segunda-feira, 31 de março de 2008

Era sua, sua e só sua. Não queria ser de mais ninguém, porque achava que para ser de mais alguém tinha que se dividir. E se quebrassem uma metade sua? Não, não. Não seria de ninguém e ponto. O tempo passou, e quando o tempo passa, forma incontáveis ironias. Resolveu dividir-se. Foi bem cuidada, parecia um lustre importado. Ficava na sala, era polida e elogiada, mas um dia soltaram suas cordas - caiu, quebrou-se. O único que dignou-se a vir em seu socorro foi o tempo; aquele que a havia metido na emboscada - que ironia, não? O tempo é assim. Sabia que sofreria, mas não imaginava que demoraria tanto para que o tecido conjuntivo da sua alma se regenerasse, muito menos para que se fortalecesse. Agora era forte, e manteria sua decisão inicial. Não se dividiria - jamais! "Nunca mais!", gritava fortemente, assumindo sua fragilidade. Era mais frágil ainda tentando prever o que o tempo traria. Surpreendeu-se. Quis negar. Quis afirmar-se. Manteve sua decisão: não dividir-se-ia. Dividir-se dói. Entregou-se.
(...)

E quando beijou-a, soube que ela não se dividira: era dele.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Rascunhos

O amor é um bem.
O amor é o bem maior do mundo.
Não, incoerente.
A liberdade é o bem maior do mundo.
Isso não saiu de mim, já ouvi antes.
Ah, Jorge Amado.
De novo.
(...)
Amar é necessário.
Amar é uma necessidade adorável.
Por sinal.
Amar é uma necessidade. Adorável, por sinal.
Bom.
(...)
Amar às vezes dói.
As feridas também.
O amor é mais ou menos como uma ferida.
Dramático.
Mas verdade.
(...)
A ferida é uma necessidade adorável?
Nem por sinal.
Contradições.
É.
(...)
O amor é um paradoxo.
Também sou.
Quero ser de amor.
(...)

(Yes, a particle of love!)

quarta-feira, 26 de março de 2008

Acordou como todos os dias, inundada daquele sentimento matinal; nem feliz nem nostálgica: grata. Mas por quê? Sei lá, por respirar. Levantou-se, não tomou café - não dava tempo. Correu. Mas correr para quê? Não precisava chegar a lugar algum. Aliás, penso que corria para confundir seus pensamentos. Há dias, nem ela sabia sobre o que pensava. Sim, sempre soube quem era, mas nunca se entendera. Passou duas ruas e viu um homem (que, meu Deus, era um bicho - Bandeira diria, se estivesse aqui escrevendo) que catava comida do lixo. Teve um ímpeto de ajudá-lo, só que estava atrasada (mas para quê? eu me pergunto). Pensou no homem o dia inteiro, chegou a pedir aos céus por ele. Lembrou-se, já à noite, que o homem cantava. Imaginou que se chovesse, ele dançaria na chuva, e riu. Que pensamento bobo! E então descobriu que se atrasara - e será que tinha retorno? Será que agora poderia acelerar e recuperar o tempo perdido? Preocupou-se. Ou melhor, pós-ocupou-se. Atrasara-se para a consciência. Era feliz e não sabia. Descobriu que a felicidade é palpável, e tocou-a.

terça-feira, 25 de março de 2008

Tempos Confusos

- Dize-me: que farias? Tentarias, amarias, arriscarias ou fugirias? Suspirarias, abraçarias, segurarias ou correrias? Dize-me, ainda, que farás?
- Digo-te: tentaria, amaria, arriscaria, suspiraria, abraçaria e seguraria. Digo-te, ainda, fugirei, correrei.
- Não desta vez.
- Desta vez não vou.
- Não irias?
- Não vou, fico. Aprendi a muito custo que não se corre do amor.
~

(Ele escreve sobre os tempos verbais)

segunda-feira, 24 de março de 2008

Desabafo.

Não quero que me entendam. Tem dias em que as palavras teimam em sair. Ou as idéias não saem da nossa cabeça. Hoje eu tinha que escrever sobre "educação", para entregar a Zarinha. Educação, um tema tão trivial. Coloquei na cabeça que queria dizer que os professores, no Brasil, têm de se especializar em sindicalismo (o que, de fato, acho absurdo). Mas por que não falar de outro aspecto? Tentei, juro. Entretanto, mesmo sabendo que levarei, na melhor das hipóteses, um conceito "regular" pela redação, sinto-me satisfeita por colocar a idéia que eu tive. Essas idéias loucas são como o vento. Há quem sinta-as, e há quem se acostume com elas. As minhas hoje, parecem um vendaval. Quero apenas, ser entendida por mim mesma,

terça-feira, 18 de março de 2008

É sempre bom poder deixar tudo, sair, e ver o que existe aí fora, nem que seja aqui do lado. Sempre gostei muito de viajar, e também, na minha modesta opinião - eu que nada sei da vida - viajar, ler e aprender outras línguas são aquilo que nos enriquece culturalmente. Desde pequena, vejo papai rodar o mundo e mainha se lascar de estudar - e adorar fazê-lo; tenho, portanto, as melhores influências, e sou grata por isso, embora falte muito pra saber tanto quanto eles. Enfim, sempre que po$$ível, estamos na estrada. Além de conhecer lugares, pessoas e sotaques diferentes, o melhor de viajar é ter saudades (e eu adoro tê-las), mas dessa vez, sei que o melhor será matá-las, ao fim. Há muito do que sentir falta :)

sexta-feira, 14 de março de 2008

Só faltava essa!

http://www.cbl.org.br/content.php?recid=3749

Krásis. Do grego: adição, fusão. Junção de duas vogais “a”, herdada deste idioma para o Português, como tantas outras palavras. Incorporada ao quotidiano e às ações triviais. Comum, normal para nós, brasileiros. Uma particularidade da língua, certamente; todavia, passível de aprendizagem, como tudo o que é conhecido até agora.
A proposta de Hermann exclui a existência de itens mais trabalhosos para aprender-se que a crase, os quais são compreendidos por nós, através do estudo. Sempre que se tratar de idiomas, haverá dificuldades. Todos eles necessitam de esforço e dedicação, e, até hoje, nunca presenciei pessoas alcançando êxito descartando dificuldades, o que é, puramente, o que a proposta do deputado João Hermann Neto almeja.
Ao mencionar que o acento grave, usado para designar a crase, “humilha as pessoas”, creio que o deputado esqueceu por um momento do que realmente faz dos indivíduos menosprezados. Fome, ausência de oportunidades, segregação social, racismo; será que ele já ouviu falar nisso? Um grande percentual da nossa população vive em condições subumanas, indignas; estes homens e mulheres, ingenuamente, acreditam no poder de transformação do nosso país, e elegem governantes que a possam realizar. Entretanto, parece-me que o deputado, ao invés de interessar-se por medidas educacionais que poderiam ajudar as parcelas menos favorecidas, está preocupado com uma minoria letrada que acha inútil o uso da crase.
Além de tudo, as entrelinhas da proposta mostram que esse “país de todos” não quer que todos alcancem um nível intelectual superior, mas quer rebaixar nossa gramática ao nível dos iletrados. De qualquer forma, se algum dia a crase tiver que sair do nosso uso diário (como os acentos diferenciais, para a simplificação do idioma), que os gramáticos optem por retirá-la, se o julgarem necessário; não creio que nossas vidas serão afetadas gravemente por isso, muito menos que devemos deixar de lidar com a conjuntura real de subdesenvolvimento em que nos encontramos para discutir assuntos tão frívolos. Homens eleitos com o propósito de serem paradigmas para o país, tornam-se, ao meu ver, uma vergonha para a Nação; não consigo entender como conseguem se preocupar em tirar um acento da língua, enquanto existem crianças morrendo de fome, sem esperança de futuro.
O próprio vagabundo do Hermann devia pegar a porcaria da gramática e estudar as duas páginas do assunto de crase. Ah, esqueço-me. É muito esforço pra quem está acostumado a fazer nada e ganhar os salários mais altos do país.
Será que dá para tirar os políticos inúteis em vez da crase?

quinta-feira, 13 de março de 2008

Já vi flores crescendo em canhões e um principezinho mais sábio que dois terços da humanidade. Já desvendei conflitos psicológicos com Dostoiévski, e maravilhei-me com os melhores comentários sobre os homens, por Machado de Assis. Já viajei para o outro lado do mundo, com uns caras que chamam seus pais de "baba" e lutam para ser bravos. Já chorei com a história de uma comunista admirável e com a estória de muitos Josés Arcadios. Já aplaudi Shakespeare ao fim de suas peças e Erasmo no melhor Elogio já escrito. Tenho perguntas a fazer para o conde de Monte Cristo e Colomba, jamais os compreendi. Surpreendi-me, supreendo-me e sempre supreender-me-ei com um lugar que posso visitar sempre, e onde sempre há algo mais a destrinchar: Nárnia. Meg Cabot, Veríssimo e Marian Keyes me fazem dar boas gargalhadas, quando as coisas estão de cabeça para baixo. Já vi um menino vencer um gigante, uma mulher ficar grávida com quase 100 anos e até um homem com 24 dedos, acredite você ou não. Ri muito com um Sherlock Holmes meio "fake" que veio ao Brasil, Jô Soares que conta. Nunca consegui saber o fim da menina que lia aquelas cartas de filosofia, espero que esteja bem; mas soube de um baralho vivo com um curinga, que eu quero ser. Gostei muito de uns bichos que se revoltaram, mostrando, enfim, um pouco de nós. Cecília faz os versos da minha vida, e me inspiro na criatividade de Fernando Pessoa e seu Chevalier de Pas. Nunca precisei de terapeutas, mas o melhor divã do mundo, desconfio que seja o de Lispector. Se meu dia tivesse 48 horas, já teria rodado o mundo inteiro. Aliás, os mundos.

terça-feira, 11 de março de 2008

Detesto cortar cabelo. Parece que estão tirando um pedaço de mim. Em contrapartida, adoro os cabelos cortados dos outros, são tão charmosos. Hoje deu-me coragem: decidi cortá-lo (e corri para o salão, antes que eu mudasse de idéia). Na verdade, sou receosa quanto a mudanças, embora elas tenham, para a maioria das pessoas, uma conotação positiva. Não poderia concordar menos com o meu professor Macedo, quando, em um de seus momentos de reflexão social afirmou: "a acomodação é sempre muito ruim". Eu diria, além disso, que a acomodação nos acorrenta. Solte-se, corte seus cabelos, mude! :D

sábado, 8 de março de 2008

Dia Internacional das Mulheres

Recordo-me nitidamente do que ocorreu exatamente um ano atrás. Quando eu entrava no colégio, o porteiro - por sinal, sempre muito educado - disse-me: "Bom dia, senhorita! Parabéns!". E percebi que havia saudado às pessoas antes de mim da mesma forma. Ignorando a data, respondi-lhe: "para você também!". Quando cheguei à sala de aula, fiquei sabendo que era o tal do "Dia Internacional da Mulher", e tive vontade de ir pedir desculpas ao simpático porteiro. Nota-se, portanto, que não sou uma feminista. Não abriria minha boca, muito menos minhas idéias para defender tantas mulheres imbecis e corruptas que existem por aí. Não, não o faria. Também não argumentaria que as mulheres são melhores que os homens por carregarem seus filhos, e jamais diria que são iguais aos homens. Mas falar da minha opinião e visão pessoal do papel feminino é muito fácil e simplório, eu que vivo nesse Brasil brasileiro, onde nunca fui privada de falar. Penso, hoje, naquelas que, mesmo aos cinquenta anos, são mudas. Não podem se expressar, não têm lugar. É, para mim, idiota uma manifestação feminista aqui; mas ao olhar as fotos das mulheres reunidas no Afeganistão e no Paquistão, por exemplo, estremeço. E vejo quão cruel e precária é a conjuntura global em que estamos. As pessoas têm essa mania de achar que todos têm a mesma consciência; eu mesma sempre caio nessa besteira. Ante-ontem, por exemplo, fiquei estupefata quando um colega de sala afirmou que as mulheres ganham 20% a menos que os homens para uma mesma função porque são, em suas palavras, "abestalhadas". Além de horror, dá-me pena ver que alguém que deveria estar em nosso nível cultural tem concepções tão precárias. A história nos mostra tantas, a começar por Maria(a mãe de Cristo), passando por Wolstonecraft, Elizabeth, Chiquinha Gonzaga, de Beauvoir, Olga (embora não concorde com seu comunismo), e TANTAS outras. Hoje, então, escrevo em defesa e admiração das mulheres. Das que lutam pelo que precisam, choram, sofrem, mas têm a força inerente ao nosso sexo pseudo-frágil.

"Dizem que a mulher é o sexo frágil, mas que mentira absurda!"
(Erasmo Carlos, em sua música admirável)

domingo, 2 de março de 2008

Todas as pessoas carregam, em si, um sopro divino. Alguns o chamam inspiração, outros sabedoria, e há ainda os que mais concretamente o denominam inteligência. Defendo essa teoria, e defende-la-ia sempre, porque não consigo imaginar que frases, ditos e canções, como a famosa de Raul Seixas: 'sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade' possam ter saído de outro lugar que não o coração de Deus. É muito lindo como Ele pode usar qualquer coisa, só pra nos lembrar que 'somos o motivo da Sua viagem', e que apesar de sermos como uma onda quebrada no mar, o mundo foi criado pra nós. É suficiente. Basta.

"Não precisa correr tanto; o que tiver de ser seu, às mãos lhe há de ir."
(Machado, em Dom Casmurro)

sábado, 1 de março de 2008

Por vezes, nosso interior fica em pé de guerra. Partes de nós querem algo, outras o reprimem. Para os outros, parece tão fácil aconselhar, enxergar a melhor solução para o nosso problema; parece tão fácil dizer uma brincadeira, dar um abraço, esquecer. Há aqueles para os quais a vida é muito simples, tudo é uma risada, tudo é um sorriso. Tenho pena desses indivíduos. O admirável Fernando Pessoa escreveu: "Ah! A felicidade de não ter de estar sempre alegre!". O medo, a tristeza, a insegurança, a dúvida, fazem parte do nosso ser, da nossa essência, de nós. Eu não acredito em pessoas perfeitas, e acho que deve ser muito chato ter que viver sempre sorrindo. Parece que de uns tempos pra cá todo mundo anda lendo esses livros de auto-ajuda ('disgusting', por sinal) e esquecem-se, todavia, de que a ajuda só vem de um lugar. O livro de Salmos está cheio de versos em que Davi pergunta a Deus: "até quando?"; ele não parece sempre sorridente, mas foi um homem segundo o coração de Deus. Viveu o melhor de Deus. Sou-Lhe grata pelas minhas fraquezas, pelas dúvidas, pelas lágrimas, porque sei que aprender dói. As batalhas dentro de mim estão incessantes, como em um jogo, mas minha confiança é saber que, no meu coração, quem escolhe o baralho e dá as cartas é o Senhor.

"Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora,
que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito."
Provérbios 4.18