domingo, 26 de outubro de 2008

"- Você contou-me há bocado a tal história dos hipopótamos...Sabe perfeitamente que os animais não olham para o céu, e quando levantam a cabeça na sua direcção, é fechando os olhos para bramir com toda a força... E se o homem, esse, se tivesse aprumado para olhar a beleza do céu, de olhos muito abertos, fascinado pelo azul, a imensidade e o mistério das estrelas...Um desejo de imensidade... Como se urgisse, um dia, ligar o céu à terra, unir a força da gravidade ao infinito, a lama dos caminhos ao esplendor do firmamento... Os primeiros homens aprumaram os seus corpos, elevando-se na ponta dos pés, de braços estendidos para partir à conquista do céu..."
(Yves Simon)

Ontem à noite, quando cheguei da festinha da Aliança, Itamarzinho correu para mim: "Nena, foi tão legal a minha aula!" Mamãe o matriculou em um clubinho de leitura, lá no Centro de Cultura. Ele chegou empolgadíssimo, contando as histórias, e me soltou essa: "Você sabia que os homens são os únicos animais que olham para o céu?" Eu, que nunca li Yves Simon e, naturalmente, não sabia, fiquei pensando muito sobre isso.
Como metida a aspirante de filósofa que sou, não poderia deixar de imaginar os porquês disso. Minhas tentativas de laicizar os pensamentos, nesse sentido, foram vãs. O que escrevo é cristianismo puro, ou seja, é puro amor.
Todo mundo que me conhece sabe que eu sempre quis ir a Londres, na Inglaterra. Quando pego um mapa da Europa, ou mesmo um Atlas, há sempre um magnetismo que me atrai para lá. olho também para o Egito, para a Austrália, para o Peru e tantos outros lugares que eu gostaria de visitar. Gosto muito, também, de olhar para o mar: às vezes penso que gostaria de morar nele. Mas é confirmando o que Simon disse que eu revelo a melhor visão que encontro: adoro olhar o céu.
Sua grandeza, as lindas estrelas que parecem rir, como diz o Pequeno Príncipe, e a linda lua prescindem de descrições. Cada vez que olho o céu tenho mais certeza de que não somos daqui - há um lugar para além dos nossos olhos para o qual todos nós, ainda que secretamente, desejamos ir. O ímã que atrai os nossos olhos para cima, quando vagamos por aí, é a simples tradução do que o nosso coração mais almeja: o céu.
A única maneira de encontrar descanso para as nossas almas é assegurar-lhe de que estaremos lá, de fato. É quando aceitamos o lindo presente oferecido por Deus que os nossos olhos fitam o firmamento com mais que mero desejo - com certeza do seu cumprimento, com esperança, com... Contando os dias, que, embora de espera às vezes curiosa e ansiosa, são maravilhosamente bons.