segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sábado, enquanto esperava a hora de encontrar painho para o almoço, assisti a um programinha muito curioso, do qual não me lembro o nome, na TV Cultura. O tema era a correria dos tempos modernos. Num desfecho brilhante, inventaram de encenar Hamlet para um grupo de pessoas, em uma praça pública. Ao anúncio da duração do espetáculo, uma mulher se levanta e diz: "Pô, cinco horas? A gente não tem tempo para isso! Será que não dá pra fazer uma versão resumida?"Discussão de atores para lá e para cá, decide-se pela short version. Um homem pega uma caveira, olha e diz: "Ser ou não ser - eis a questão." Muitos aplausos do público satisfeitíssimo. De repente, emerge um homem da multidão: "Isso é inadmissível! Eu sou William Shakespeare e não permito que a minha peça seja encenada assim." Uma das atrizes lhe explica: "Seu William, é o seguinte: hoje em dia a gente não tem mais tempo pra nada. A gente já compra as calças jeans rasgadas, porque não tem tempo de usá-las até o fim, quando a gente chega nos restaurantes, a comida já está pronta. Não podemos perder um segundo. Fazemos de tudo para economizar o nosso tempo." Depois de longa reflexão e admiração, Sr. William solta um "para quê? Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia." E o que ecoou na minha mente e ainda está se reproduzindo, até agora, foi esse "para quê?"
Vindo de Shakespeare, deve ser pensado. O homem escreveu as mais fascinantes histórias, o que deve ter levado um bocado de tempo, e o sucesso é tremendo. Depois de cinco séculos, eu estou aqui, num bloguinho de nada, falando dele. Penso que o melhor que podemos fazer da nossa existência é viver, a cada dia, tentando cumprir aquela frase que Tyco Brahe dizia antes de morrer: let me not seem to have lived in vain. Se a correria do mundo te faz viver em vão, pára! Sorve a tua vida santa e lentamente: é tudo o que tens, é presente.