segunda-feira, 27 de junho de 2011

Você é atual?

Semana passada, assisti àquele filme estranho chamado Divã. Em um dos diálogos, uma personagem diz algo que poderia sair da minha boca. Não me lembro as exatas palavras, mas o sentido era este: "Eu sou antiga, amiga. Desde nova, eu sou antiga." É que também eu sempre quis encontrar um amor, sempre sonhei em construir uma família. Eu, desde a minha adolescência, tenho pavor a barulho, e troco, sem hesitar, um show por uma conversa com meus amigos queridos. A quietude, enfim, é uma de minhas companheiras mais estimadas. Não sigo as tendências mais extravagantes da moda, não escuto as músicas que são sucesso no momento, sou praticamente uma analfabeta das novas tecnologias (e acredito que elas também não gostam muito de mim, porque me abandonam quando eu mais preciso). Além disso, sou muito impressionável. Sei que hoje em dia a gente pensa (eu também penso) que não pode existir nada mais que choque ninguém. A humanidade já viu todo tipo de coisa estranha e de aberração. Quem já foi em Nove Iorque ou em São Paulo (e me perdoem os novaiorquinos e paulistanos, mas, como boa antiga que sou, sou também provinciana), não se espanta mais com comportamentos esquisitos, cabelos azuis ou figurinos estranhos pela rua. Por esse ângulo, encontro certa fascinação pela modernidade: que sonho, ninguém se importar com a vida dos outros! Mas, voltemos às perplexidades. Em uma das últimas (e poucas) leituras que fiz sem ser obrigada ultimamente, apenas uma página de revista conseguiu me deixar atordoada. Veja as notícias que trazia: "chegou ao Brasil a rede social para casados com o objetivo de promover casos extraconjugais", que, aparantemente, já é sucesso em vários outros países; "um novo aplicativo do Facebook, o If I Die, tem uma engenharia simples: (1) você faz uma mensagem em vídeo, (2) pede ajuda a três amigos, para atestar que você está morto e (3) você morre, deixando uma mensagem para todos" e, por fim, falava-se de pessoas que fazem vídeos com simulações de conversas entre cachorros e seus donos. Entre essas informações, uma professora que falava sobre as mazelas da educação brasileira e um pedido de casamento. Tudo em uma página. As três primeiras referências são as que mais me impressionam: a primeira, pela inversão de tudo; a segunda, pelo caráter doentio e arriscado (um curioso maníaco mataria para ver um vídeo desses!) e a terceira, pela sempre impressionante a mim, quantidade de tempo livre de que dispõem as pessoas, porque editar um vídeo desses dá um trabalho enorme (meus amigos Murilo e Fernanda que o digam). Enfim, eu não perco essa capacidade de ficar boquiaberta, eu não perco essa antiguidade - não me amoldo a essa época que vivemos. E você, é moderno?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A glance of love

Ela sempre concordou com as loucuras dele, embora lhe parecessem realmente sem sentido. Não que o amasse, porque seu coração, já tão machucado da vida, parece que não sabia mais amar. Ela gostava mesmo era da adrenalina das idéias inesperadas que ele tinha. Imaginem que um dia ele ligou para ela e lhe disse: "meu bem, te pego no trabalho hoje e vamos conhecer um lugar novo." Ela, pensando que iriam a um restaurante, arrumou-se, sem saber que terminaria a noite vendo o Sol nascer de dentro de um avião, rumo a não sei onde. E como se divertiram naquela viagem, talvez pelo simples fato de ser inesperada. Via-se claramente que entre eles não havia melancolia, nem drama, nem tristeza: só felicidade, aos montes. Por isso, ela nunca podia deixá-lo. Passaram-se anos, vieram os filhos, sem que o sorriso deixasse a alma dos meus amigos. Do rosto, fugia-lhes vez por outra, por causa dos problemas que traz a vida, mas eles sempre souberam que, sem ter um ao outro, a vida seria menos bonita. Eu os via de fora e achava-os tão perfeitos, até que um dia soube da doença dele, que foi tão cruel, levando-o em menos de duas semanas. No velório - ocasião simbólica para refletir sobre a vida e sobre a qualidade dos amigos que pensamos ter - ela não chorava. Quando conversamos, disse-me que já sabia há muito da doença do marido e que ele sobrevivera muito mais que as expectativas médicas. Disse-me, ainda, que não sabia como chorar por ele, porque a vida inteira, ele só lhe trouxera riso. Mas aprendeu. Conta-se que, depois daquele dia, ela chorou, inclusive durante o sono e as refeições, por seis meses seguidos. No primeiro dia do sétimo mês, acordou às cinco da manhã e, enquanto via despontarem os primeiros raios daquele Sol que era o mesmo dos dias felizes, algo dentro de seu espírito se acalmou. Parecia que também dentro dela o Sol retornava, cicatrizando as dores evaporadas, gota a gota, pelo tempo, e ela foi capaz, pela primeira vez, de vislumbrar o amor.