domingo, 13 de abril de 2008

Criaturículas

Amava-os tanto, queria que eles entendessem o porquê, mas eles viviam em um grãozinho de areia, e nunca o entenderiam por completo. Às vezes, penso que achava engraçado ver aquelas criaturas menores que um grão pensando que sabiam ou eram alguma coisa, correndo apressadas, atrasadas, ocupadas, como se não soubessem que tudo estava sob controle (e não sabiam mesmo). Tinha-lhes dado olhos, mas a maioria deles crescia cega, nem viam aqueles lírios no campo (e achava-os singularmente lindos) que, apesar de não trabalharem, sobreviviam melhor que muita gente; tinham ouvidos, mas raros eram o que escutavam as coisas necessárias. Outras vezes, sentia orgulho deles, apesar de muitos o negligenciarem. Sentia orgulho de tê-los criado. E era tão grande. O pó de seus pés era como as nuvens do mundo das suas "criaturículas". Tinha alguns ajudantes, que também não compreendiam que ele amasse tanto aqueles "minúsculos pontinhos" - e era como esses anjos chamavam os homens, vez por outra repreendidos, já que ele não gostava que os chamassem assim, porque eram a sua imagem; eram como seu rosto refletido num rio. Ah, e a imensidão dos rios não era nada, diante da sua grandeza. Tentava tanto mostrar-lhes esse amor, e tudo o que mais queria era que suas criaturas entendessem que o mister é aceitar seu amor, não compreendê-lo. Mas tinha-lhes dado também inteligência, sabedoria. Para alguns poucos, até espírito crítico. Queria que o amassem, também, mas não com emoções: com racionalidade - era inteligível, embora não de todo compreensível.
(...)
E faz festas de arromba, sempre que alguém raciocina e escolhe aceitar seu amor. Faz festas e celebra, porque os ama.

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(Eu nunca entenderei, Senhor. Não mereço, mas preciso do Seu amor! Muito obrigada, muito obrigada por tudo o que o Senhor é!)

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Há de se ter cuidado com tudo o que se diz. Nossas palavras são compromissos selados, que não voltam atrás. Pode-se consertar de um lado, querer emendar do outro, mas não há como retirar o que se diz; não existe maneira de uma bala retornar à arma, as flechas não voltam aos arcos.
Os homens da minha família, com sua forte influência sertaneja, sempre disseram que tudo o que um homem tem é a sua palavra. E o afirmam com tal firmeza, de modo que ouvi-los é respeitá-los. Cresci vendo todas as promessas que me foram feitas realizarem-se, mesmo que fosse um sorvete ou uma volta no shopping - que eu tanto adorava, lembro-me como se fora ontem (e não fora mesmo?). Sempre foram intolerantes, nunca descumpriram uma promessa. Mainha, que também é uma "mulher macho", como dizem por aqui com as mulheres fortes, nunca faltou com a palavra. É lógico que foram realistas, só prometeram o que cumpririam.
Quando lembro disso, lembro também que os admiro um bocado, admiro sua honra, mas penso que devo ter cautela com as promessas que faço. É tolice prometer amar alguém para sempre, por exemplo. É, também, estúpido, prometer algo para daqui a anos, quando não temos o mínimo controle sobre o amanhã.
Devemos, sim, falar, dizer, prometer, expressar-nos. Do mesmo modo, devemos lançar os dardos com precisão: nem sempre podemos nos explicar, quase nunca há outra chance.

(Não sei se amar-te-ei para sempre, mas prometo amar-te hoje, é o que posso cumprir)