terça-feira, 9 de setembro de 2008

Antônio Conselheiro foi um biruta que saiu andando pelos sertões, depois de duas decepções amorosas, há quem diga, lendo a Bíblia, pregando que o sertão ia virar mar. Os sertanejos seguiam-no felizes, por livre vontade. Ele não convidava ninguém. Andava, o povo ia atrás. Chegando na fazenda do Belo Monte, montou acampamento, e seus seguidores construíram uma cidade, de uns 25 mil habitantes. As pessoas, desesperadas, morrendo de fome, pagando elevados impostos, viam em Conselheiro um refúgio, uma segurança. Quando as expedições do exército brasileiro vinham enfrentar os canudenses, estes se jogavam contra os soldados armados, sem medo. Eram bravíssimos. Euclides da Cunha, em sua história de Canudos, diz que o sertanejo é, antes de tudo, um forte. O que me impressiona é a disposição que eles tinham para lutar, arriscando suas próprias vidas, porque o Belo Monte era a única coisa que eles tinham na vida. Tenho confrontado minhas amigas com a seguinte frase: "você, por acaso, tem alguma coisa?", e as brincadeiras já brotam aos montes. A resposta, eu mesma dou, é: "não, você não tem nada." Na verdade, apesar de não sermos donos de muita coisa, nós, cristãos, somos felizes, paradoxalmente, por ser propriedade de alguém. Entregamos nossa vida a Cristo, e Ele se torna o nosso tesouro. Mas, ao ver nosso comportamento e compará-lo com o dos canudenses, penso em quão fracos somos. Não nos dispomos a lutar por Cristo, que, ao contrário da esperança de Canudos, dá-nos uma certeza eterna. Admira-me quem luta pelo que tem. É, para mim, formidável, o exemplo dos missionários que se jogam contra os exércitos inimigos, para compartilhar o amor de Deus. Eu também gosto de lutar, todo mundo gosta. O problema é que, muitas vezes, lutamos pelo que não temos, ou pelo que achamos que temos: lutamos pelas nossas conjecturas, ao invés de batalhar pela única coisa que realmente vale a pena. É necessário mudar. Como disse Alexandre ao seu soldado, é mister escolher: muda-se a atitude ou o nome.