segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cadê as Férias?

Eu preciso parar.
Preciso reler Cem Anos de Solidão.
Preciso ver e sentir o mar.
Preciso passar um dia assistindo aos filmes que quero.
Preciso poder ir à igreja dois ou três dias na semana.
Preciso fazer nada.
Preciso viajar.
Preciso respirar.
Preciso que o fim do período termine de verdade.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Dai Graças!

Quando eu me levanto, todos os dias, abro a janela e enxergo, sinto, saboreio, respiro e ouço o dia. Acredito que alguém o preparou para nós, e que por isso devo me alegrar nele. Chama-se presente por muitas razões. Tenho uma família que me ama e suporta em tudo, ainda que não concorde comigo às vezes, amigos que são uma festa contínua e o meu querido. Meus pais me educaram e me deram carinho desde sempre. Estudo o que escolhi por mim mesma, aprendo as coisas que quero, faço o esporte que me agrada, leio o que me dá vontade e escuto as músicas de que gosto quando bem entendo. Se preciso ir a algum lugar e não há quem me leve, posso pegar um ônibus muito facilmente. Quando tenho muita vontade de comer uma coisa diferente, vou ao supermercado, compro umas besteirinhas e invento na cozinha. As doenças mais graves que eu tenho são uma dor de cabeça ou uma gripe. No meu país, as pessoas não precisam se esconder nem correm o risco de morrer porque lêem a Bíblia ou vão às igrejas. Eu tenho muitas coisas para fazer o tempo todo. Não sou depressiva, mesmo com os problemas que, como os seres humanos todos, também tenho eu. Viajo sempre que posso, às vezes só a Recife, e isso sempre me dá mais paz. Neste mundo onde as pessoas têm tantas incertezas (inclusive eu), estou certa do que é mais importante: há um Deus que tudo pode e que é ágape. Eu já estive perdida, mas fui encontrada.
Embora tenha muitos erros e ainda muitas aspirações, neste momento da minha vida, eu tenho quem gostaria de ter, sou o que gostaria de ser e estou onde gostaria de estar. Por isso e por tudo, sou imensamente grata ao Senhor. Pelo presente, mas também pelo que passou, e pelas vitórias que, eu sei, continuarão a vir.
Hallelujah

terça-feira, 18 de maio de 2010

Disse-me Clarissa, em meio às lágrimas de quem se casa sem vontade: "Não sei o que me atraía mais. Conflitavam pelo primeiro lugar a sua inteligência extraordinária e a sua força de homem. Sim, porque era seguro de tudo, decidia bem, e quando não o fazia, encarava as conseqüências de frente. Junto dele, eu não tinha medo de nada. Se me propusesse irmos embora a não-sei-que-lugar, eu iria, porque tinha a certeza de que ele resolveria tudo. Era gentil, mas firme. Escutava as minhas opiniões, mas, no impasse, sabia fazer prevalecer a sua, "porque eu sou o chefe, meu bem", ele me disse tantas vezes, ao que eu fiquei emburrada e pisoteei, mas aceitei, porque o amei mais que a tudo. Sua autoridade de marido, que realmente se preocupava comigo, me atraía cada vez mais. Sua voz estrondosa, como de um trovejar, e o jeito como segurava a minha mão faziam surgir qualquer coisa de loucura em mim. Para ele, eu era um bibelô - o mais amado, mais querido, mais cuidado e mais brilhante dos bibelôs. Isso me permitia ser forte e confiar na fortaleza dele, ao mesmo tempo. Todas essas promessas de segurança que haviam sido feitas entre os nossos olhares foram quebradas por ele, e eu nunca saberia, não fosse um acaso qualquer. Eu não quis mais ser sua. Talvez até hoje ele não saiba o porquê e por isso me destrate, vez por outra. Mas não sabe que me teria feito o bibelô mais feliz do mundo. E hoje, vejá só, amiga-minha, entrego-me estática a esse destino materializado por outros. Não me movo, não grito, não esperneio mais. Eu, que sempre pensei que faria o meu."
E na hora do sim, houve o silêncio mais mudo que eu já ouvi. O mundo, como diria Lispector, respirava. Só ele e o noivo de Clarissa, contemplando a morte inevitável de quem não ama.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

It's all about You, Jesus

Para a minha querida

Não conheço ser humano algum que nunca tenha sido ferido. Às vezes até as pessoas que mais amamos nos machucam - e é quando mais dói. Fecha daqui, abafa dali, e vamos tocando a vida, tentando conviver com a dor. Quem diz que não sofre mente. Parte dessa vida tão brilhante e colorida é angústia, sofrimento e dor. É preciso perdoar sempre, ser leve sempre. O ressentimento é o fardo mais pesado que qualquer ser humano pode carregar. Quando depender de você, deixe as coisas ruins bem longe.
A pergunta que já me fizeram tantas e tantas vezes é a seguinte: "Por que sofremos?" Penso um pouco, e a resposta sempre tarda - não sei o motivo exato. Um amigo muito amado me disse uma vez que quando sofre, sente mais fortemente a presença do Senhor a lhe sustentar; eu penso que a sinto mais agora, quando o júbilo enche o meu ser, mesmo que Ele seja o meu sustento sempre. Mas de uma coisa eu sei ao certo: não somos o fim último da nossa existência. Aqueles que não acreditam no transcendente podem parar de ler por aqui.
Sei que vivemos para um propósito, qual seja, fazer com que o nome de Deus seja glorificado. Os nossos dias, como diz o salmo, foram escritos e contados quando nenhum deles havia ainda. Deus sabe que sofremos, conhece os nossos corações, as nossas angústias e cuida de nós, ainda que sejamos tão frágeis e passageiros. Diz Paulo, que sofreu tantas prisões e açoites, que os sofrimentos do presente não se comparam de maneira alguma à glória que está por vir.
Ontem, na Escola Bíblica, eu contava a história de quando Daniel foi mandado à cova dos leões, (v. o capítulo 6 de Daniel) quando perguntei o que era mais marcante na narrativa, ao que uma aluna respondeu: "que Deus livrou a vida de Daniel". Resposta errada. De fato, Daniel era íntegro e fiel a Deus. Mas o mais importante não é que Deus o tenha livrado da morte, e sim que através desse milagre, o Rei Dario fez um decreto a todos os povos do seu reino falando sobre as maravilhas e o poder do nosso Deus - o nome do Senhor foi louvado.
Que paremos de pensar nos nossos sofrimentos como mera tristeza, angústia, e que peçamos a Deus que a Sua graça sobre as nossas vidas transborde a ponto de alcançar quem está ao nosso redor e que, também através de nós, seja Ele exaltado - a cura virá em conseqüência. Nem tudo é sobre nós - tudo é sobre Deus e o que fazemos para Ele, na alegria ou na tristeza.

"Porque dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas."
(Rm 11:36)

terça-feira, 11 de maio de 2010

Tocou, pegou, morreu.

Oitenta por cento das mulheres que eu conheço sofrem de uma coisa chamada tensão pré-menstrual. Biologicamente, o que acontece é uma montanha russa nos hormônios e o caos se instala dentro de nós. Eu quis dizer muitas vezes que não tenho isso, mas ante às explosões emocionais e à necessidade louca de glicose que me acometem no período anterior aos maus dias vermelhos, fico sem argumentos.
Já chorei - e foi a pior das vezes - assistindo àquele comecial das fraldas em que um bebê diz no final: "respira, bumbum!"
Mas o choro é o menos mau. Ruim é a agressividade, a angústia, a dor.
Que os que defendem igualdade de gênero entendam que o nosso sofre mais. E que vão à merda, se não entenderem. Porque enquanto sinto toda esse caos dentro de mim, ainda assim preciso estudar para a minha prova de sexta-feira, para as minhas aulas, para o seminário e a prova da semana que vem, para o projeto de extensão, para as aulas que darei domingo, ainda tenho que ser uma boa filha, uma irmã engraçada, uma namorada simpática, e que se não perfaço tudo, sou menos. Não eu, porque quem está perto de mim me tolera, e eu mesma tento ter mais paciência com as minhas falhas.
Mas que saibam, todos, que as mulheres precisam de paciência e precisam ser amadas, nos dias maus mais que nunca.
Cuidem das suas flores.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Canção das Mulheres

Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dói a idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa: uma mulher.

(Lya Luft)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Nós primaveramos

Contaram-me, naqueles tempos, a história das flores. Da primavera que brotava na Europa cujo frio distanciador era a minha única memória. E, também naqueles dias, no calor do verão dos trópicos, congelava, a cada instante, a alma que havia dentro de mim. O ser, a vida, o pulso, nada mais era. Tudo se desfazia em gelo e em nada. O sofrimento que traz raiva e ódio não aquece. Pelo contrário, a angústia das nossas desavenças e do silêncio pesado em que insistíamos me faziam esquecer que havia o Sol. A bola de fogo se aproximava um pouco da Terra todos os anos, mas não de mim. Ou era eu que me afastava dela? Não sei. Era rapidamente que tudo acontecia. A velocidade da escuridão, pensava eu, era muito maior que a da luz. A escuridão alcançava todos; a luz pouquíssimos, e eu não era um deles. Queria ser. Queria poder enxergar o que os outros viam todos os dias e sentir o calor do Sol daquele que, supostamente, me havia criado. Queria acreditar nesse poder sobrenatural, mas não me era tão fácil quanto aos outros. Um dia o frio foi muito forte, e eu decidi mudar de lugar, tomei um caminho estreito, como se houvesse tristeza de menos em mim. Decidir mudar é das coisas mais perigosas que se pode fazer na vida, isso porque tirar um bloco desmorona muros inteiros - e os meus caíram todos. Então o Sol pode entrar. Ele estava lá sempre, até para mim, mas minhas travas não me permitiam vê-lo. A corda sobre a qual ando é, de fato, estreitíssima. Caio muitas vezes, mas o calor das molas sempre me empurra de volta e descongela o meu coração. Não existe mais frio. Junto com as flores coloridas cujas partes feias eu podo, deixando que renasçam ainda mais fortes, também primavero eu todo tempo.