quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A beleza em meus olhos I

Ao entrar naquele lugar cheio de formalidades, ela se sentia muito deslocada. Tratou de olhar logo para quem a recebia: um senhor de meia idade, paletó e gravata. Ela e seus colegas foram entrando, conversaram com o mocinho (tão novinho, ela pensou) que resolveria seus problemas. E os problemas eram simples: não havia como chegar à escola, que ficava do outro lado da pista. As crianças chegavam atrasadas e uma, inclusive, havia sofrido um pequeno acidente nos últimos dias, porque correu tanto para não ser atropelada, que acabou caindo de rosto na calçada. Ela conversou pouco com o moço; falaram mais seus amigos. Ao final, havia uma pequena lista de presença, onde as pessoas escreviam seu nome e o cargo que ocupavam. Uns homens sérios assinaram: juiz de tal vara, delegado daquela região, agente da polícia federal, etc. Os amigos dela assinaram o nome e nada mais. O cargo deles era nenhum. Pelo menos, eles pensavam assim. Ela, muito segura - porque ela sabia -, escreveu seu nome, que se tornou tão irrelevante e, ao lado, com uma escrita firme: "professora."

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Entendam que não.

Que não há mais nada a ser dito. Quase sempre, na vida, não há mais nada a ser dito. Há coisas a serem feitas, decisões a serem tomadas: por vocês, por mim, por todas as pessoas. Se umas não decidem, outras o fazem. Clarice dizia que o amor não mata. Às vezes parece que sim. Mata um pouquinho a cada dia. Mata quando não ouve o coração do outro, ou melhor, a intensidade do coração do outro. Tudo já foi dito, mas dizer não adianta. Dizer não muda as águas. As palavras, que são tudo, são também nada. Feche e abra os olhos. Veja que tudo continua exatamente no mesmo lugar, inclusive os medos latentes. Só um peteleco e eles explodem. Boom. E vocês, o que farão? Esperarão a vida inteira para que outro venha e estale os dedos? Por que não conseguem viver a própria vida? Os loucos (principalmente as loucas) vêm ao mundo com suas mensagens. A Virginia (das horas - always, the hours) disse: "you cannot find peace by avoiding life." Eu digo: "you cannot find peace by avoiding Life. You never will." E talvez, se vocês querem evitar a Vida, eu não quero estar com vocês. Eu quero estar onde a Vida transborda, onde há coragem, onde há bravura, onde há um amor que não mata, porque não morre inerte. Eu quero estar onde as palavras fluem incessantemente com o riso e com as lágrimas; onde há beleza, porque houve escolhas. Eu quero estar onde o meu dizer seja bonito de novo. Em Cristo. Porque, se em outras coisas eu me pareço com vocês, nisto sinto que somos muito diferentes. Inconciliavelmente diferentes.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Still my fav place.

É liberdade.
É descobrir as novas cores, tons e nuances da vida.
É viver sem hora certa, nem para sair de manhã, nem para voltar de manhã.
É andar por lugares desconhecidos, na certeza de que se chegará a um lugar bonito.
É sentir agitação e tranquilidade habitarem o coração ao mesmo tempo.
É ver que as coisas, vistas de cima, são tão diversas.
É compreender que ser é mesmo como a tua roda gigante.
É presenciar a materialização dos bandolins da música, sempre no mesmo lugar.
É ouvir teus espetáculos, teu sotaque.
É saber que Deus nos cuida, onde quer que estejamos.
É ter o presente de estar acompanhada dos outros e de si própria.
É conhecer novas ideias, novos sabores, novos modos de ser.
É perder-se em livrarias, em prédios ou nas ruas.
É ver Ovídio desenhado por Dalí, bem de pertinho.
É o nascer de um novo poeta, tão lindamente perturbado quanto devem ser os poetas.
É liberdade.
I love you, L., for what you mean to me.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Se Deus tivesse facebook, você falaria com Ele?

"Mas livrai-nos do mal, amém."
(Da oração que Cristo ensinou)

Há dois meses, por motivos muito pessoais, resolvi dar um tempo do facebook. Os motivos, não discuto. Conheço várias pessoas que tomaram essa decisão, e, mais drásticas ainda, que decidiram apagar seus perfis da rede, por razões das mais diversas possíveis. Entendo todas. Quero falar sobre, isso sim, os efeitos dessa opção. No começo, dá muita vontade de entrar, de ver as respostas no mural, de ver as fotos das saídas da semana passada, a foto do novo bebê da amiga, enfim, todo tipo de novidade. No meu caso, uma agravante foi que, durante o meu aniversário, eu já não entrava, e, portanto, até hoje, não sei o que me desejaram. Sei que foram coisas lindas, mas só de ouvir dizer. Não sei muito bem o que acontece na minha turma, porque, praticamente, todas as comunicações são via facebook. Abro meu email várias vezes por dia, na esperança de receber notícias dos amigos com quem eu só falava pela rede, alguns dos quais me fazem muita falta. Mas ganhei muito. Afora os meus amigos de longe, com quem, realmente, é difícil falar de outro jeito, percebi como são frágeis certas amizades de nosso tempo, e como o facebook contribui para isso. Achar que mandar uma mensagem para alguém pela rede, uma vez por ano, ou comentar suas fotos, pode manter uma amizade, é ilusão que eu não tenho mais. Ausentar-se do facebook é como deixar de ir a um lugar onde todas as pessoas vão: apenas quem gosta mesmo de você continua sentido sua falta, continua fazendo parte de sua vida. E o contrário também: apenas quem você ama mesmo é quem te dá saudades. Isso é aprendizagem, é peneira que a vida oferece. Além disso, descobri que eu tenho tempo. E aí vai uma dica: se você é das pessoas que vivem dizendo que não tem tempo para nada, tente pensar no tanto de coisa que você poderia fazer enquanto está vendo a vida alheia ou a sua própria. Você também tem tempo. Eu ouvi, um dia desses, de um conhecido - que, diga-se de passagem, fica quase 24h conectado - que quase não tinha tempo para ficar com sua família, para conversar com seus pais. Ao pensar no tempo que perdemos em relacionamentos virtuais, enquanto deixamos as pessoas de carne e osso ao nosso redor tão abandonadas, não consegui evitar a seguinte pergunta: por que você consegue ficar uma hora direto no facebook, e não consegue parar meia hora por dia para conversar com seus amados, para ler a Bíblia, para falar com Deus? Há algo de muito grave acontecendo na nossa geração tecnológica, que, enquanto nos cria a sensação de que precisamos correr, porque estamos sempre atrasados, rouba nosso tempo, tão descaradamente; e nós, bobos que somos, o entregamos de mãos beijadas. Talvez eu volte a usar o facebook, mas será muito menos importante, simplesmente porque não é importante.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

De quando uma alma bonita parou meus pensamentos

Ela não me visitava há tempos. Há anos, talvez. Mesmo assim, era daquelas pessoas reais, cuja ausência parece não significar nada, porque, embora longe, eu sempre sentia sua presença, quando passava em sinais laranjas - o que ela sempre condenou em mim -, quando comia coxinhas ali na lanchonete da esquina, quando usava canetinhas coloridas, and so on. Ao contrário da maioria das pessoas, ela queria mesmo ser feliz, e, para ela, uma pessoa não poderia sê-lo se não fosse muito sincera consigo mesma e com os outros. Ela não era perfeita. Não mesmo. Tinha uns olhos grandes demais, e falava tanto que chegava a incomodar os menos acostumados. Eu falava de menos. Depois de muitos anos tentando se adaptar às pessoas e circunstâncias daqui, ela teve a coragem que quase ninguém tem de fugir com ele. Eu a admirei pela fuga e condenei-a desde o princípio pela companhia. Ele era um completo desajustado, não conseguiria lhe dar apoio, sequer a amava. Aliás, todos nós suspeitávamos de que ele só fosse capaz de amar a si próprio, porque era o que a experiência demonstrava, e eu não acreditava na mudança. Fui cética em relação a ele, e não me enganei. Mas, (in)felizmente, só o tempo é capaz de distinguir os caracteres das pessoas. Ela acreditou nele: em seu amor, em sua mudança, em seu coração. Quando ele a deixou, ela sentiu que, para continuar voando, teria que voltar à casa, para recolher-se, sofrer, chorar e trocar as penas. E eu pude conversar com a minha queridinha mais uma vez. Eis o que me disse: "Ele mudou, mudou mesmo... Todo mundo me dizia isso, elogiando o meu amor por ele. E eu fico pensando, minha amiga: será que o amei? A resposta teima em vir negativa. A verdade é que eu nunca, nunca, nunca o amei. Admirei-me de seus pensamentos livres, de seu ar de independência, de seus sentimentos complicados, de sua alma bonita. Não me olhe com essa cara. A alma dele é linda, flui. Mas hoje eu sei que ele não será feliz, nem em mil anos, porque precisa de tantas máscaras, minha amiga, para sobreviver. Não mudará, não será feliz, e carregará consigo a infelicidade, que se revelará cedo ou tarde, para todos com quem ele conviver. É que por trás de todos os disfarces, de todos os risos, de todo o sentimento intenso, o rostinho da linda alma dele chora sem parar. E chorará sempre. Ao redor dele, todos sorriem, mas lá tudo é máscara. Não são como nós, que temos orgulho das rugas do rosto e do coração." Ela teve, de novo, coragem. Mostrou ao nosso mundinho de nada que é possível tentar de novo. Ficou conosco mais uns tempos. Dias, talvez. Depois, voou mais uma vez. Agora, sozinha, mas com a certeza de que não havia outra opção: seria feliz. E é. Ele não conseguiu engatar novo voo e, contrariando mais uma vez minha querida, lhes digo, sinceramente, que de onde eu vejo, a alma dele é tão franzina quanto a sua força de ser.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Memento mori

Minha mãe, um dia desses, me contou a seguinte história, que leu em um desses emails encaminhados. Havia uma guerra entre dois povos, e os dois reis se odiavam tanto que investiram todos os seus recursos para vencer a guerra. Naturalmente, apenas um foi o vencedor. Porém, quando olhou à sua volta, só viu destruição, e não havia sobrado nenhum de seus súditos. Não suportando a solidão, saiu pelos antigos povoados, procurando algum sobrevivente, alguma frase que lhe consolasse. Andou por muitos lugares, conversou com sábios, mas nunca conseguiu a resposta que queria, até que avistou uma casa que parecia o paraíso, em meio àquele lugar tão triste. A casinha era extremamente pobre. Seu dono, muito velho, um pouco encurvado pelas surras do tempo, mas trazia, em seu rosto, um sorriso sereno. O rei vencedor, é claro, não entendeu o porquê daquela alegria, então, resolveu passar o dia na companhia do homem, que acabou lhe revelando que era um dos comerciantes mais ricos do povoado que perdeu a guerra e que, por isso, não tinha mais dinheiro algum. Ao fim da tarde, o rei não se segurou e perguntou: por que você é tão feliz, se não tem nada? O homem nada respondeu, apenas sorriu, como se admirasse a ingenuidade da pergunta. Quando entraram para o jantar, o rei, de repente, encontrou, talhada na madeira da casinha, a lição que tanto procurava. O quadrinho de madeira, já caindo aos pedaços, dizia: tudo passa.

É lição que nos ensina a viver os altos e baixos da vida, acreditando que tudo vai melhorar, quando a dor bate no coração, e aprendendo a tratar bem a todas as pessoas, porque estaremos em seu lugar, algum dia. Lembro também de um curto ditado: o homem deveria carregar uma frase em cada mão, e olhá-las quando se sentisse muito exaltado ou muito humilhado, dizendo, respectivamente "não passo de pó e cinza" e "por minha causa, o mundo foi criado."

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Um tablet por aluno...

... É a proposta da moda, nestas eleições municipais. É óbvio que além dos vereadores que prometem construir duzentas creches (note: o vereador vai construir) e dos que prometem o básico neoliberal ("prometo lutar pela saúde, educação e segurança pública"), alguém tinha que inovar. E pensaram logo: um tablet. Pois, senhores candidatos a prefeito, eu não dou meu voto a quem promete tablet para alunos de escola pública. Primeiramente, porque não entendo de que maneira jurídica isso aconteceria, porque de uma coisa eu sei, é que o Estado não pode sair por aí dando eletrônicos às pessoas sem mais nem quê. Além disso, não consigo enxergar qual a relação que esses políticos fazem entre possuir um tablet e ser bem sucedido nos estudos. De minha geração mesmo, não conheço ninguém que tenha aprendido matérias escolares em tablets, e há até os que, como eu, são completos ignorantes (ou analfainfo) no assunto. Eu sei que falta é muito nesta minha cidade para as crianças e jovens que frequentam escolas públicas: falta merenda aceitável, faltam professores qualificados, faltam cadeiras confortáveis. Em algumas escolas, acreditem se conseguirem, falta até lousa branca (usam ainda quadro negro). Falta também tratamento digno aos professores, em matéria daquilo que parece ser tão secundário aos políticos: salário. E eu fico imaginando, um professor-herói desses - que são todos os professores de nossa rede municipal, os quais, apesar de ganharem bem acima do piso estabelecido pelo MEC, ainda ganham muito pouco para o trabalho que desenvolvem (isso não é privilégio deles, mas mal de quase todo professor, nesse Brasil nosso) - no fim do mês, contando seus dois mil e poucos reais, percebendo que mal dá pra pagar as contas, enquanto seus alunos desfilam com tablets pelos corredores da escola. Não que haja problema em proporcionar condições melhores de ensino. É bom que haja computadores nas escolas, com quem saiba ensinar os estudantes a utilizá-los. Mas distribuir tablets? Por favor, senhores candidatos, tenham um pouco de bom senso. O tablet se sentiria completamente deslocado do ambiente escolar municipal. E, além disso, os senhores, que pertencem à classe média - inclusive os que se autointitulam comunistas - sabem muito bem que nem todo mundo possui um tablet em casa. Pensem nas consequências para as crianças, pensem no que farão quando, de repente, esses tablets doados forem desaparecendo, um a um, vendidos pelos pais das crianças, furtados, etc. O que vocês farão diante disso, senhores candidatos? Abrirão um processo contra a criança que desviou o recurso público? Ou deixarão por isso mesmo? Para além desses questionamentos óbvios, que, certamente, passam pela cabeça de todo cidadão escaldado por vossas promessas, resta-nos, conhecendo o passado de alguns de Vossas Excelências, nobres políticos, tão bem, a certeza de que enquanto falam em tablets e veem um sorriso no rosto de um cidadão mais desavisado, já estão sorrindo também, calculando quanto levarão na licitação desses benditos tablets (que não deve ser pouco, porque, de repente, a ideia se tornou muito recorrente). Pois bem, senhores candidatos, eu lhes sugiro, humildemente, como nova eleitora que sou, caminhando para o meu segundo voto, que abortem essa proposta, antes que todos comecem a pensar nisso. E, quanto à educação, voltem ao básico: invistam nos professores, nas instalações, nas bibliotecas, na merenda, construam novas escolas, premiem os alunos, enfim, acreditem no poder que tem a educação para mudar este país e para formar cidadãos mais responsáveis e conscientes que a maioria dos senhores.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

21st

Paizinho Querido,
Mais um ano de minha vida se completou, e, com ele, permaneceu a certeza de que o Senhor está comigo. Pai, neste dia, pude sentir o carinho das pessoas que me amam, tão lindas; da minha família amada; dos pouquíssimos, mas valiosos amigos que me deste. Obrigada, Senhor, porque desde o ventre da minha mãe o Senhor tem cuidado de mim. É olhar pra trás e te amar, Pai, por todas as maravilhas que o Senhor tem feito em minha vida, e por me amar tanto. Obrigada, Senhor, pelo sacrifício de Cristo em meu favor, em meu lugar. Muito obrigada, por todas as vitórias que o Senhor me tem concedido e por me permitir ver a Sua glória se manifestando. Obrigada, Senhor, porque nos momentos em que eu pensei que não teria mais forças, o Senhor me deu da Sua força. Obrigada pela Sua presença santa e linda, na qual eu posso adorá-Lo, agradecê-Lo, ou simplesmente me achegar a Ti, para ficar pertinho do Senhor. Obrigada pela Sua palavra, à qual o Senhor é fiel sempre. Obrigada pelos Teus servos cujas histórias estão ali registradas, e cujo sofrimento e sinceridade têm me inspirado para buscar uma vida mais correta. Obrigada pelo dom da vida, Senhor. Obrigada pelo Teu perdão tão maravilhoso, tão precioso. Obrigada por me receber de volta sempre, apesar de mim. Obrigada, Senhor, porque eu tenho visto as Tuas promessas se cumprindo em minha vida. Obrigada pelo maior presente, que é ter Cristo em mim e poder Te servir. Senhor, neste dia, eu realmente tenho pouco para pedir (e o Senhor sabe o que é), e muito, muito, muito para agradecer. Obrigada, Senhor, meu Deus, meu Paizinho, Aba Pai. Obrigada, obrigada, obrigada. "E que a cada dia eu queira mais e mais estar ao Teu lado, Senhor."
Da Tua filhinha,

sábado, 12 de maio de 2012

Não é abandonar a escrita. É abandonar estas teclas frias e este papel sem cheiro do computador. É buscar o caderno e a caneta de verdade, que me fazem ser mais verdade. Até sempre - talvez.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Café sem leite

Tão pequena, andava na rua saltitando. Não que quisesse, mas suas perninhas eram tão curtas, que a cada passo do pai, ela dava dois pulinhos, para acompanhá-lo. Além disso, não se concentrava muito nessa tarefa. Queria, muito mais que chegar à parada de ônibus, absorver tudo o que existia ao seu redor. As árvores, bem maiores que ela e, ainda mais incrível, maiores que seu pai, eram coisas curiosas para a pequena. As moças passando, e ela pensando: quando eu crescer, quero ser assim, assim não, loira, com cabelo grande. E ela pensando, ainda: será que a mamãe era assim? De repente, cai uma manga ao seu lado, e um menino pega a fruta, encarando a bonequinha insistentemente. O pai continua andando, e ela saltitando para acompanhá-lo, olhando para trás, para os olhos daquele pequeno. Mas não há tanto tempo para encarar o passado. Quando percebeu, já estava na parada, e o ônibus já tinha chegado, com o mesmo cobrador de todos os dias, de bigodes longos e sem sorriso, que deixava a menina divertir-se passando por debaixo da roleta. Em casa, no silêncio do quarto cor-de-rosa, a pequena tirava as sapatilhas, deixava de ser a bailarina da caminhada vespertina. Agarrava-se ao retrato da mãe e punha-se a imaginar que tipo de mulher seria. E o pai, espreitando-a pela porta entreaberta pensava consigo: "Será das fortes, bebê. Não há dúvidas."

segunda-feira, 19 de março de 2012

Assim seja.

Que o Senhor veja como sou pequena e frágil. Que o Senhor, por isso, olhe para mim com ternura. Que o Senhor segure minha mão pela escuridão e ilumine os meus passos, um de cada vez. E me ensine esta lição, de andar dando um passo de cada vez. Que o Senhor fale comigo, claramente, através da Sua palavra. Que o Senhor me proteja das pessoas más, e me dê forças para enfrentá-las, quando for preciso. Que o Senhor me encha do Seu Espírito Santo, apesar de mim. Que o Senhor me use na vida dos meus irmãos, os que já são, e os que serão. Que o Senhor me guarde à Sua sombra e me guie ao centro da Sua vontade, hoje e todos os dias desta breve vida. Amém.

sábado, 17 de março de 2012

Mission Trip March 2012

I'm still trying to recover from this last mission trip experience. We got to help some people and, most importantly, talk to them about the good news of Jesus' salvation. That's priceless. I do miss being there, and keep thinking it's true what they say: the best place to be is where God wants us to be. I praise Him for, one more time, showing me He is under control of everything. Every little thing fits perfectly. I did go there thinking about serving Him, but He also spoke so deeply to my heart about things I won't be able to forget. Also, our team was in communion at all times. Some of the people I met last week seem to have been my friends forever. That wouldn't be possible were we not in the same Spirit. The one thought I've been having since I got back is this: "Thank You, Lord. Thank You. Thank You." May I never go back to the shallow end of Christianity.

quinta-feira, 15 de março de 2012

O amor cup-noodles

A primeira coisa que eu aprendi a cozinhar foi nissin miojo. Esquenta a água, joga o macarrãozinho e espera uns três minutinhos pra ficar pronto. Não é gostoso. É normal. A gente come porque precisa, ou porque uma vez no ano dá vontade mesmo, ou porque não tem tempo pra outra coisa. Massa boa mesmo é aquela caseira, feita em casa por quem sabe, ou no Apetito, restaurante italiano tímido (mas premiado) daqui. Com a correria da vida (bendita correria, sempre meu assunto!), as pessoas não se preocupam mais com a qualidade das coisas. Pensam, apenas, no que lhes é necessário, e arranjam um jeito - de preferência sem muito esforço - para conseguir o que querem. Fazem assim, inclusive, quando se trata de amor. Quem quer, hoje em dia, pensar em conversar muito com alguém, paquerar, namorar, construir confiança e depois dividir a vida? Só pensar nesse processo cansa, e nós, a sociedade do aqui e agora, não esperamos. Talvez por isso, as pessoas, sabendo que precisam de afeto, lançam-se às baladas da vida, colocando seu coração - ou seu corpo - a prêmio. Outros, porque não conseguem ficar sós (e este é o pior tipo de medo: não saber ficar só, não enfrentar-se a si), correm atrás de pseudo-namoradinhos, que, juntos por apenas duas ou três semanas gritam pelos facebooks da vida "eu te amo" aos quatro ventos. E todos esses (não há exceção) acabam-se deparando com muitas frustrações na vida. É que o nosso paladar - e também a nossa alma - está preparado para receber o rondelli de espinafre com ricota que demora horas para ficar perfeito, mas acaba recebendo um potinho de cup-noodles. Amor instantâneo é decepção na certa.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

teus caminhos

Nunca tive a disciplina de escrever um diário, aliás, nunca achei que descrever os acontecimentos de um dia minuciosamente me ajudaria a lembrar do que eu senti. Mas sempre escrevi pequenas frases, às vezes até rimas horrorosas - que eu não me esforço para aprender a rimar - que me fizessem reviver as sensações que tive. Funciona muito. Essa semana, revirei uns papéis da minha vida (se não arejarmos essas gavetas de vez em quando, vira tudo mofo, tudo endurece, nunca mais sai) e admirei-me de reações que tive. Como fui intolerante com coisas bobas e tão tolerante com outras mais sérias. Como é possível que em cinco ou seis anos, uma cabeça dê tantas voltas como deu a minha, sobretudo nestes últimos trezentos dias? Eu desenvolvi padrões mais sólidos sobre o que é certo e errado, mas só dentro da minha cabeça, a minha opinião. Quanto às outras pessoas, deixei de enxergá-las como o que eu esperava delas, e passei a vê-las como os seres humanos que são (how scary!): com defeitos, virtudes e cacos emendados, do jeito de todos nós. Sobretudo, procurei ver minhas próprias emendas. É difícil ver que o outro é o você que percorreu outro caminho. Se você tivesse vivido o papel dele na vida, que atitudes teria? Parou e pensou: ninguém é super-hero. Desejo a você força para manter as convicções e atitudes que entende dignas, porque nada melhor que deitar a cabeça no travesseiro e se sentir fiel a Deus, a si, aos amigos, mesmo que doa. Mas desejo-lhe também muita compreensão para quando as pessoas ao seu redor forem fracas, porque outro dia pode ser você (tudo bem, a gente deixa em segredo que você também erra). Que você as veja como gente, hoje, ou daqui a cinco anos, e que saiba perdoá-las, deixá-las ir. Quem não perdoa se tranca em uma cela, com a impressão verossimilhante de que está prendendo o outro, que, por sua vez, segue a vida. Faz sentido abrir a mente.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Just a thought:

life is as fast as this post.