segunda-feira, 31 de março de 2008

Era sua, sua e só sua. Não queria ser de mais ninguém, porque achava que para ser de mais alguém tinha que se dividir. E se quebrassem uma metade sua? Não, não. Não seria de ninguém e ponto. O tempo passou, e quando o tempo passa, forma incontáveis ironias. Resolveu dividir-se. Foi bem cuidada, parecia um lustre importado. Ficava na sala, era polida e elogiada, mas um dia soltaram suas cordas - caiu, quebrou-se. O único que dignou-se a vir em seu socorro foi o tempo; aquele que a havia metido na emboscada - que ironia, não? O tempo é assim. Sabia que sofreria, mas não imaginava que demoraria tanto para que o tecido conjuntivo da sua alma se regenerasse, muito menos para que se fortalecesse. Agora era forte, e manteria sua decisão inicial. Não se dividiria - jamais! "Nunca mais!", gritava fortemente, assumindo sua fragilidade. Era mais frágil ainda tentando prever o que o tempo traria. Surpreendeu-se. Quis negar. Quis afirmar-se. Manteve sua decisão: não dividir-se-ia. Dividir-se dói. Entregou-se.
(...)

E quando beijou-a, soube que ela não se dividira: era dele.