quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Enquanto posso dizer que adoro pingüins!

Ontem, no Centro de Cultura (é assim que chamam o prédio de Zarinha, agora), recebi um papel com as mudanças que a nossa língua sofrerá. Sai um monte de hífen, acento diferencial, trema e até os circunflexos! Hermann Neto é que não deve estar nem um pouco satisfeito: a crase fica! Ainda bem que Maria Valéria Rezende escreveu o Vôo da Guará Vermelha (por sinal, muito bom) antes dessa reforma, porque eu acho que depois dela, nada mais voa em substantivo, ninguêm mais crê, lê, dá nem vê na terceira pessoa do plural, no subjuntivo. Quer dizer, pode-se até dizer que eles leem, mas convenhamos que fica meio capenga. Daqui a uns 15 anos, vão, "mutatis mutandis", chegar dizendo que agora não é /lêêm/ que se pronuncia, mas /lim/, para anglo-saxonizar a fala também! Não quero ser mal interpretada, eu não sou totalmente contra a reforma: as coisas simples são boas, mas é como se quisessem empurrar uma nova língua pra cima de mim. É como uma prótese no dedo mindinho, que embora pequena, significa muito. Já imaginou um diálogo com seus netos?

- Você comprou muitas coisas, minha querida?
- Para Sagui!
- Para Sagui? E quem é essa?
- Não, não escou falando com você, vovó. Estou dizendo Para Sagui.
- Hã?
- Tem um sagui aqui do meu lado.
- Ah! 'pára sagüi'.
- Nossa, vovó. Nem escreve isso por aí, vão pensar que você deu um voo pra assembleia dos milenários. E como andam os textos?
- Ando escrevendo sobre pingüins, descobri coisas novas. Seus irmãos me lêem todos os dias.
- Ô, vovó! 'pingüins', 'lêem'! É quase um museu vivo! Você me diverte!