quarta-feira, 26 de março de 2008

Acordou como todos os dias, inundada daquele sentimento matinal; nem feliz nem nostálgica: grata. Mas por quê? Sei lá, por respirar. Levantou-se, não tomou café - não dava tempo. Correu. Mas correr para quê? Não precisava chegar a lugar algum. Aliás, penso que corria para confundir seus pensamentos. Há dias, nem ela sabia sobre o que pensava. Sim, sempre soube quem era, mas nunca se entendera. Passou duas ruas e viu um homem (que, meu Deus, era um bicho - Bandeira diria, se estivesse aqui escrevendo) que catava comida do lixo. Teve um ímpeto de ajudá-lo, só que estava atrasada (mas para quê? eu me pergunto). Pensou no homem o dia inteiro, chegou a pedir aos céus por ele. Lembrou-se, já à noite, que o homem cantava. Imaginou que se chovesse, ele dançaria na chuva, e riu. Que pensamento bobo! E então descobriu que se atrasara - e será que tinha retorno? Será que agora poderia acelerar e recuperar o tempo perdido? Preocupou-se. Ou melhor, pós-ocupou-se. Atrasara-se para a consciência. Era feliz e não sabia. Descobriu que a felicidade é palpável, e tocou-a.