sexta-feira, 24 de setembro de 2010

trois, deux, un

É mistério, susto, tudo e nada. Segredo, claridade, esquecimento e lembrança. Passa, corre, voa.
Duvida?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

My motto: tudo passa

É engraçado como nós, meninas, temos ilusões loucas. Conseguimos, conhecendo um cara e sondando um pouco do seu caráter (ou, nas infelizes vezes, de sua beleza), já imaginá-lo nosso e, pior ainda, tê-lo quando queremos. É tão fácil gostar, entregar o coração, e tão difícil continuar analisando aquele que tantas vezes parece um príncipe, mas é um monstro disfarçado. Uma pessoa que a faz sofrer angustiada, chorar sempre, que não lhe dá paz, que gosta de vê-la triste, minha querida, não é uma pessoa que gosta de você. Aliás, tenha coragem de analisar os fatos: é uma pessoa que não tem nem consideração por você como ser humano. Embora leiamos as histórias e assistamos aos filmes em que os homens sofrem drásticas mudanças de caráter, eis o que eu aprendi, na vida e nas histórias reais: eles raramente mudam. Não confie nas exceções nem nas suposições. A felicidade, ao contrário do que pregam os românticos-românticos, não está na dor aguda do coração que não é amado, mas sim na paz que encontra quem se ama e se permite, assim, ser amado. Até Machado, o supra-sumo, se converteu ao realismo.
E veja o que encontrei nas minhas citações de alguns anos atrás:
"Metido com cabras... não se dava ao respeito... E ainda por cima, não se importava nem em negar... Mãe Nácia, porque naturalmente, no tempo dela, aguentou muitas dessas, diz que não vale nada... E a moça comparou Dona Inária à quelas senhoras de alma azul, de que fala o Machado de Assis... Foi então que se lembrou que, provavelmente, Vicente nunca lera Machado, nem nada do que ela lia. (...) Num relevo mais forte, tão forte quanto nunca o sentira, foi-lhe aparecendo a diferença que havia entre os dois, de gosto, de tendências, de vida.(...) Ele era bom de ouvir e de olhar, como uma bela paisagem, de quem só se exigisse beleza e cor. Mas nas horas de tempestade, de abandono, ou solidão, onde iria buscar o seguro companheiro que entende e ensina, e completa o pensamento incompleto, e discute as idéias que vêm vindo, e compreende e retruca as invenções que a mente vagabunda vai criando? (...) Já agora, o caso de Zefinha lhe parecia mesquinho e sem importância. Qualquer coisa maior se cavava entre os dois."
(Rachel de Queiroz, em O Quinze)

Que você, como eu, encontre quem complete o seu pensamento incompleto. Sei que encontrará.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Arte de Ser Feliz

(Eu faço essas divagações sobre a vida, e sabe quando às vezes você pensa: "isso se parece tanto comigo"? Pronto, não fosse pela superioridade poética, técnica e literária de Cecília, eu poderia ter escrito isso. Linda a arte, não é mesmo? Linda pré-tradução dos corações)

Houve um tempo em que a minha
janela se abria para um chalé.

Na porta do chalé brilhava
um grande ovo de louça azul.

Neste ovo costumava pousar
um pombo branco.

Ora, nos dias límpidos,
quando o céu ficava da mesma
cor do ovo de louça,
o pombo parecia pousado no ar.

Eu era criança,
achava essa ilusão maravilhosa e
sentia-me completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha
janela dava para um canal.

No canal oscilava um barco.
Um barco carregado de flores.
Para onde iam aquelas flores?
Quem as comprava?

Em que jarra... em que sala,
diante de quem brilhavam,
na sua breve experiência?
E que mãos as tinham criado?

E que pessoas iam sorrir de
alegres ao recebê-las?

Eu não era mais criança,
porém minha alma ficava
completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha
janela se abria para um terreiro,
onde uma vasta mangueira
alargava sua copa redonda.

À sombra da árvore, numa esteira,
passava quase o dia todo sentada
uma mulher, cercada de crianças.
E contava histórias.

Eu não podia ouvir, da altura da janela,
e mesmo que a ouvisse, não entenderia,
porque isso foi muito longe,
num idioma difícil.

Mas as crianças tinham tal expressão
no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.

Houve um tempo em que na minha janela havia um pequeno jardim seco.

Era um tempo de estiagem,
de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs vinha um pobre
homem com um balde e em silêncio,
ia atirando com a mão umas gotas
de água sobre as plantas.

Não era uma rega:
era uma espécie de aspersão ritual,
para que o jardim não morresse.

E eu olhava para as plantas,
para o homem, para as gotas de
água que caíam de seus dedos magros
e meu coração ficava
completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante
de cada janela, uns dizem que essas
coisas não existem, outros que só
existem diante das minhas janelas
e outros finalmente, que é preciso
aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Paráfrase pessoal: 1 Co. 13:1-7

Mesmo se eu conseguisse falar inglês, francês, italiano e russo, e ententesse, ainda por cima, línguas sobre as quais eu nunca ouvi falar, se o meu coração não amasse, eu seria como um juiz que acusa ou um promotor que julga, fazendo sempre a coisa errada. E ainda que eu compreendesse todo o mundo sobrenatural, o poder das orações tão lindas que ouço, e acreditasse tanto nisso de modo que pudesse curar pessoas ou andar sobre o oceano; ainda que eu entendesse todas as regras jurídicas e todo o Direito, se o meu coração fosse vazio, isso não seria importante. E mesmo que eu doasse todos os meus livros, todo o meu dinheiro e - o que me vale mais - todo o meu tempo, e mesmo que eu escolhesse morrer por alguém, se eu não amasse, isso não me serviria de nada. Quem ama pode sofrer, mas é sempre bondoso. Quem ama não tem inveja, não ignora as pessoas nem as inferioriza. Quem ama não tem prazer na imoralidade, sabe dar lugar ao desejo e ao anseio do outro, não briga muito, não se chateia com bobagem. Quem ama tem horror a ver as pessoas sendo injustiçadas e caluniadas, mas admira o que é justo. Quem ama tem uma força tão grande que pode sofrer qualquer coisa e ainda continuar crendo; pode esperar o tempo que for e pode dar suporte ao outro em qualquer circunstância.
O amor é o mesmo sempre.

Para amar um amor, é preciso, primeiro, ter a atitude de amar todos os queridos (e os não tão queridos também), com o amor que só Deus pode dar; o amor que é tão lindo, tão completo, tão perfeito, tão ágape, tão indescritivelmente real; o amor de que me tornei, por amor, pedaço.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Você não vale nada, mas...

Em um curso sobre teoria feminista do direito, ouvi um professor dizer o seguinte: "ser feminista é reconhecer que as mulheres às vezes estão em posição inferior às dos homens pelos mesmos esforços, entender que isso não está direito e engajar-se para mudar a situação."
Embora acredite na moderação, sei que muitas vezes, por suas opiniões políticas, as pessoas precisam tomar posições drásticas. Assim aconteceu com os chamados terroristas de esquerda, durante a ditadura (e assim, com Dilma, nossa horrorosa candidata à presidência, a quem reputo muitas falhas, mas não essa) e acontece com algumas mulheres que sentem tão fortemente o peso da opressão que se dispõem a romper com tudo. Assim aconteceu nos meados de 1850, em Nova Iorque, quando aquelas tecelãs entraram em greve porque recebiam três vezes menos que os homens pelo mesmo trabalho e foram assassinadas.
Ao longo da História, foram muitas as que se lançaram à luta para que hoje eu pudesse ir à Universidade, para que eu pudesse ter amigos homens sem que me acusassem de prostituta, para que eu pudesse falar em público, para que eu pudesse estar aqui, agora, escrevendo sem medo.
Se eu não tenho um pingo de respeito próprio, que eu respeite, então, a luta e o sangue alheios. Dramático, não? - c'est la vie.
Pois bem, vamos ao que interessa: desde muito pequenininha, escuto forró. Encanta-me Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Petrucio Amorim e por aí vai. Papai, com suas origens brejeiras, nunca nos poupou do bom ritmo. O que me irrita são as pessoas que vivem chamando suas músicas inescrupulosas a respeito de prostituição e sexo 'forró'.
E que não me critiquem por abominar esse dejeto a que chamam música. Não é "uma questão de gosto". É uma questão de mínimo de respeito.
E esse ultraje brasileiro é reconhecido internacionalmente. O comitê para a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher, em relatório sobre o Brasil, fala continuamente de uma mídia, legitimada por nós, mulheres, que nos coloca como objeto de consumo, que agride a nossa imagem, que faz de nós lixo ou nada.
Então, minha querida, da próxima vez que você ligar o seu forrozinho machista, lembre que alguém já morreu se defendendo disso. Ou não lembre - talvez você não consiga valer nada mesmo.