segunda-feira, 3 de novembro de 2008

FullHeartly

Li, há umas duas semanas, O Quinze, de Rachel de Queiroz. Como o livro não era meu, tive que copiar minhas partes preferidas, e deu um trabalho medonho: eu quase copiava o livro inteiro. Não consigo achar o papel, agora, mas lembro-me de uma parte em que a personagem principal, falando com usa avó, diz: "não sei amar com a metade do coração". A identificação que eu tive com esse trechinho, que parece tanto com aqueles versos clichês dos trovadores, é indizível. Mainha sempre teve uma história de "preto no branco" e, embora eu nunca tenha sido tão prática assim, sempre fui muito decidida com os meus sentimentos. Dizem que, quando a gente ama muito uma pessoa, o sentimento é incontrolável. Para mim, os sentimentos sempre foram muito mais racionais, sempre os vi como algo a se construir ou destruir, por completo. Aí vem a minha identificação com a personagem: nunca consegui construir meio prédio de sentimento, nem demolir só um pedaço deles. Também não acredito numa "sucessão secundária": um terreno com escombros é um terreno que eu nunca mais usarei (não, eu não tenho medo da palavra 'nunca', sei quando usá-la).
Quando gosto de alguém, quando quero bem a um amigo, quando admiro uma pessoa, faço-o de todo o meu coração, não meço esforços. Quando, todavia, os sentimentos são destruídos pelas circunstâncias da vida, pelos maus comportamentos ou pela simples mudança de ideais que acontece o tempo todo na minha mente, eu desgosto. Quando uma pessoa é movida para a categoria dos desgostos, c'est ça. Também não sei desgostar com a metade do coração.
A mesma mainha de "preto no branco" às vezes fica impressionada com a minha frieza ante aos sentimentos. Ela diz que eu pareço muito com painho, nesse ponto. (Será?)
Pensando bem na minha vida, eu não sofro muito. Numa balança, pelo menos ultimamente, minhas risadas têm vencido a tristeza de WO. Faz tempo que ela nem aparece. Todavia, quando sofro (que é a coisa mais natural da vida), percebi que é pelas circunstâncias, pelos fatos, e, tão raro quanto democracia em Cuba, pelos sentimentos.