaltar-lhes as características (sou uma filha muito babona), hoje eu só quero falar da alegria que encheu o meu coração quando painho chegou de viagem.
Meus amigos estão cansados de saber o quanto meu daddy-dude viaja. Tem vez que me perguntam e eu nem sei onde ele está. Vim descobrir que Oman era um país quando ele chegou em casa dizendo que sua próxima viagem seria para esse mini-lugar no Oriente Médio.
Como ele sempre viaja, estou mais ou menos acostumada à sua ausência temporária, mas, descobri, esse ano mais que nunca, que não consigo me acostumar aos fins-de-semana sem ele. Embora minha mãe seja a mais divertida das criaturas, ela é ainda melhor com ele. Painho conta as melhores histórias, tem as opiniões mais contrárias e conhece de tudo. Ele sempre faz os problemas parecerem mais simples do que são.
Quando ouvi as batidas na porta, segunda-feira, deixei tudo o que estava fazendo, só para correr, pendurar-me a ele e dizer: "daddy-dude!" Eu não queria mais soltá-lo. É nesses momentos que ainda me sinto uma criança, um pintinho na selva, um baby-humano. Quando o abracei, lembrei-me do poema de Lya Luft, aquele em que ela fala do retrato que ela via, seu e de seu pai. Do mesmo jeito, eu também, olhando aqui para o meu porta-retrato que tem uma foto de 1996, penso: "parece que ela nunca vai mudar".
Logo eu, esta metamorfose?!

~

"Viver é lutar
A vida é combate
Que aos fracos abate
E aos fortes, os bravos,
Só pode exaltar."
(Gonçalves Dias)

sábado, 8 de novembro de 2008

A Princesa e o seu Rei (Beth Moore)

[Texto de Beth Moore, que eu recebi há quase um ano e sempre quis traduzir. Vai aí o meu pequeno ensaio, com muitos erros. A história é muito linda, though]


Era uma vez uma princesinha que ficou muito brava com o seu pai, o rei. Ela tinha muitos servos, então não precisava se preocupar muito com as suas coisas. "Já sei o que vou fazer", ela disse a si mesma, "vou dar uma lição em todo mundo. Vou fugir de casa e deixar meu quarto bagunçado desse jeito". Ela foi atrás dos costureiros reais e pediu-lhes roupas comuns, jogando no chão tudo o que ela não queria. "Agora, onde está minha roupa?", ela resmungou. Ela se vestiu como uma menina comum e medíocre. Ela deslizou bem quietinha pela porta secreta. Ela sabia que o seu pai, o rei, não notaria a sua ausência por muitas horas, porque ele tinha uma reunião importante no escritório do embaixador.
Rapidamente, ela encontrou um grupo de crianças jogando stickball em uma ruazinha estreita. Ela pensou: "eles se divertem muito mais que eu. Estou cansada de ser uma princesa. Quero ser como eles." Eles a chamaram para brincar e ela foi. Em um instante, ela aprendeu a sua maneira divertida de brincar. Ela dava cotoveladas em qualquer pessoa que se intrometesse no seu caminho, igualzinho a eles. Ela reclamava muito quando perdia a bola, igual a eles. E quando ela caía, caía estrategicamente na lama, igual a eles.
De repente, uma menininha que todos eles pareciam conhecer apareceu na esquina, quase sem ar: "Corram! Alguma coisa muito grande está acontecendo na Rua Principal!" Os bastões caíram e todas as crianças correram. A princesa estava até orgulhosa de si mesma, porque ela também podia correr, igual a eles. Entretanto, ela achava que era hora de comer. Ainda bem que até uma princesa pode correr com a barriga roncando. Eles chegaram em uma multidão que exclamava "ohs" e "ahs", diante do que viam. As crianças tentaram fazer seu caminho, mas aquelas pessoas, muito bem vestidas diziam: "saiam daqui, crianças danadas!".
A princesa, enfurecida, disse: "eu não sou uma criança danada! Eu sou uma princesa... Ou," ela continuou, "pelo menos eu era. Agora eu vou ser igual a eles."
Então ela deu uma cotovelada na mulher e garantiu que suas saias ficassem cheias de lama. "Não adianta", disse um menino, "não vamos conseguir chegar na frente. Vamos subir na árvore." Eles subiram na árvore como uma dúzia de macacos. A princesa se reafirmou: "Eu posso subir essa árvore. Eu sou igual a eles."
Quando ela estava subindo no segundo galho, ela se desequilibrou e caiu. Os adultos ficaram olhando para ela, e as crianças gritaram: "Sobe logo, lá vem!"
Ela nem sabia o que era, nem se importava nesse momento. Ela queria chorar, mas não ousaria. Eles não chorariam, e ela era igualzinha a eles. Em vez disso, ela reclamou. Finalmente, ela conseguiu subir num galho mais largo e perguntou: "o que é que vocês estão olhando?" Os outros disseram: "É o rei, sua idiota! Você não conhece um rei quando vê um?"
Ela foi mais pra frente e viu todos aqueles dignatários em frente à limosine. A porta se abriu e lá estava ele. Tão grande, tão digno, tão real.
"Longa vida ao rei", o povo gritava. De repente, todos estavam curvados, apenas ele de pé. Um dos meninos disse: "nós temos o melhor ângulo. Vamos jogar nossas bolinhas no rosto dele". O terror tomou conta do coração da princesinha: "Vocês não podem fazer isso!" "E por que não?" "Porque ele é o rei!" "E daí?", eles retrucaram, e começaram a jogar.
"Parem! É o meu pai". As lágrimas que ela havia segurado antes jorraram como uma fonte.
"Claro, como o nosso pai é Abraão.", eles zombaram.
"É sério, ele é o meu pai"
E eles riram com mais força ainda.
"Olhe pra você", eles disseram, "você é igual a nós, você nem tem um pai."
Ela viu o seu pai limpar algo do seu rosto. Ele olhou para a árvore, vendo as crianças que gritavam com ele. Uma vergonha indescritível tomou conta dela. Ela tinha certeza que ele a vira, mas talvez ele não a tivesse reconhecido.
Ela pulou da árvore e começou a correr para o palácio, enquanto as crianças jogavam bolinhas nela. A caminhada parecia durar para sempre. De repente, ela percebeu que estava toda suja e sangrando e começou a chorar ainda mais, se sentindo muito pequena. Quando ela chegou ao palácio, viu que a porta secreta estava fechada. Do mesmo modo, todas as outras portas. "Ah não! Aqui não é mais a minha casa e não tem mais nenhum lugar para ir."
Apenas a porta da frente sobrara, mas ela não poderia usá-la. Todo mundo veria. E olhe para ela, ela é igual aos outros. Então ela esperou e esperou, tentando achar outra solução. Finalmente, já muito cansada, inchada e machucada, ela foi para a porta da frente, com suas roupas arruinadas e sua face suja cheia de lágrimas. Ela ainda parou um minuto, tentando pensar em qualquer outra maneira, mas não havia nenhuma.
Ela levantou a mãozinha e bateu na porta, só uma vez, morrendo de vergonha. Antes que ela pudesse reunir toda a sua coragem para bater mais uma vez, a porta se abriu. Enquanto sua cabeça estava baixa, de tanta vergonha, ela só via os seus pés. Era o seu pai, o rei. Ela chorou muito: "Desculpa, papai. Olha o que eu fiz. Que vergonha." Ele se abaixou e disse: "venha aqui, minha princesa." "Não, papai. Eu não sou uma princesa. Eu sou igual a eles."
"Oh, minha pequena. Você pode ter agido como eles, mas você não é um deles. Você é minha. Mas, filha, você nunca será completamente feliz até você aceitar tanto o privilégio quanto a responsabilidade de pertencer a mim."
Naquela noite, ele a levou para a cama e cuidou de suas feridas, lavou suas roupas. Ele a ajudou a limpar o quarto e se sentir, mais uma vez, como uma princesa. Ele a beijou, desejou boa noite. Enquanto saia do quarto, sua roupa dourada e brilhante estava cheia de sujeira, por tê-la limpado. Os olhos dela, mais uma vez cheios de lágrimas: "Nunca mais. Olhe o que eu fiz com as roupas do rei."
Ele, sentindo seu coração quebrado, disse: "Sim, minha filha, haverá outras vezes. Mas eu abrirei a porta todas as vezes que você bater, e amá-la-ei de novo e de novo, até o fim."

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

1,2,3: Cherrypick!

1,2,3/1,2,3/1,2,3...


Primeiro, chegou tudo tão rápido que a gente nem estava esperando. Ninguém se preparou para os ensaios de lágrimas, nem pra saudade, nem pra tantos abraços. De repente, missa, aula da saudade, culto, festa. Pés doendo, cabelos desajeitados ao fim de tudo, e ainda, tanto riso. É tudo tão especialmente bonito, porque é sobre nós, e também tão compassado que mais parece uma valsa. Não, uma valsinha.


Escrever muito estragaria os melhores conjuntos de três tempos de todos.





~


[Não, obrigada. Chega de maçãs envenenadas, agora eu só quero cerejas. Cherrypick!]

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

FullHeartly

Li, há umas duas semanas, O Quinze, de Rachel de Queiroz. Como o livro não era meu, tive que copiar minhas partes preferidas, e deu um trabalho medonho: eu quase copiava o livro inteiro. Não consigo achar o papel, agora, mas lembro-me de uma parte em que a personagem principal, falando com usa avó, diz: "não sei amar com a metade do coração". A identificação que eu tive com esse trechinho, que parece tanto com aqueles versos clichês dos trovadores, é indizível. Mainha sempre teve uma história de "preto no branco" e, embora eu nunca tenha sido tão prática assim, sempre fui muito decidida com os meus sentimentos. Dizem que, quando a gente ama muito uma pessoa, o sentimento é incontrolável. Para mim, os sentimentos sempre foram muito mais racionais, sempre os vi como algo a se construir ou destruir, por completo. Aí vem a minha identificação com a personagem: nunca consegui construir meio prédio de sentimento, nem demolir só um pedaço deles. Também não acredito numa "sucessão secundária": um terreno com escombros é um terreno que eu nunca mais usarei (não, eu não tenho medo da palavra 'nunca', sei quando usá-la).
Quando gosto de alguém, quando quero bem a um amigo, quando admiro uma pessoa, faço-o de todo o meu coração, não meço esforços. Quando, todavia, os sentimentos são destruídos pelas circunstâncias da vida, pelos maus comportamentos ou pela simples mudança de ideais que acontece o tempo todo na minha mente, eu desgosto. Quando uma pessoa é movida para a categoria dos desgostos, c'est ça. Também não sei desgostar com a metade do coração.
A mesma mainha de "preto no branco" às vezes fica impressionada com a minha frieza ante aos sentimentos. Ela diz que eu pareço muito com painho, nesse ponto. (Será?)
Pensando bem na minha vida, eu não sofro muito. Numa balança, pelo menos ultimamente, minhas risadas têm vencido a tristeza de WO. Faz tempo que ela nem aparece. Todavia, quando sofro (que é a coisa mais natural da vida), percebi que é pelas circunstâncias, pelos fatos, e, tão raro quanto democracia em Cuba, pelos sentimentos.

domingo, 2 de novembro de 2008

Só Pessoa mesmo

"Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor."
(Fernando Pessoa)

Sempre gostei muito desse poema de Fernando Pessoa, aquele do mar salgado, que todo mundo lê quando se fala das grandes navegações. Quando tive uma rápida discussão com meu amigo Segundo sobre a poesia de Pessoa, em que ele falava do poema do comboio de corda, eu lhe disse da minha menina dos olhos, esse poema mais batido de todos. Ele retrucou, simplesmente: "É claro, Maria Helena."
Hoje, eu peguei o meu livro de poesias e lá estava o tal poema. O Bojador era um cabo onde havia muitas tempestades, e que dificilmente era ultrapassado pelas navegações. O Bojador era o limite, era o desafio. Do mesmo jeito que para que os navegadores o passassem era necessário lidar com a dor da separação de suas famílias, para que consigamos conquistar nossos objetivos, precisamos lidar com os problemas.
Para ser mais metafórica, com o passar do tempo e das ondas, vamos aprendendo a estabilizar o barco. Quando vem uma onda muito grande, às vezes vira e a gente começa tudo outra vez. Tudo bem. Quanto mais recomeçamos, mais fortes ficamos (faz até Nietszche parecer otimista, essa paráfrase), mais resistentes às ondas menores, que nem balançam mais o navio.
Sabe o que é curioso? Nós temos o poder de aumentar o tamanho das ondas. Às vezes, supervalorizamos um problema ou uma pessoa. Para manter meu barco estável, lembro-me sempre de Machado de Assis, quando diz que nem todos os problemas valem cinco minutos de atenção. Nem todas as pessoas também, eu digo.
Job Fonseca, meu professor de biologia, disse uma vez, repetindo de alguma música: "Tem muita estrela pra pouca constelação". Tem muita gente que se acha demais, pra pouco espaço de prestígio. Para voltar às ondas, eu diria, também, que tem muita onda, pra pouco mar.
É quando o seu barco está nos melhores dias, na maior calmaria e você sente toda a paz do mundo, que alguém metido a onda vem tentar lhe prejudicar, lhe atrapalhar, virar o seu barco. Mas essas ondinhas tão ínfimas não conseguem ver a coisa mais linda, que você vê lá de cima do barco: o seu Bojador. Elas são também tão pequenininhas que não sabem que o seu barco não vira enquanto tiver o Timoneiro. Essas ondinhas vêm na intenção de que você as aumente, que as dê importância, sem saber que você nem consegue olhá-las, de tão insignificantes que são. Sem saber que não fazem mais o mínimo sacolejar no seu barco. Sem saber que quem lhe protege, noite e dia, é o Deus que, como diria Pessoa, espelhou o céu no mar.
A paz de Deus, que excede todo entendimento, também quebra as ondas no meio, ou em três. O importante é que quebra.

[Se fosse Sandro, a única coisa que ele ia dizer era: 'Mulher, chuta que é macumba!']

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Tenho medo. Confesso. Pronto. Medo de ir deixando a vida escapulir por entre minhas mãos,enquanto vejo o tempo passar, mas tenho-o também de viver tanto a ponto de não poder parare ver o vento correr. Tenho medo de prender-me a alguém com a mesma intensidade que tenho de ser livre. Tenho medo inclusive do próprio medo, que me assusta, todavia também temo nada temer, porque em sendo brava demais negaria minha essência. Talvez a beleza da existência seja justamente esses medinhos, talvez nossos temores nos impulsionem a querer algo mais, e eles são mesmo feitos para que os enfrentemos, que é a melhor parte da nossa natureza. Talvez só possamos apreciar a liberdade se antes tivermos sido aprisionados. Ou não. Talvez eu só esteja com medo.

[oct/23/07]

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Objetividade

Enquanto descia os degraus, não pensava em nada além do que faria ali. Veria a praia todos os dias, leria os livros que quisesse, teria paz. A tranqüilidade era tanta que, quando levantou os óculos escuros e deu a mão à aeromoça que a ajudava com a escada, o passado não lhe doía. Havia escutado músicas no fim da viagem, dormira, e agora, vendo aquele pôr-do-sol do lado de fora do avião, sentia vontade de dar risadas, como uma criança despreocupada. E um riso até se esboçou no seu rosto, mas teve medo de que, nesse riso, houvesse alguma crueldade. Não queria rir da má sorte de ninguém. Quando viu aquele sol, só pôde pensar que discordava um pouco de Exupéry, quando ele diz, no pequeno príncipe, que quando estamos tristes adoramos o pôr-do-sol. Ela gostava deles sempre! Ao caminhar para o saguão, sentia, cada vez mais forte, a firmeza desse pedaço novo da sua vida. Não tremia, nem duvidava, pelo contrário, a certeza era o traço inerente ao seu semblante, aos seus trejeitos. Quem a visse de longe, talvez não lhe conhecesse os cabelos curtos ou as roupas coloridas, mas qualquer um não hesitaria em dizer que era uma mulher decidida.
Pegou suas malas, passou no Duty Free e comprou uns chicletes coloridos, que lhe lembravam sua infância.
É verdade que, do avião, descia só, mas, quando saiu no desembarque, teve a maior surpresa de todas.
(...)
Saíram todos abraçados, do aeroporto. O 3510 ficaria para a próxima semana. Nesta, assistiriam à Bela e a Fera. Havia muito a discutir, e que saudades tinham daquelas conversas, daquelas manhãs.

domingo, 26 de outubro de 2008

"- Você contou-me há bocado a tal história dos hipopótamos...Sabe perfeitamente que os animais não olham para o céu, e quando levantam a cabeça na sua direcção, é fechando os olhos para bramir com toda a força... E se o homem, esse, se tivesse aprumado para olhar a beleza do céu, de olhos muito abertos, fascinado pelo azul, a imensidade e o mistério das estrelas...Um desejo de imensidade... Como se urgisse, um dia, ligar o céu à terra, unir a força da gravidade ao infinito, a lama dos caminhos ao esplendor do firmamento... Os primeiros homens aprumaram os seus corpos, elevando-se na ponta dos pés, de braços estendidos para partir à conquista do céu..."
(Yves Simon)

Ontem à noite, quando cheguei da festinha da Aliança, Itamarzinho correu para mim: "Nena, foi tão legal a minha aula!" Mamãe o matriculou em um clubinho de leitura, lá no Centro de Cultura. Ele chegou empolgadíssimo, contando as histórias, e me soltou essa: "Você sabia que os homens são os únicos animais que olham para o céu?" Eu, que nunca li Yves Simon e, naturalmente, não sabia, fiquei pensando muito sobre isso.
Como metida a aspirante de filósofa que sou, não poderia deixar de imaginar os porquês disso. Minhas tentativas de laicizar os pensamentos, nesse sentido, foram vãs. O que escrevo é cristianismo puro, ou seja, é puro amor.
Todo mundo que me conhece sabe que eu sempre quis ir a Londres, na Inglaterra. Quando pego um mapa da Europa, ou mesmo um Atlas, há sempre um magnetismo que me atrai para lá. olho também para o Egito, para a Austrália, para o Peru e tantos outros lugares que eu gostaria de visitar. Gosto muito, também, de olhar para o mar: às vezes penso que gostaria de morar nele. Mas é confirmando o que Simon disse que eu revelo a melhor visão que encontro: adoro olhar o céu.
Sua grandeza, as lindas estrelas que parecem rir, como diz o Pequeno Príncipe, e a linda lua prescindem de descrições. Cada vez que olho o céu tenho mais certeza de que não somos daqui - há um lugar para além dos nossos olhos para o qual todos nós, ainda que secretamente, desejamos ir. O ímã que atrai os nossos olhos para cima, quando vagamos por aí, é a simples tradução do que o nosso coração mais almeja: o céu.
A única maneira de encontrar descanso para as nossas almas é assegurar-lhe de que estaremos lá, de fato. É quando aceitamos o lindo presente oferecido por Deus que os nossos olhos fitam o firmamento com mais que mero desejo - com certeza do seu cumprimento, com esperança, com... Contando os dias, que, embora de espera às vezes curiosa e ansiosa, são maravilhosamente bons.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sábado, enquanto esperava a hora de encontrar painho para o almoço, assisti a um programinha muito curioso, do qual não me lembro o nome, na TV Cultura. O tema era a correria dos tempos modernos. Num desfecho brilhante, inventaram de encenar Hamlet para um grupo de pessoas, em uma praça pública. Ao anúncio da duração do espetáculo, uma mulher se levanta e diz: "Pô, cinco horas? A gente não tem tempo para isso! Será que não dá pra fazer uma versão resumida?"Discussão de atores para lá e para cá, decide-se pela short version. Um homem pega uma caveira, olha e diz: "Ser ou não ser - eis a questão." Muitos aplausos do público satisfeitíssimo. De repente, emerge um homem da multidão: "Isso é inadmissível! Eu sou William Shakespeare e não permito que a minha peça seja encenada assim." Uma das atrizes lhe explica: "Seu William, é o seguinte: hoje em dia a gente não tem mais tempo pra nada. A gente já compra as calças jeans rasgadas, porque não tem tempo de usá-las até o fim, quando a gente chega nos restaurantes, a comida já está pronta. Não podemos perder um segundo. Fazemos de tudo para economizar o nosso tempo." Depois de longa reflexão e admiração, Sr. William solta um "para quê? Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia." E o que ecoou na minha mente e ainda está se reproduzindo, até agora, foi esse "para quê?"
Vindo de Shakespeare, deve ser pensado. O homem escreveu as mais fascinantes histórias, o que deve ter levado um bocado de tempo, e o sucesso é tremendo. Depois de cinco séculos, eu estou aqui, num bloguinho de nada, falando dele. Penso que o melhor que podemos fazer da nossa existência é viver, a cada dia, tentando cumprir aquela frase que Tyco Brahe dizia antes de morrer: let me not seem to have lived in vain. Se a correria do mundo te faz viver em vão, pára! Sorve a tua vida santa e lentamente: é tudo o que tens, é presente.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Dúvidas?

Todo mundo tem perguntas. Melhor, todo mundo tem muitas perguntas. Há tanto nessa existência engraçada que não entendemos! Uma das maiores interrogações que temos é o amor. Quem diabos explicá-lo-ia? Tem pra todo tipo: eros, filos, ágape, mas não tem verso nem prosa que o compreenda e decifre. Eu sei muito pouco do amor, aliás, o que eu sei é mais de ouvir falar. Conheci dois dos seus companheiros: a paixão e a amizade. A primeira dá uma alegria danada! Vontade de pular, uma borboletas que voam na barriga e canções que nunca se acabam, o que se acaba é ela mesma. Depois de um tempo, é que nem aqueles chocolates de passas: ninguém mais agüenta! A amizade é mais constante, mas muito mais rara. Encontrá-la é tarefa muito difícil, porque tem muita gente que usa umas fantasias parecidas com ela. Pra testar se é amigo de verdade ou só de carnaval, a gente precisa ter um banho de problemas, doença ou decepções. Ágape é outra história. Eu nunca achei que isso poderia existir: alguém que me ama sem querer de mim nada. Nesse mundo, então, de incertezas, conhecer o lindo amor de Deus é o sustento que nos basta. Não haveria poemas, livros ou letras que expressassem quão maravilhoso é sentir o amor do Senhor nos cercar. O amor que é surpreendente, imutável, pleno, lindo e perfeito. O amor, amor mesmo, sabe?

[Que sejas tudo o que eu sinto e o que eu penso!]

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

SAUDADES

Com certeza, esse idiotismo do Português já deu muito o que falar! São tantos que o tentam explicar, retalhar, emendar, compreender, e certamente não sou eu quem falará dele melhor. Ontem, voltei do acampamento de crianças, e já sinto saudades das minhas semi-filhas, porque dessa vez eram de Lu (que foi a melhor conselheira, eu devo ressaltar). Cada palavra dita em oração e cada gesto de um cristianismo que se forma é tão lindo, que dá vontade de aplaudi-los sempre, esses pequenos. As brincadeiras, os olhares, os 'obrigada, tia', aqueles inusitados 'tia, você é tão linda' (é, há muita bondade nos olhos infantis), sinto saudades de tudo. Esse sentimento acontece quando algo MUITO BOM nos acontece, quando queremos voltar no tempo e viver tudo de novo, queremos ter os mesmos beijos, abraços, sorrisos, conversas, tudo de novo, e poderíamos viver aqueles momentos infinitas vezes. Engraçado, eu nem queria tanto ir pro acampamento. Perdi duas provas muito importantes no dia, mas foi umas das experiências mais construtivas de acampamento (eu que já fui, sem exagero, a mais de 20) que eu tive. Quando cheguei lá, confesso que a aparência não era assim, e há tantas outras coisas na vida que superestimamos, achamos que é demais, mas, como diz a música: 'as aparências enganam aos que odeiam e aos que amam'. Saudade a gente so sente do que foi muito bom, o que é ruim ou nos machuca, a gente esquece como uma nuvem de fumaça. Ganhei amigos de volta, lembrei-me do meu passado bom, dos meus amigos de verdade, e constatei, mais uma vez, que Deus sempre nos prepara o que é melhor! :D

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Enquanto posso dizer que adoro pingüins!

Ontem, no Centro de Cultura (é assim que chamam o prédio de Zarinha, agora), recebi um papel com as mudanças que a nossa língua sofrerá. Sai um monte de hífen, acento diferencial, trema e até os circunflexos! Hermann Neto é que não deve estar nem um pouco satisfeito: a crase fica! Ainda bem que Maria Valéria Rezende escreveu o Vôo da Guará Vermelha (por sinal, muito bom) antes dessa reforma, porque eu acho que depois dela, nada mais voa em substantivo, ninguêm mais crê, lê, dá nem vê na terceira pessoa do plural, no subjuntivo. Quer dizer, pode-se até dizer que eles leem, mas convenhamos que fica meio capenga. Daqui a uns 15 anos, vão, "mutatis mutandis", chegar dizendo que agora não é /lêêm/ que se pronuncia, mas /lim/, para anglo-saxonizar a fala também! Não quero ser mal interpretada, eu não sou totalmente contra a reforma: as coisas simples são boas, mas é como se quisessem empurrar uma nova língua pra cima de mim. É como uma prótese no dedo mindinho, que embora pequena, significa muito. Já imaginou um diálogo com seus netos?

- Você comprou muitas coisas, minha querida?
- Para Sagui!
- Para Sagui? E quem é essa?
- Não, não escou falando com você, vovó. Estou dizendo Para Sagui.
- Hã?
- Tem um sagui aqui do meu lado.
- Ah! 'pára sagüi'.
- Nossa, vovó. Nem escreve isso por aí, vão pensar que você deu um voo pra assembleia dos milenários. E como andam os textos?
- Ando escrevendo sobre pingüins, descobri coisas novas. Seus irmãos me lêem todos os dias.
- Ô, vovó! 'pingüins', 'lêem'! É quase um museu vivo! Você me diverte!

sábado, 4 de outubro de 2008

Mes routes

'Poursuis ta route
Suis ton chemin
(...)
Jamais ne doute
N'aie peur de rien
(...)
Prépare ton cœur
Ouvre ses portes
Pour que la fleur qui s'y cache, s'éveille'
(Palaprat)

Se eu me levanto bem cedinho de manhã, e vou tentar correr na praia, eu posso chegar lá e encontrar o maior toró, mas também posso ver alguém que fazia tanto tempo, alguém com gosto de sonho esquecido. Qualquer das duas coisas (e sim, eu já vou tentando construir mais uma teoria) me traria surpresa, porque o que eu queria era simplesmente sair de casa, andar, olhar o mar, tomar uma água de coco e voltar. Uma das melhores partes de viver é essa: é sempre diferente do que esperamos. Às vezes pra mal, às vezes pra ótimo. Depois de ler tantas histórias incríveis sobre esses 'Nobels', mártires e até gente comum que passou por um câncer com louvor, sou inclinada a acreditar naquele quebra-cabeça sendo formado, de modo que as coisas más são chutes, e as boas abraços carinhosos que vão levando as circunstâncias da vida para o seu lugar certo, para onde deveriam estar, de acordo com o plano.
E eu penso, também, que a gente tem um quebra-cabeça pra cada situação na vida (já pensou painho, quantos deve ter?). Cada vez que as peças chegam ao seu lugar, ao nosso coração chega a tranqüilidade, que nos invade de tal modo que começamos a sorrir um sorriso pleno, transparente e calmo, que não tem aquele som estridente das gargalhadas forçadas, mas segue bem o eloqüente arauto, como diria Shakespeare, simplesmente porque emana da paz das nossas águas.
Aí vem outro plano, com as peças todas desajeitadas. Mexemos pra lá e pra cá. Nada. Vamos lá e cá, fazemos orçamentos, traçamos metas, por favor papai. Nada. Se você brincar, minha querida, enfiam um Egito ou a Amazônia no meio do seu problema, que agora não tem mais 12, mas 36 pedaços.
Como resolvê-lo fica muito difícil, deixa-o de lado. "Tenta ajeitar o outro, é o seu futuro!" "É. É isso. Há sempre muito mais a ser consertado."
Hoje, quando eu abri aquela pasta em que estava o jogo, engraçado, só havia 12 peças, e só duas fora do lugar. Eu e Mainha cuidamos delas. Sonhos esquecidos não são sonhos abandonados. O gosto de realizá-los é melhor que o suco do TGIF's. Minhas costelas estão doendo: os abraços da vida foram esmagadores.

~

Ah, só um ajoute. Esqueci-me de escrever aqui sobre a linda pregação de Pr. Kerly a que assisti há uma semana. Ele falava sobre Filipenses 4:7, dizendo que parece mesmo improvável que em uma situação adversa você consiga, ao invés de desespero, sentir paz. Não adianta tentar explicar, dizia ele, porque simplesmente, excede todo o entendimento. Era o que eu precisava saber, naquele dia: ninguém iria entender. Mesmo assim, a calmaria feels great.


[Senhor, MUITO OBRIGADA. Eu não esperava. Eu nem tenho palavras!]

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

"Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu tomo alegria!"
(Manuel Bandeira)

Não enveredarei para o 'carpe diem quam minimum credula postero', prometo. Essa máxima latina não é o meu lema de vida: eu acredito muito no amanhã. Além disso, eu não falaria sobre ela. Há muitos pseudo-existencialistas, você deve conhecer uns cinco, que não hesitam em dissertar sobre o 'carpe diem', que nunca estão tristes. Assistiram à sociedade dos poetas mortos, não entenderam nada, acharam a frase bonita e pronto: está assassinado o conhecimento, o espírito crítico de intelecção. Mas também não é nesses indivíduos medíocres que me detenho. Quero falar sobre a alegria que não pressupõe aproveitar o dia desacreditando do amanhã. Alegria é uma sensação boa. É, como diria o tão polêmico panfleto do Pão de Açúcar, 'o que faz você feliz'. Para mim, alegria é dormir assistindo tevê, ir ao cinema de tarde e comer pipoca com Coca-cola, passear na praia com mainha, fazer festa do pijama com itamarzinho, morrer de rir com Carol, Tulipa e Adon (mesmo em aulas de física), ouvir Sinatra e, assumo, BeeGees, ler até a exaustão, Porto de Galinhas, sorvete, escutar sotaques britânicos, e lá vai. Qualquer dessas coisas poderia trazer um sorriso enorme para mim, são meu éter e minha cocaína, se parodiar Bandeira. Mas aquilo que me traz o ar de riso contínuo, a satisfação que está dentro de mim, muitas vezes profunda e silenciosa, é o amor do Céu. Saber que Deus me conhece e cuida de mim, e ver, a cada dia, o tracejado certo de suas linhas, que não são nada tortas como diz o provérbio, ça suffit! :D

"Eu tomo Jesus!"

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

No fim das contas, você acaba aprendendo que os seus sentimentos nem importam muito. Tudo o que acontece dentro de você é como uma nuvem passageira, que se esvanece, muitas vezes por sopros externos, mesmo aquilo que você dizia forte como a morte, que nem naquele livro de Cantares. O que importa mesmo é que depois de cantar 'tudo passa, tudo sempre passará' você recomece. Não pare, não fique chorando, porque não adianta de nada. Simplesmente continue. Guarde as excelentes notícias da tábua de marés de hoje e bote esse barco pra frente, porque o menino que lhe ajudava não quer saber de tempo bom nem ruim, entregou-se a outros barcos. Você, minha querida, é mais forte do que pensa, e mais sabida também. Deixe de besteira, tudo volta ao normal. Virão novos peixes, praias, meninos.
:D

[Ô notícia BOA, Senhor! 9,8! MUITO OBRIGADA!]

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Eu não sei pilotar.

Minha pior viagem de avião foi quando ia para Miami, uma escala em Manaus. O avião não podia descer, por não haver nitidez, e tremia mais que tudo. Em meio à euforia, eu orei, depois comecei a ler uma revista, pra tentar esquecer de tudo. Diante de tudo aquilo, inclusive do medo, a minha única saída era confiar no piloto. Nossas vidas, também, passam por umas turbulências horrorosas, por vezes. Ser cristão, nessas horas, ajuda muito, visto que temos certeza de que Deus está conduzindo o avião da melhor forma. Nessas minhas últimas turbulências, o pior de tudo é não saber onde a aeronave vai parar, ou quem estará lá comigo, quando, enfim, aterrissarmos. Há diferentes destinos, diferentes futuros, escolhas a fazer, decisões a tomar. Desconheço os planos do meu piloto, mas simplesmente sei que Ele escolherá o que for melhor, porque Ele é o melhor piloto de todos, que bondosamente me disse que controlaria todos os meus vôos, e já me garantiu, também, o destino final. Eu, que nunca aprendi e nunca vou saber pilotar vidas, contento-me em orar e ler minhas revistinhas, principalmente sobre pesca. Ando muito interessada em peixes, ultimamente. Deve ser um gene dominante.

~

[Dear Father, You are the only one who knows my heart. Help me keep on trusting Your will. Everything I have is Yours. If you gave me, feel free to take away. I love You, I will praise you ANYWAY, ever and forever.]

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Antônio Conselheiro foi um biruta que saiu andando pelos sertões, depois de duas decepções amorosas, há quem diga, lendo a Bíblia, pregando que o sertão ia virar mar. Os sertanejos seguiam-no felizes, por livre vontade. Ele não convidava ninguém. Andava, o povo ia atrás. Chegando na fazenda do Belo Monte, montou acampamento, e seus seguidores construíram uma cidade, de uns 25 mil habitantes. As pessoas, desesperadas, morrendo de fome, pagando elevados impostos, viam em Conselheiro um refúgio, uma segurança. Quando as expedições do exército brasileiro vinham enfrentar os canudenses, estes se jogavam contra os soldados armados, sem medo. Eram bravíssimos. Euclides da Cunha, em sua história de Canudos, diz que o sertanejo é, antes de tudo, um forte. O que me impressiona é a disposição que eles tinham para lutar, arriscando suas próprias vidas, porque o Belo Monte era a única coisa que eles tinham na vida. Tenho confrontado minhas amigas com a seguinte frase: "você, por acaso, tem alguma coisa?", e as brincadeiras já brotam aos montes. A resposta, eu mesma dou, é: "não, você não tem nada." Na verdade, apesar de não sermos donos de muita coisa, nós, cristãos, somos felizes, paradoxalmente, por ser propriedade de alguém. Entregamos nossa vida a Cristo, e Ele se torna o nosso tesouro. Mas, ao ver nosso comportamento e compará-lo com o dos canudenses, penso em quão fracos somos. Não nos dispomos a lutar por Cristo, que, ao contrário da esperança de Canudos, dá-nos uma certeza eterna. Admira-me quem luta pelo que tem. É, para mim, formidável, o exemplo dos missionários que se jogam contra os exércitos inimigos, para compartilhar o amor de Deus. Eu também gosto de lutar, todo mundo gosta. O problema é que, muitas vezes, lutamos pelo que não temos, ou pelo que achamos que temos: lutamos pelas nossas conjecturas, ao invés de batalhar pela única coisa que realmente vale a pena. É necessário mudar. Como disse Alexandre ao seu soldado, é mister escolher: muda-se a atitude ou o nome.

domingo, 7 de setembro de 2008

"Venha!"

Eu me lembro muito bem da primeira vez que escutei essa história da águia. Nunca entendia quando as pessoas diziam que voaríamos, no Senhor, com asas como as águias. Na verdade, essas aves tão charmosas e ágeis soltam os seus filhos de alturas enormes para que aprendam a voar. Quando, porém, o filhote está quase se esborrachando no chão, a mamãe vem, e levanta ele de novo. E a cena se repete, incontáveis vezes, até que o baby-águia finalmente aprenda. Quando os discípulos estavam no meio de uma tempestade, Jesus chegou, conta a Bíblia, andando sobre as águas. Pedro ficou impressionado, e, vendo isso, Jesus simplesmente disse: "Venha". Do mesmo modo que Jesus chamou a Pedro, tão simples e docemente, Ele nos convida, inúmeras vezes, a andar sobre as águas. Pedro, entretanto, encenando, indubitavelmente, o papel de todos nós, duvidou. Nosso maior erro, enquando mini-seres é pensar que a graça e a miserivórdia de Deus podem se comparar às nossas virtudes e à nossa limitada capacidade. Deus, realmente, como diz a música desse Nani-cara que está na boca de todo mundo agora, vai além do que podemos ver e faz o que não podemos fazer. Quando eles voltaram pro barco, pra terminar essa história, Jesus acalmou a tempestade, e os discípulos, mais uma vez, reconheceram que Ele era o filho de Deus. Precisamos, sempre mais, aceitar o convite do Senhor. Precisamos voar sob as Suas asas, sabendo que Ele sempre nos levantará; precisamos andar sobre as águas, sabendo que, mesmo que afundemos, a Sua mão nos trará de volta à superfície, ou seja, precisamos confiar, confiar, confiar. Isso aprendido, adquirimos a certeza de que sempre, depois de um susto, vem o vôo nas alturas, depois do choro, vem a alegria, depois da tempestade, vem a bonança. Deus fala conosco sempre, e a Sua voz é nítida, até mesmo na tormenta. Ele diz: "Venha, venha. Não tema!"

~

Ah, Senhor! Muito obrigada pelo refúgio e porto seguro que o Senhor é na minha vida. Muito obrigada pelas preciosas lições que você me ensina nas adversidades. Muito obrigada pela Sua mão que me guia sempre, e, acima de tudo, muito obrigada por ser o melhor amigo que alguém poderia ter! Eu O amo! Tudo o que o Senhor tem feito na minha vida é, no mínimo, muito lindo.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

"Segure o peixe"

Estou lendo um livro de Ernest Hemingway, chamado "O Velho e o Mar". Vivo a parte do livro que estou lendo. O velho, saindo ao mar para uma pescaria, tem o objetivo de conseguir o melhor peixe, não apenas os peixinhos, que com certeza conseguiria. Não quer certezas, quer desafios. O menino, que o ajudava, teve que partir para outro barco (e é assim mesmo, a vida. Só dividimos barcos com quem compartilha dos nossos objetivos). Ele, depois de muito tempo, consegue achar um peixe, mas luta por mais de um dia, porque o peixe carrega o seu barco. Ainda não sei como termina. Pela sua determinação, deverá conseguir. Ele diz, para si mesmo: "Segure o peixe. Não se desconcentre nem um minuto". Teve que abrir mão de muitas coisas pelo peixe, e comeu durante o dia só pela necessidade do seu corpo; não tinha fome. Também eu tenho um peixe, e dói abrir mão de qualquer coisa por ele. Sei que em quatro meses, minha pescaria termina. Sei que o meu barco nunca estará sozinho e sei que nunca terei essa sensação de solidão, porque quem me guia e dá forças é muito mais forte que tudo.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Beyond the eye

Todo atleta tem que superar obstáculos, todo bom aluno tenta alçar novos limites, todo mundo passa por testes. E quando sucedemos, não há nada que pague a sensação de vitória. Quando, porém, falhamos, lágrimas rolam, se não nos olhos, jorram de nossos corações (tal qual o viúvo de Garcia Márquez). É muito bom que exista alguém capaz de nos mostrar os erros, mas também de nos incentivar a reerguer-nos. Esta é a parte mais árdua. É quando a gente monta num pau-de-arara e xinga a terra, que a gente mais precisa de quem nos mostre o tanto de sustento que a mesma alma nos deu. Os fracassos ofuscam as nossas qualidades, de tal maneira que é impossível ao nosso surrado coração ver que somos algo além dos nossos erros. E há quem ainda complete a humilhação, nos fazendo sentir menos que o pó que somos, há quem não tente nos mostrar que temos valor. Além dos erros, além dos fracassos, mais além, além dos olhos, escondemos verdadeiros tesouros. São eles que, muitas vezes, conseguem nos fazer elogiar a terra pisoteada pelos outros. Quando não tem ninguém que faça este serviço, nós mesmos temos que arranjar força pra abrir os baús e, enfim, encontrar-nos.


Minha terra, além dos olhos, é preciosa. E eu sei disso muito bem.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Talvez seja a dedicação que sinto de sua parte, ou o fato de querer sempre conversar comigo, conseguir me compreender além do que as minhas palavras podem dizer. Quiçá seja porque quando estamos juntos, sinto paz, ou, simplesmente, porque emana amor. Ele tem me dado tantos presentes, mas, de certo, não é essa a resposta. Quero dizer, sou muito grata, principalmente pelo melhor presente de todos os tempos, mas não é só isso. Pode ser porque fez um rebuliço tremendo na minha vida e mudou tudo - até o que eu colocava na prateleira mais alta, que era pra ninguém mexer. Além disso, um bom motivo seria a confiança que coloca no meu coração, com a qual eu sei que dava pra enfrentar até um Golias ou um batalhão inteiro. Às vezes, porém, fico pensando que deve ser puramente porque tudo o que Ele faz é tão lindo. Não é lindo o céu? Lindo daqueles lindos que dá vontade de ficar olhando pra sempre? É, é sim. Então, deve ser isso. Mas eu não poderia escrever essa certeza em pedra, porque, a cada dia, na areia da minha vida, Deus escreve mais e mais motivos para que eu o ame. E, embora eu diga, escritas na areia, são razões inapagáveis.

"Alguma coisa, contudo, sempre me atrai de volta para Deus. O quê? Nem eu sei." (Yancey)

domingo, 13 de julho de 2008

santos que se abraçam

No meio dessas frases feitas que se dizem por aí, tem a de que "o meu santo não bateu com o de alguém". Embora não tenhamos santos particulares, é certo que todo mundo já teve essa sensação. E sei lá de onde vem, mas geralmente funciona. Tem gente que, quando a gente conhece, dá vontade de abraçar e levar pra casa pra ter pra sempre. Há outras pessoas, entretanto, que carregam a falsidade e a inveja no olhar, e logo antipatizamos. É dessas "batidas de santo" que nasce a cumplicidade entre as pessoas. É porque um dia, nessa estrada engraçada que é a vida, você acha empatia em alguém que surge amizade e afeto e confiança. Quem confia é porque já abraçou a alma do outro, seja para simplesmente sentir ou deixar-se ser segurado nos braços. E quem quebra a confiança de alguém deveria ser preso. Muito muito muito preso, porque confiança deve crescer unidirecionalmente: só sendo construída. É, ainda, quando as pessoas se gostam à primeira vista, que "reconhecem os amigos", como diz Vinícius de Morais (e eu acredito que os reconhecemos, acredito sim). Meu santo tem batido com o de muita gente, nesses últimos dias. Ou melhor, tem se abraçado.
~
A vida é mesmo, apesar de todos os poréns, surpreendente.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Feel or Fall

Cair é uma sensação terrível. Principalmente por ser frustrante. Imagine só: você corre, corre, corre e, a um passo do objetivo, leva uma queda. Pior ainda é quando caímos não nas armadilhas que os outros colocam ou em acidentes de percurso, mas quando tropeçamos nas correntes da nossa própria alma. De certo, achamo-nos muito donos do nosso próprio destino. Queremos decidir tudo, pensamos saber qual é o melhor. Além disso, procuramos nos proteger de qualquer grão de ameaça que se achegue a nós, ainda que embutido nesse grão, haja um pólen de amor. Como diria Drummond, esquivando-nos do sofrimento, acabamos perdendo também a felicidade. É importantíssimo que nos defendamos, e que evitemos cair [mais importante ainda é que aprendamos a nos levantar das quedas e que confiemos cada vez menos em nossa construção de destino e cada vez mais nas cordas que o Senhor nos estende]. Mas é também imprescindível que escolhamos sentir, porque além de matéria e razão, somos um emaranhado complexo de sentimentos. São eles o doce da nossa doce vida.

(So, between feel and fall, one can choose both)

domingo, 22 de junho de 2008

{prayer}

Querido Deus,
O Senhor é muito amado por mim. Eu nunca vou me esquecer de como me salvou e me livrou, fazendo com que eu entendesse o sacrifício de Jesus. Eu nunca poderei esquecer, Senhor, da minha teimosia e da Sua perseverança. Muito obrigada por me convencer de uma forma racional. Obrigada, também, pelo Seu cuidado e amizade. Obrigada porque sei que o Senhor está comigo e por ter falado claramente comigo tantas vezes.
Eu reconheço que preciso da Sua orientação mais do que tudo. Por favor, perdoe todas as coisas erradas que eu tenho feito. Obrigada por ter me dado consciência de muitas delas ontem (foi tão bom poder ouvir-te de novo); foi como aquele grito para eu não cair do penhasco. Eu quero poder estar debaixo da Sua proteção, bênção e vontade. Sei que você sabe o que é melhor para mim.
Eu quero ser cada vez mais Sua, Senhor.
Eu Te amo muito mais que tudo, MEU QUERIDO PAI.

"Lord, You catch me when I'm falling, and You've told me who I am: I am Yours!"

segunda-feira, 9 de junho de 2008

"O amor nem sempre chega em papel cor-de-rosa ou com pequenos corações vermelhos. Nem sempre chega num arranjo perfeito de orquídeas. O amor chega, às vezes, em embalagens surpreendentes. O amor - amor real - chega talvez na varanda da sua vida de um modo inesperado ou que você não consegue reconhecer de imediato. Precisa ter olhos abertos para vê-lo... e recebê-lo. Ele pode vir numa lágrima de um pai, geralmente reservada. Ou no abraço espontâneo e desajeitado de um filho adolescente. Ou no desenho de uma menininha feito só pra você. Ou na disposição silenciosa de um amigo de colocar seu ombro sob o peso excessivo que você carrega. Ou na cruz solitária, coberta de sangue, numa sexta-feira sombria em algum lugar fora das portas da cidade. O amor nem sempre parece com o que você espera que pareça."
(Ron Mehl - The Ten(der) Commandments)

Lindo, não?

domingo, 8 de junho de 2008

intramonologue

Não. Não. Medo. Arriscar? Perguntar. Não. Não. Não. Não. Está louca? Claro que não! Decidir. Sim. Insegurança. Felicidade. Alegria. Risos. Brigas. Besteiras. Perdões. Beijos. Abraços. 'Segure a minha mão'. Segurança. Certeza. Amor.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Subjetividade

Hoje foi um dia comum: aulas pela manhã, descanso depois do almoço, estudo, estudo e estudo. Entre um estudo e outro, Yago ligou para me dizer que estava passando na televisão o filme "Quando Nietzsche Chorou", baseado no livro de mesmo nome, que li recentemente. Parei por uma hora (peguei o filme pela metade) e assisti-lhe. Nietszche era mesmo meio louco, como diz a maioria das pessoas, mesmo assim, pude lembrar-me das proposições inteligentes feitas por esse filósofo (deduzidas, é claro, pelo autor do livro). Em uma das cenas a que assisti hoje, ele dizia para o Dr. Breuer: "Você viveu a vida? Ou foi vivido por ela? Quem escolheu o seu destino?". O médico, honesto, olha para ele e diz: "O meu destino estava lá. Foi como um acidente."
Luto, todos os dias, para que o meu destino também não seja um acidente. Sei que Deus tem planos para mim, mas refiro-me à parte do futuro que está ao meu alcance. Ficar sentada de braços cruzados poderia me levar a algum lugar, talvez, mas, no presente, o estudo é a única coisa que vejo poder me dar alguma escolha. Sei que é a partir desse esforço de agora que as portas podem se abrir, e não me refiro ao lado financeiro nem social das coisas. Felizmente, nunca precisei ter essa preocupação (nunca fui rica, também). Estudo, como diria Humberto (a propósito, tenho detestado suas aulas, ultimamente) "pelo simples prazer de aprender". Além disso, fui influenciada. Não há um dia que eu chegue em casa em que meus pais não estão lendo alguma coisa. Minha mãe, já me convenci, não pára mais de estudar. E (confesso), embora não tenha muita vaidade social, sou vaidosíssima intelectualmente. Penso que as mentes devem ser cultivadas à exaustão - a nós, foi dada a capacidade.
Em outra parte do filme, Nietzsche perguntava que faria o médico se a vida fosse como uma ampulheta, que se repetisse inúmeras vezes, exatamente iguais à primeira. Pensei, novamente. Para ser honesta, pensei que viveria muitas aventuras, viajaria, e me veio à cabeça aquele painel de primavera eterna. Depois, pensei que amo a minha vida, just the way it is, e que se fosse vivê-la mais mil vezes, adoraria vivê-la assim mesmo. Acho que não importa o que se faça, mas importa encontrar satisfação no que se faz, e eu encontro. E como encontro!
Outro fato interessante foi que, depois de minhas células estarem preto-e-brancas e eu não conseguir mais estudar nada (sempre tenho, nos finais dos dias, essa vontade de parar), entrei no meu banheiro e, no espelho, além do casal de girafas que tenho, e da minha imagem (que se transforma tanto), havia, em letras infantis: "Love you, dude!" O mais fantástico de Itamarzinho é que ele consegue me mostrar, da maneira mais simples e inofensiva, o que realmente importa. Porque entre meus pensamentos, impressões, estudos e almejos, o que realmente me faz satisfeita é saber que sou amada e que tal amor independe de minhas conquistas.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Troca de Papéis

Dizemos tantas coisas, que nem paramos para pensar sobre o seu significado. Sei que ainda preciso aprender muito de mainha sobre o preto no branco, mas me divirto pensando no porquê das coisas (tem vezes que penso tanto, que, de repente, paro percebo que estou dentro desse corpo mesmo; viajo nas idéias, pra depois ver que sou simples matéria). Anyways, hoje o que me ficou na cabeça foi "não dá para agradar gregos e troianos". A vida nos traz inúmeras faces e escolhas. O tempo nos ensina que é preciso ter cautela; a sabedoria nos diz que é mister moderação para tudo. Dificilmente temos a mesma oportunidade de novo. Agora que estudo probabilidade, diria que é uma em mil trezentos e oitenta e cinco. Talvez mais (não sou boa de contas).
Os troianos, entre o Egeu e aquele outro mar cujo nome não me recordo agora, controlavam o comércio. Andavam bem demais, os caras. Uma civilização estabilizada, impunham seus limites, mas não tinham um exército muito forte. Um dia, alguém de lá resolveu se apaixonar (essa bobagem acontece desde sempre, não é mesmo?), e o tal de Páris foi atrás do seu amor; penso que tenham sido felizes. Menelau, que suponho já nem gostava mais da mulher, não se conformou. Queria acabar com Páris. Mas Helena não era o motivo principal: havia tanto por trás, que a coitada nem imaginava, eu acho. Páris não, era bobo para o amor, mas enxergava o que acontecia. Houve disputas, e os troianos vinham em desvantagem. "Os gregos nos mandaram um cavalo! Vejam só, a guerra acabou!" - é o que devem ter gritado os pobres soldados, sem saber que o pior começava ali.
Em fazendo essa análise, vejo quão sábia é aquela expressão a que me referi no início. Há, em minha vida também, alguns gregos. Umas pessoas gregas, uns sentimentos gregos...
Entre gregos e troianos, é escolher contentar o que nos faz bem. Afinal, não temos todo o tempo do mundo, nem todas as chances.

~

"A vida passa num instante"
-Oswaldo Montenegro

terça-feira, 20 de maio de 2008

É-me nítida ainda, na memória, uma situação ocorrida um dia desses. Discutíamos, no colégio, a violência (sim, entre todas as brincadeiras, ainda nos resta tempo para pensar a humanidade). Alguém repetiu uma frase que lemos em todos os livros de auto-ajuda: "O ódio não leva a nada". Minha amiga Talita, que tem os comentários mais inusitados soltou: "Leva a guerras". De fato, sentimentos negativos podem ter repercussões imensas. Hitler brigou porque queria aumentar sua influência, Bush luta porque quer o melhor para a sua nação (não estou aqui, defendendo nenhum deles, que fique claríssimo - usaram meios indecentes), o Japão, na Segunda Guerra, lutava puramente por orgulho, enquanto muitos outros montavam seus exércitos só para se defender, porque se sentiam ameaçados. Eu acredito nas batalhas, embora digam que ambas as partes saem perdendo de qualquer competição. Creio que toda luta é válida, porque nos acostuma os músculos, a mente ou o espírito a serem fortes. Não obstante, se as motivações rancorosas forem o sentido do conflito, as partes podem lutar até a morte, a vencedora será a raiva. Ela não só derrota, como também aprisiona as pessoas perpetuamente. A única maneira de vencê-la é enquanto é jovem, ainda. Pequena, é uma guerreira fraca.
~
O amor não. Perde umas guerrinhas aqui, outras ali, mas por mais jovem que seja, é sempre muito poderoso. É o meu guerreiro preferido porque comanda um batalhão de soldados que cuidam da alma: o perdão, a segurança, o conforto, o afeto, and so on.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Waves, Talvez.

Dizem por aí que amamos aquilo com que nos identificamos, apaixonamo-nos por aquilo que uma parte de nós quer ser. Quem me conhece sabe como eu amo o mar e que, sempre que tem companhia, deixo sem hesitar a academia por uma caminhada, só para vê-lo (é tão lindo, não?). Perguntam-me se gosto de praia: digo não, mas o mar sim, me fascina. Baudelaire dizia que isso é coisa de homem livre, gostar do mar. Não sei. Sou livre ideologicamente, sim, por Jesus, mas ainda tão presa às minha dúvidas e planos, que não sei se é o meu caso. De qualquer forma, o mar é, para mim, um reflexo da vida, e creio que seria o melhor praticante da teoria agostiniana de ensinar sem palavras. Passei a minha (ainda curta) vida viajando de praia em praia, coisa de mainha - foi dela a herança, indubitavelmente. Em todas as viagens, paramos e olhamos as ondas, e, de praxe, mamãe canta "tudo muda o tempo todo no mundo". Tais momentos, guardo-os todos em meu coração, e são tão preciosos; minha mãe é sábia. Mas, voltemos ao mar. Acredito que as pessoas se assemelhem às praias. Sei lá, não há razão em tudo o que escrevo. Umas pessoas são calmas, outras frias; umas são conturbadas, outras fervorosas, e mil comparações se seguem... A praia que amei, faz uns quatro anos, mas nunca esqueci: Praia do Sancho. A primeira coisa de que me lembro é do longo caminho até chegar lá: nem todo mundo conseguiu, muitos voltaram no meio do caminho. Aquela praia não era pra todos, eles não a entenderiam. Na costa, não tinha muita gente, no fundo, menos ainda. A água era tão gelada no raso, que quase ninguém queria entrar. Eu e papai entramos, e vimos que, mais ao fundo, era uma água acolhedora. Além disso, eram calmas aquelas águas. Vendo-as, era impossível prever tudo o que havia lá dentro. Sim, eram imprevisíveis aquelas águas, também. Vez por outra, as ondas se tornavam violentas, e ninguém sabia por que. Sei que essa força varria o mar, talvez o tornasse mais limpo. Acho ainda, que de vez em quando, como todos os mares, recuava - não estava pra ninguém. Gostei daquela praia. E há tantos turistas, que vão e vêm, e poucos a entendem. Ela, entretanto, permanece bela. Quem sabe queira ser entendida? Quem sabe goste de ser um mistério? Quem? Quem sabe?
Ninguém. Cada um só sabe de si - basta.

~

"Tudo o que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo. Tudo muda o tempo todo no mundo. Não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo agora. Há TANTA vida lá fora. (...)"

sábado, 10 de maio de 2008

Dia das Mães

As mães, coitadas, perderam tantas noites de sono, trocaram fraldas, insistiram para que comêssemos, compraram roupas, vibraram nas nossas festinhas, se desesperaram quando caímos. E no ABC? Choraram como crianças. A minha até de palhaço já se vestiu por mim (e eu nunca me esqueci)! Naquelas contas de divisão que pareciam tão difíceis, procuraram manter a paciência e nos ensinar. Também quiseram corrigir tudo nas nossas vidas, até as vírgulas. Com o tempo, percebem que cada um tem que aprender a pontuar sua existência, e viram fãs da nossa fluência ortográfica em viver (mas controlam sempre o corretivo - e precisamos mesmo, por vezes). A farda do colégio, de bermuda, virou calça, aí elas percebem que estamos crescendo. Nos meninos, nasce um bigode ralo; as meninas compram fichários, mas elas insistem em nos chamar "bebês", porque sempre seremos seus filhotinhos, não importa a idade. Como quem vai aprender a andar de patins, elas seguram a nossa mão tão forte no começo, depois vão afrouxando e ficam gritando para nos dar coragem; de todo jeito, nos seguram a cada queda. Dizem que, depois que se tem filhos, nunca mais se tem uma noite tranquila de sono. Agradeço à minha mainha por abrir mão de suas tranquilas noites de sono, para que eu pudesse ter uma vida tão descansada assim.

domingo, 13 de abril de 2008

Criaturículas

Amava-os tanto, queria que eles entendessem o porquê, mas eles viviam em um grãozinho de areia, e nunca o entenderiam por completo. Às vezes, penso que achava engraçado ver aquelas criaturas menores que um grão pensando que sabiam ou eram alguma coisa, correndo apressadas, atrasadas, ocupadas, como se não soubessem que tudo estava sob controle (e não sabiam mesmo). Tinha-lhes dado olhos, mas a maioria deles crescia cega, nem viam aqueles lírios no campo (e achava-os singularmente lindos) que, apesar de não trabalharem, sobreviviam melhor que muita gente; tinham ouvidos, mas raros eram o que escutavam as coisas necessárias. Outras vezes, sentia orgulho deles, apesar de muitos o negligenciarem. Sentia orgulho de tê-los criado. E era tão grande. O pó de seus pés era como as nuvens do mundo das suas "criaturículas". Tinha alguns ajudantes, que também não compreendiam que ele amasse tanto aqueles "minúsculos pontinhos" - e era como esses anjos chamavam os homens, vez por outra repreendidos, já que ele não gostava que os chamassem assim, porque eram a sua imagem; eram como seu rosto refletido num rio. Ah, e a imensidão dos rios não era nada, diante da sua grandeza. Tentava tanto mostrar-lhes esse amor, e tudo o que mais queria era que suas criaturas entendessem que o mister é aceitar seu amor, não compreendê-lo. Mas tinha-lhes dado também inteligência, sabedoria. Para alguns poucos, até espírito crítico. Queria que o amassem, também, mas não com emoções: com racionalidade - era inteligível, embora não de todo compreensível.
(...)
E faz festas de arromba, sempre que alguém raciocina e escolhe aceitar seu amor. Faz festas e celebra, porque os ama.

~

(Eu nunca entenderei, Senhor. Não mereço, mas preciso do Seu amor! Muito obrigada, muito obrigada por tudo o que o Senhor é!)

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Há de se ter cuidado com tudo o que se diz. Nossas palavras são compromissos selados, que não voltam atrás. Pode-se consertar de um lado, querer emendar do outro, mas não há como retirar o que se diz; não existe maneira de uma bala retornar à arma, as flechas não voltam aos arcos.
Os homens da minha família, com sua forte influência sertaneja, sempre disseram que tudo o que um homem tem é a sua palavra. E o afirmam com tal firmeza, de modo que ouvi-los é respeitá-los. Cresci vendo todas as promessas que me foram feitas realizarem-se, mesmo que fosse um sorvete ou uma volta no shopping - que eu tanto adorava, lembro-me como se fora ontem (e não fora mesmo?). Sempre foram intolerantes, nunca descumpriram uma promessa. Mainha, que também é uma "mulher macho", como dizem por aqui com as mulheres fortes, nunca faltou com a palavra. É lógico que foram realistas, só prometeram o que cumpririam.
Quando lembro disso, lembro também que os admiro um bocado, admiro sua honra, mas penso que devo ter cautela com as promessas que faço. É tolice prometer amar alguém para sempre, por exemplo. É, também, estúpido, prometer algo para daqui a anos, quando não temos o mínimo controle sobre o amanhã.
Devemos, sim, falar, dizer, prometer, expressar-nos. Do mesmo modo, devemos lançar os dardos com precisão: nem sempre podemos nos explicar, quase nunca há outra chance.

(Não sei se amar-te-ei para sempre, mas prometo amar-te hoje, é o que posso cumprir)

segunda-feira, 31 de março de 2008

Era sua, sua e só sua. Não queria ser de mais ninguém, porque achava que para ser de mais alguém tinha que se dividir. E se quebrassem uma metade sua? Não, não. Não seria de ninguém e ponto. O tempo passou, e quando o tempo passa, forma incontáveis ironias. Resolveu dividir-se. Foi bem cuidada, parecia um lustre importado. Ficava na sala, era polida e elogiada, mas um dia soltaram suas cordas - caiu, quebrou-se. O único que dignou-se a vir em seu socorro foi o tempo; aquele que a havia metido na emboscada - que ironia, não? O tempo é assim. Sabia que sofreria, mas não imaginava que demoraria tanto para que o tecido conjuntivo da sua alma se regenerasse, muito menos para que se fortalecesse. Agora era forte, e manteria sua decisão inicial. Não se dividiria - jamais! "Nunca mais!", gritava fortemente, assumindo sua fragilidade. Era mais frágil ainda tentando prever o que o tempo traria. Surpreendeu-se. Quis negar. Quis afirmar-se. Manteve sua decisão: não dividir-se-ia. Dividir-se dói. Entregou-se.
(...)

E quando beijou-a, soube que ela não se dividira: era dele.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Rascunhos

O amor é um bem.
O amor é o bem maior do mundo.
Não, incoerente.
A liberdade é o bem maior do mundo.
Isso não saiu de mim, já ouvi antes.
Ah, Jorge Amado.
De novo.
(...)
Amar é necessário.
Amar é uma necessidade adorável.
Por sinal.
Amar é uma necessidade. Adorável, por sinal.
Bom.
(...)
Amar às vezes dói.
As feridas também.
O amor é mais ou menos como uma ferida.
Dramático.
Mas verdade.
(...)
A ferida é uma necessidade adorável?
Nem por sinal.
Contradições.
É.
(...)
O amor é um paradoxo.
Também sou.
Quero ser de amor.
(...)

(Yes, a particle of love!)

quarta-feira, 26 de março de 2008

Acordou como todos os dias, inundada daquele sentimento matinal; nem feliz nem nostálgica: grata. Mas por quê? Sei lá, por respirar. Levantou-se, não tomou café - não dava tempo. Correu. Mas correr para quê? Não precisava chegar a lugar algum. Aliás, penso que corria para confundir seus pensamentos. Há dias, nem ela sabia sobre o que pensava. Sim, sempre soube quem era, mas nunca se entendera. Passou duas ruas e viu um homem (que, meu Deus, era um bicho - Bandeira diria, se estivesse aqui escrevendo) que catava comida do lixo. Teve um ímpeto de ajudá-lo, só que estava atrasada (mas para quê? eu me pergunto). Pensou no homem o dia inteiro, chegou a pedir aos céus por ele. Lembrou-se, já à noite, que o homem cantava. Imaginou que se chovesse, ele dançaria na chuva, e riu. Que pensamento bobo! E então descobriu que se atrasara - e será que tinha retorno? Será que agora poderia acelerar e recuperar o tempo perdido? Preocupou-se. Ou melhor, pós-ocupou-se. Atrasara-se para a consciência. Era feliz e não sabia. Descobriu que a felicidade é palpável, e tocou-a.

terça-feira, 25 de março de 2008

Tempos Confusos

- Dize-me: que farias? Tentarias, amarias, arriscarias ou fugirias? Suspirarias, abraçarias, segurarias ou correrias? Dize-me, ainda, que farás?
- Digo-te: tentaria, amaria, arriscaria, suspiraria, abraçaria e seguraria. Digo-te, ainda, fugirei, correrei.
- Não desta vez.
- Desta vez não vou.
- Não irias?
- Não vou, fico. Aprendi a muito custo que não se corre do amor.
~

(Ele escreve sobre os tempos verbais)

segunda-feira, 24 de março de 2008

Desabafo.

Não quero que me entendam. Tem dias em que as palavras teimam em sair. Ou as idéias não saem da nossa cabeça. Hoje eu tinha que escrever sobre "educação", para entregar a Zarinha. Educação, um tema tão trivial. Coloquei na cabeça que queria dizer que os professores, no Brasil, têm de se especializar em sindicalismo (o que, de fato, acho absurdo). Mas por que não falar de outro aspecto? Tentei, juro. Entretanto, mesmo sabendo que levarei, na melhor das hipóteses, um conceito "regular" pela redação, sinto-me satisfeita por colocar a idéia que eu tive. Essas idéias loucas são como o vento. Há quem sinta-as, e há quem se acostume com elas. As minhas hoje, parecem um vendaval. Quero apenas, ser entendida por mim mesma,

terça-feira, 18 de março de 2008

É sempre bom poder deixar tudo, sair, e ver o que existe aí fora, nem que seja aqui do lado. Sempre gostei muito de viajar, e também, na minha modesta opinião - eu que nada sei da vida - viajar, ler e aprender outras línguas são aquilo que nos enriquece culturalmente. Desde pequena, vejo papai rodar o mundo e mainha se lascar de estudar - e adorar fazê-lo; tenho, portanto, as melhores influências, e sou grata por isso, embora falte muito pra saber tanto quanto eles. Enfim, sempre que po$$ível, estamos na estrada. Além de conhecer lugares, pessoas e sotaques diferentes, o melhor de viajar é ter saudades (e eu adoro tê-las), mas dessa vez, sei que o melhor será matá-las, ao fim. Há muito do que sentir falta :)

sexta-feira, 14 de março de 2008

Só faltava essa!

http://www.cbl.org.br/content.php?recid=3749

Krásis. Do grego: adição, fusão. Junção de duas vogais “a”, herdada deste idioma para o Português, como tantas outras palavras. Incorporada ao quotidiano e às ações triviais. Comum, normal para nós, brasileiros. Uma particularidade da língua, certamente; todavia, passível de aprendizagem, como tudo o que é conhecido até agora.
A proposta de Hermann exclui a existência de itens mais trabalhosos para aprender-se que a crase, os quais são compreendidos por nós, através do estudo. Sempre que se tratar de idiomas, haverá dificuldades. Todos eles necessitam de esforço e dedicação, e, até hoje, nunca presenciei pessoas alcançando êxito descartando dificuldades, o que é, puramente, o que a proposta do deputado João Hermann Neto almeja.
Ao mencionar que o acento grave, usado para designar a crase, “humilha as pessoas”, creio que o deputado esqueceu por um momento do que realmente faz dos indivíduos menosprezados. Fome, ausência de oportunidades, segregação social, racismo; será que ele já ouviu falar nisso? Um grande percentual da nossa população vive em condições subumanas, indignas; estes homens e mulheres, ingenuamente, acreditam no poder de transformação do nosso país, e elegem governantes que a possam realizar. Entretanto, parece-me que o deputado, ao invés de interessar-se por medidas educacionais que poderiam ajudar as parcelas menos favorecidas, está preocupado com uma minoria letrada que acha inútil o uso da crase.
Além de tudo, as entrelinhas da proposta mostram que esse “país de todos” não quer que todos alcancem um nível intelectual superior, mas quer rebaixar nossa gramática ao nível dos iletrados. De qualquer forma, se algum dia a crase tiver que sair do nosso uso diário (como os acentos diferenciais, para a simplificação do idioma), que os gramáticos optem por retirá-la, se o julgarem necessário; não creio que nossas vidas serão afetadas gravemente por isso, muito menos que devemos deixar de lidar com a conjuntura real de subdesenvolvimento em que nos encontramos para discutir assuntos tão frívolos. Homens eleitos com o propósito de serem paradigmas para o país, tornam-se, ao meu ver, uma vergonha para a Nação; não consigo entender como conseguem se preocupar em tirar um acento da língua, enquanto existem crianças morrendo de fome, sem esperança de futuro.
O próprio vagabundo do Hermann devia pegar a porcaria da gramática e estudar as duas páginas do assunto de crase. Ah, esqueço-me. É muito esforço pra quem está acostumado a fazer nada e ganhar os salários mais altos do país.
Será que dá para tirar os políticos inúteis em vez da crase?