sábado, 31 de dezembro de 2011

Desejos para o novo ano

Temos o costume de, neste dia, olhar para trás e admirar nossas conquistas do ano que passou, refletir sobre os maus momentos, sempre tão cheios de significado. Eu também gosto de fazer isso, mas não hoje. Hoje eu quero apenas desejar a mim mesma e a quem me lê muitas coisas boas, coisas de propaganda de fim de ano. Escrevi a um amigo meu muito querido essa semana, desejando que tivesse muito sucesso, que é, em suma, ser feliz. E a nós todos, desejo o mesmo. Que você possa, antes de estabelecer novas metas, completar as que ficaram incompletas. Que ame mais, porque isso nunca é demais. Que você olhe para o outro com mais afeto e compaixão. Que ache graça das coisas que dão errado. Que você se aborreça menos, aceitando mais os seus defeitos e os dos outros. Que você conserve os bons amigos que tem. Que se comprometa fielmente a ver coisas bonitas todos os dias, porque, como dizia R. Waldo, "beauty is God´s handwritting." Que você valorize a sua família, se tiver uma. Que busque a Deus, melhor descoberta e melhor presente que se pode ter. Que você lute muito pelos seus objetivos, e que os alcance. Que você encontre sabedoria para lidar com os bons e maus momentos que a vida, inevitavelmente, trará. Que, se ainda não achou um amor, encontre-o. Que, se achou um amor que te faz mal, se livre dele. Que você seja, enfim, muito feliz. Tão feliz quanto souber ser. É isso que eu preciso ler este ano, e espero que a você também sirva, sem muito lirismo, mas de coração.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Pois, de vez em quando, é parar e pensar: onde estão as palavras? Em que recôndito de alma esconderam-se por todo esse ano? E o lirismo difícil e pungente, de que fala o Bandeirinha? Onde se meteu? Não sei. Sei que a libertação eu busco, busco sempre. Às vezes encontro; outras, fecho os olhos com muita força para não achá-la. Mas a danada, como se tivesse um ímã com a minha mente, procura-me e agarra-se a mim. Então, preciso escrever e constantemente. Só que agora, há menos poesia nestas teclas de plástico, e muito, muito mais, nos rascunhos da vida, de papel e caneta (tentei escrever de lápis, mas é pouco realista: quase nunca, na vida, podemos apagar e fazer de novo).

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Ela o amava muito. Tanto que os dias que esperava para vê-lo lhe pareciam nada, e as horas que passavam juntos era o mundo. Ele gostava da presença dela, mas era pouco. Tão pouco que a ausência era ar, e a presença, sufoco. Ela cuidava muito dele, procurava alegrá-lo em tempos cinzas. Ele lhe contava todos os seus problemas, como quem joga papel velho no lixo. Ela ouvia com paciência e atenção, que, no começo, eram genuínas, mas depois tornou-se mecânica, até que um dia - e graças aos céus, esse dia chega a todo apaixonado - a razão voltou à casa. É quando essa nossa companheira de vida retorna de onde a emoção a expulsa aos pontapés que percebemos se o amor, a tentativa de convívio entre a senhora do lar e a intrusa, existe. Esse eros de que tanto falamos precisa disso: razão e loucura habitando a mesma casa, alternando a posição de destaque. Quando a euforia se estabiliza - porque, nos verdadeiros amores, não se acaba nunca -, é hora de encarar os sentimentos e decidir nosso destino. Alguns temem tomar as rédeas nesse momento, pensando que não precisamos, realmente, decidir. Enganam-se. Dizia não sei quem: "quem não vive a vida, é por ela vivido." Ela procurou dentro de si o sentimento de outrora, mas encontrou nada. Ela o amava pouco. Ele, por outro lado, começava a pensar mais nos dois, nas horas que dividiam. Não podia esperar para vê-la, ela que se preocupava tanto com ele. Ele queria agora retribuir-lhe, saber dela. Mas o amor é planta rara e só aceita água no momento preciso do crescimento. Depois, não serve. Ela não o veria mais. Ele a amava muito.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sobre Londres

Quando passei no vestibular, tive o prazer de conhecer e me encantar por Londres, que, ao contrário do que reza a lenda, não é cinza. A cidade é linda, as pessoas quase sempre educadas, há muito o que ver, o sotaque é perfeito, mas não é só isso. Existe lá um aconchego que não se encontra em qualquer lugar. Parece casa. Não consigo explicar. Sempre me disseram que eu tinha essa opinião porque nunca havia visto Paris. Pois agora vi, mas nada mudou. Quando cheguei de novo a Londres, vi as estações de metrô, os ônibus vermelhos e os taxis pretos, as pessoas correndo de um lado para o outro, a Regent's e Westminster, tanto sentimento surgiu. Quando vi o pôr-do-sol da London Eye, as lembranças tomaram conta de mim e saíram em forma de lágrima. Era a mágica, as lembranças - muitas - e a gratidão a Deus, por ter criado algo tão lindo, e por permitir que isso fosse parte de minha vida. Tenho ainda saudades e espero poder voltar muitas vezes a visitar essa cidade, que tanto me fascina.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Mitos (para meninas)

Quem nunca acreditou em algo absurdo, atire a primeira pedra. Quando eu era pequena, meu irmão mais velho, que sempre brincava muito comigo, apesar dos oito anos que nos separam, dizia que se eu cavasse um buraco muito fundo na areia do mar, chegaria à China. Minhas asinhas querendo se desenvolver precocemente me faziam cavar por minutos (que pareciam horas) a fio, mas nunca cheguei à Grande Muralha. Especialmente quando somos crianças, nossas vidas são repletas de mitos e fantasias, que embora não sejam a realidade, nos ajudam um pouco, seja para a compreensão do mundo de que precisamos, seja para as nossas brincadeiras ou apenas para o colorido forte que tem a vida nos primeiros passos. Porém, (in)felizmente, crescemos e - pelo menos os que procuram uma pitada de normalidade - abandonamos as antigas estórias, que se tornam nossas anedotas, nossos contos em dias de domingo com a família, quando, inclusive, inventamos mitos para os novos pequenos. É o natural, não? Mas algumas dessas crenças  ingênuas da infância e do começo da adolescência, arraigam-se de tal forma às nossas almas que nos tornamos eternos atores dos dramas que criamos. Principalmente as meninas. Como podemos ser bobas! Tendo escutado algumas histórias de amor - que a mim parecem de horror - nos últimos dias, senti-me compelida a enumerar fatos da vida, para, quem sabe, conseguir derrubar um mito aprisionador de alguém, ou, para ser mais platônica, tentar tirar alguém da caverna escura.

1. Homens não fazem joguinhos - a cabeça deles é muito mais "black-and-white."
2. O amor pode sofrer qualquer coisa, mas você não precisa ser um mártir todos os dias da sua vida.
3. Se o cara trata mal todos os outros seres humanos, menos você, cuidado, cuidado, cuidado.
4. O cara foi um canalha a vida inteira, mas agora virou um anjo. Se você acredita, provavelmente está comprando ingresso para assistir, em espetáculo interativo, a maior mentira de todos os tempos. Acontece, mas só de duas maneiras: (1) ou é uma raridade, e aí, duvide, (2) ou Deus mudou, e aí, preste atenção, para não se confundir.
5. O cara te trata pior que gato e cachorro, arranja outra, acaba, volta, acaba, volta, é notadamente perturbado (dica: as mães são especialmente boas para identificar perturbação!), mas diz que te ama, ou, pior, ele nem diz, mas você desconfia que no fundo, ele te ama, e vive em função disso. Dispensa comentários?
6. Amar é bonito.

Tente pensar objetivamente na sua pretensa love story. Se fosse a vida de outra pessoa, que conselho você a daria? Dê a si mesma.
Seja menos ingênua para o que a faz sofrer, enxugue suas lágrimas, abra bem os seus olhos e jogue fora sua descrença, porque "love is everywhere, I see it."

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A pessoa mais linda do mundo

Hoje, ninguém elogiou meus brincos
Mas quando cheguei em uma loja
Que vendia todas as coisas do mundo
Um bebê olhou-os e deu um riso gostoso
Como se o brilho dos brincos fosse
A coisa mais linda do mundo

Hoje, ninguém disse que me ama
Mas quando acordei e senti o calor do dia
E quando minha mãe e meu pai me abraçaram
E quando meu irmão perguntou se eu queria
Um sorvetinho que fosse
E quando vovó me disse uma piada,
Senti-me extremamente amada

Hoje, ainda não me disseram que sou bonita
Mas ao sentar-me para comer,
Uma menina, seis, sete anos, disse à mãe,
Do meu lado: "que moça linda"
Naquele momento, fui a pessoa mais linda do mundo

De muito pouco valem as palavras ditas diretamente, se podem ser tão falsas. Acredito que são um desejo do que gostaríamos de sentir, e menos o que realmente sentimos. A palavra, poder nosso, deve ser usada, mas só quando já tivermos feito tudo o que poderia exprimir o que queremos dizer. Então, a palavra só é forte quando é supérflua?

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Elogio das faces limpas

Enganamo-nos a nós mesmos. Nosso futuro é tão cheio de planos que nos é difícil encarar quem realmente somos agora: bem-sucedidos ou não; amigos ou não; sinceros ou não. Vivemos a pensar e dizer aos outros que seremos isso ou aquilo, que queremos um emprego, que milhões de coisas. Mas na verdade, quem é você hoje? Dos planos que você fazia há dois anos, quantos completou? Ou será que viverá a projetar futuros que nunca chegam, a planejar realidades que não se concretizam, a fazer parte de um espetáculo cujo único que crê no destino é você? Ou você acha que quem vai ao circo acredita no número tanto quanto o palhaço? Aliás, como é lindo o palhaço, sua maquilagem contente que nos faz querer esquecer os problemas do mundo e admirar as cores, a arte, o que a vida pode ser. Com certeza, essas criaturas alegram mais que muitas dessas igrejas de nossos dias.
Ao fim do dia, porém, os palhaços tiram suas pinturas fora, e prefiro imaginar que olham bem dentro do espelho, para os seus olhos, lembrando-se de quem verdadeiramente são. E você, menina, moça, mulher, com seus quilos de maquilagem que a tornam irreconhecível? Você sabe quem é? Depois de tanta base e tanto pó, você ainda se lembra da sua face, da realidade? E você, menino, rapaz, homem? Existe de verdade, ou é só uma autoilusão?
Debaixo de tanta pintura, de tanta aparência, de tantos planos, você consegue se enxergar? Consegue ver quem é, de verdade? E gosta do que vê? E muda? Ou simplesmente reforça a maquilagem?
Be something true.

sábado, 23 de julho de 2011

Insondáveis caminhos, os Teus, mas perfeitos.

Querido Papai, quantas vezes cantei que o Teu vento sopra onde quer! Incrível mesmo é ver que, na direção das Tuas frentes aéreas, me movo eu também. De malas prontas, desfaço-as e fico. Com a mente feita para uma decisão, deixo-a de lado só por Ti. Muito te questiono, por tudo. Tua sabedoria insondável me fascina. Quando se diz em provérbios que 'não há sabedoria alguma, nem discernimento algum, nem plano algum que possa opor-se ao Senhor', quer-se dizer que Tu, verdadeiramente, estás no controle das nossas vidas. Paizinho, por muitas vezes não sei que decisões tomar, mas sei que quero sempre e sempre mais fazer a Tua vontade. Ao Te encontrar, encontrei o amor real e nasci de novo. Assim, talvez seja essa a minha vocação: ir aonde o Teu vento me levar. Eu confio em Ti, Papai. E mesmo que tudo se fizesse escuro, eu ainda assim em Ti confiaria, porque não há nenhum outro lugar para onde ir. Assim como para o salmista, para mim "melhor é um dia nos teus átrios do que mil em outro lugar."


(havia começado a escrever em 24/07/2009, quando faria uma viagem e, saindo de casa para o aeroporto, recebi um telefonema dizendo que seria cancelada e adiada para a semana seguinte; minha mãe não me deixou ir; eu partiria no dia que meu pai sofreu o acidente, quase perdendo a vida - Deus sabe de todas as coisas. Nem uma folha seca cai sem a sua permissão, por isso devemos sempre ser gratos, até pelo que se nos afigura sem lógica)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Você é atual?

Semana passada, assisti àquele filme estranho chamado Divã. Em um dos diálogos, uma personagem diz algo que poderia sair da minha boca. Não me lembro as exatas palavras, mas o sentido era este: "Eu sou antiga, amiga. Desde nova, eu sou antiga." É que também eu sempre quis encontrar um amor, sempre sonhei em construir uma família. Eu, desde a minha adolescência, tenho pavor a barulho, e troco, sem hesitar, um show por uma conversa com meus amigos queridos. A quietude, enfim, é uma de minhas companheiras mais estimadas. Não sigo as tendências mais extravagantes da moda, não escuto as músicas que são sucesso no momento, sou praticamente uma analfabeta das novas tecnologias (e acredito que elas também não gostam muito de mim, porque me abandonam quando eu mais preciso). Além disso, sou muito impressionável. Sei que hoje em dia a gente pensa (eu também penso) que não pode existir nada mais que choque ninguém. A humanidade já viu todo tipo de coisa estranha e de aberração. Quem já foi em Nove Iorque ou em São Paulo (e me perdoem os novaiorquinos e paulistanos, mas, como boa antiga que sou, sou também provinciana), não se espanta mais com comportamentos esquisitos, cabelos azuis ou figurinos estranhos pela rua. Por esse ângulo, encontro certa fascinação pela modernidade: que sonho, ninguém se importar com a vida dos outros! Mas, voltemos às perplexidades. Em uma das últimas (e poucas) leituras que fiz sem ser obrigada ultimamente, apenas uma página de revista conseguiu me deixar atordoada. Veja as notícias que trazia: "chegou ao Brasil a rede social para casados com o objetivo de promover casos extraconjugais", que, aparantemente, já é sucesso em vários outros países; "um novo aplicativo do Facebook, o If I Die, tem uma engenharia simples: (1) você faz uma mensagem em vídeo, (2) pede ajuda a três amigos, para atestar que você está morto e (3) você morre, deixando uma mensagem para todos" e, por fim, falava-se de pessoas que fazem vídeos com simulações de conversas entre cachorros e seus donos. Entre essas informações, uma professora que falava sobre as mazelas da educação brasileira e um pedido de casamento. Tudo em uma página. As três primeiras referências são as que mais me impressionam: a primeira, pela inversão de tudo; a segunda, pelo caráter doentio e arriscado (um curioso maníaco mataria para ver um vídeo desses!) e a terceira, pela sempre impressionante a mim, quantidade de tempo livre de que dispõem as pessoas, porque editar um vídeo desses dá um trabalho enorme (meus amigos Murilo e Fernanda que o digam). Enfim, eu não perco essa capacidade de ficar boquiaberta, eu não perco essa antiguidade - não me amoldo a essa época que vivemos. E você, é moderno?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A glance of love

Ela sempre concordou com as loucuras dele, embora lhe parecessem realmente sem sentido. Não que o amasse, porque seu coração, já tão machucado da vida, parece que não sabia mais amar. Ela gostava mesmo era da adrenalina das idéias inesperadas que ele tinha. Imaginem que um dia ele ligou para ela e lhe disse: "meu bem, te pego no trabalho hoje e vamos conhecer um lugar novo." Ela, pensando que iriam a um restaurante, arrumou-se, sem saber que terminaria a noite vendo o Sol nascer de dentro de um avião, rumo a não sei onde. E como se divertiram naquela viagem, talvez pelo simples fato de ser inesperada. Via-se claramente que entre eles não havia melancolia, nem drama, nem tristeza: só felicidade, aos montes. Por isso, ela nunca podia deixá-lo. Passaram-se anos, vieram os filhos, sem que o sorriso deixasse a alma dos meus amigos. Do rosto, fugia-lhes vez por outra, por causa dos problemas que traz a vida, mas eles sempre souberam que, sem ter um ao outro, a vida seria menos bonita. Eu os via de fora e achava-os tão perfeitos, até que um dia soube da doença dele, que foi tão cruel, levando-o em menos de duas semanas. No velório - ocasião simbólica para refletir sobre a vida e sobre a qualidade dos amigos que pensamos ter - ela não chorava. Quando conversamos, disse-me que já sabia há muito da doença do marido e que ele sobrevivera muito mais que as expectativas médicas. Disse-me, ainda, que não sabia como chorar por ele, porque a vida inteira, ele só lhe trouxera riso. Mas aprendeu. Conta-se que, depois daquele dia, ela chorou, inclusive durante o sono e as refeições, por seis meses seguidos. No primeiro dia do sétimo mês, acordou às cinco da manhã e, enquanto via despontarem os primeiros raios daquele Sol que era o mesmo dos dias felizes, algo dentro de seu espírito se acalmou. Parecia que também dentro dela o Sol retornava, cicatrizando as dores evaporadas, gota a gota, pelo tempo, e ela foi capaz, pela primeira vez, de vislumbrar o amor.

terça-feira, 17 de maio de 2011

A mim mesma

"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus."

Eu acredito que há pessoas que, a cada dia, constroem uma barreira a mais entre elas e Deus. Digo "a mais", porque a primeira, que temos que quebrar todos os dias, é a do pecado. A outra, para mim, parece ser ainda mais espessa que aquela. Nossa crença de que sabemos de tudo e podemos, portanto, controlar tudo, faz com que nos tornemos cada vez mais separados de Deus, que se torna, para muitos, o último recurso. Se não tiver mais nada que se possa fazer, aí sim, vamos atrás dEle (ou bem poderia ser de qualquer outra coisa que garantisse o resultado, inclusive o "santo" dos pulinhos - existe?). Além dessa nossa pretensa autossuficiência, também pensamos ser muito sábios e desprezamos a instrução bíblica, tão acurada, que diz, entre outras coisas: "não se preocupem com o dia de amanhã"; "aos Seus amados, Ele o dá enquanto dormem"; "venham a mim, os que estão cansados e sobrecarregados e Eu os aliviarei" e "melhor é ter pouco com o temor do Senhor do que grande riqueza com inquietação". São essas pessoas, que "se bastam", as que me parecem mais distantes de Deus. Tão distantes que hesitamos até em falar-lhes sobre qualquer assunto religioso.
Queremos mesmo ser independentes e, falo por mim, nossos esforços diários são para isto: alcançar, cada vez mais, uma independência material. Isso é lindo e é processo por que todos os seres humanos devem passar, sob pena de se tornarem navios encalhados nos portos da vida. Acredito também que é preciso estudar muito e libertar a mente, permitindo-lhe pensamentos altos e quiçá completamente diferentes do que se já sonhou em pensar. Por fim, creio que a alma e o espírito devem ser livres, em um padrão distinto - e por isso creio que há muitos espíritos aprisionados sob uma máscara de autossuficiência. Espírito livre é aquele que recebeu a Verdade de Cristo em si e que, dessa forma, é suficientemente liberto para reconhecer sua dependência de Deus, para admitir que longe dEle, a vida faz menos sentido. Sobretudo, um espírito livre é aquele que já se encontrou consigo mesmo e com a verdade de que não podemos nos desvincular: não temos real controle sobre nada. Se, a partir dessa compreensão, entregarmos nossos caminhos a Deus, de verdade, seremos menos angustiados, mais confiantes e mais felizes. É claro que não é tão fácil. Nossa ânsia humana é a de puxar para nós tudo, tudo, tudo, sempre. Mas, com um pouco de fé, tudo é possível.
Nesse sentido, recorre-me o dizer de Martin Luther King Jr.: "Eu segurei muitas coisas nas minhas mãos e perdi tudo, mas, aquilo que eu entreguei nas mãos de Deus, ainda possuo."

sábado, 7 de maio de 2011

Mamazita

Eu poderia dizer que minha vida anda muito corrida ultimamente, mas seria injusto e mentiroso, porque, na verdade, minha vida é muito corrida: falando de maneira franca, foi este o ritmo que eu sempre quis lhe dar. É assim que eu gosto de ser, mas de vez em quando me dá um cansaço e a única coisa que eu quero fazer é parar. Mas não é fácil. A sensação é como pular de um trem em movimento, sabendo que você vai ter que voltar antes que passe o último vagão. Tenho aprendido, contudo. A ser mais paciente e mais contemplativa e menos aperreada - quem vive ao meu redor sabe. E sabe também que nada é mérito meu. A compreensão menos rasa da Palavra Divina me tem feito ver que "há tempo para tudo" tem um significado mais profundo. Além disso, as lições de minha mãe, que tem o triplo de minhas obrigações - e as cumpre com mais excelência - me fazem ver outras cores na vida. Suas lições são faladas e vividas e baseiam-se, principalmente, na filosofia - nossa, de sempre - de Lulu Santos: "tudo passa, tudo sempre passará." Às vezes chego em casa tão acabada do dia, olho para tudo o que tenho que fazer, e escolho a companhia de mainha, que é mulher sábia. Neste dia que chamam das mães, sinto o impulso de dizer, a quem quiser ouvir, que amo muito minha mãezinha, que sou grata a Deus pela sua vida e a ela por me apoiar, me acalmar,  me amar, me aconselhar e estar presente nos momentos mais importantes - e também nos menos importantes, no coditiano - de minha vida. Acredito na escrita (e nos gestos) como as formas mais sublimes de expressar sentimentos, mas, para demonstrar como amo minha mãe, até isso me é insuficiente.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sim, eu amo a mensagem da Cruz

"Certamente, a palavra da Cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, é poder de Deus." (1 Co. 1:18)
  
Ontem, domingo de páscoa, além de agradecer com maior intensidade a Deus por Cristo e, portanto, de me alegrar por isso, surpreendeu-me também a linda pregação a que pude assistir. O pastor, referindo-se à igreja de Corinto (a seu grande misticismo, aos judeus que queriam um sinal e aos 'sábios' gregos), afirmava que tanto quanto eles, a Igreja de hoje precisa ouvir a carta de Paulo, e pregar Cristo, "e este cruficicado." Contou-nos, ainda, de um treinamento para líderes evangelistas que havia frequentado fora do país, no qual se falava do plano de salvação inteiro sem fazer menção à Cruz, ao arrependimento dos pecados e à mudança de vida pela ação do Espírito Santo, ao que ele, um japa de feições muito curiosas, perguntou: "E a cruz?" O professor (porque de pastor não creio que se possa chamar) lhe disse, em resposta, que o homem pós-moderno não estava preparado para a mensagem da Cruz e que deveríamos abordar o evangelho de outra maneira, falando do amor e das boas obras, a fim de construir um mundo melhor. Tudo muito bonito, mas não cristão. Uma vez, no livro de C.S. Lewis, Mere Christianity, li sobre a palavra gentleman, que outrora significava "homem rico", mas, com o tempo, foi-se utilizando tanto para pessoas gentis, que o seu significado mudou. Parece, diz ele, que é o que tem acontecido à palavra cristão. Há quem pergunte: "uma pessoa que só faz o bem aos outros mas não acredita em Deus não é mais cristã que uma que não ajuda ninguém?" Denomina-se cristão, agora, uma boa pessoa? De maneira alguma. Cristão é quem crê em Cristo e segue Cristo. A Bíblia é clara ao dizer que "pela graça sois salvos, e isso não vem de vós, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie." E a graça de Deus, meus queridos leitores anônimos e conhecidos, é expressada no sacrifício de Cristo. O mundo pecador, sem ligação com o Pai, recebeu, de Suas mãos, o Filho (Emanuel, Deus Conosco), para morrer pelas nossas transgressões, nos permitindo o perdão dos pecados e, consequentemente, a comunhão com Deus. Contudo, a morte não o deteve: depois de três dias, Cristo ressuscitou e subiu aos céus, deixando, para habitar em nós, o Espírito Santo. Cristo, portanto, vive. Ou como disse o anjo a Maria (e por certo repetiria àqueles que insistem em deixar Jesus na Cruz): "não está mais aqui; ressuscitou." Deus não enviou o Seu Filho à Cruz para que tivéssemos muitas bênçãos materiais (como muitos pretendem), nem para que falássemos nas línguas dos anjos, nem para que esquentássemos bancos de igrejas: Deus enviou Cristo para nos salvar, perdoar os nossos pecados, fazer de nós novas criaturas e nos usar para alcançar outras vidas. Aliás, é isso o mínimo que podemos fazer. Rick Warren, em uma de suas pregações, pergunta: "se você encontrasse a cura para o câncer, o que faria? Certamente sairia correndo e espalhando aos quatro ventos." E nós, meus queridos, que conhecemos o lindo amor de Deus, o Seu poder para transformar vidas - nós, que conhecemos o Caminho, a Verdade e a Vida - será que não deveríamos contar também aos outros? Sem misticismos exagerados, sem promessas de bênçãos, sem tanto "fogo", a simples mensagem da Cruz, que é poderosa para salvar.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Se conseguíssemos atender ao mandamento de amar ao outro como a nós mesmos, e, por via de consequência, se nos importássemos mais com o outro, o mundo ao redor de nós seria menos triste, menos trágico. Mas nossas preocupaçõs cotidianas e a nossa crença inabalável de que o nosso sucesso é o que mais importa tornam inaudíveis os gritos de socorro de tantos que, bem pertinho de nós, morrem de fome, de frio (e também de tristeza, de solidão). Engraçado que quando a necessidade é nossa, queremos o mundo inteiro a nos assistir. E o outro? Que eu e você tenhamos olhos bem abertos e que os nossos olhos consigam ver.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Gente como você

Prefiro mesmo falar das vidas que invento: das pessoas que vejo na rua e viram protagonistas de histórias com que tenho sonhado; dos meus sonhos cotidianos que se materializam em palavras e dos meus bonequinhos, que, sendo puro éter, são também de carne e osso. São tão fortes e tão frágeis quanto a alma humana e os anseios nossos. Idealizar nunca foi meu forte. Pelo menos não quando se trata de pessoas. E, portanto, confiar nelas também não. Uns dias isso é bom, outros, terrivelmente ruim, porque parece que os seres humanos, tanto quanto as minhas pequenas criações, merecem certo crédito. Os mais verdadeiros, sobretudo. Deixo a dica: dos muito perfeitos, dos muito simpáticos (e também o oposto: dos profunda e constantemente tristes, dos que nunca sorriem), deve-se desconfiar. Nossas personalidades têm músculos e peles diferentes, e isso é o que nos torna lindos, mas nosso esqueleto - acredite - é o mesmo: uma grande mistura de tudo. A quem falta pelo menos um pouco de imperfeição, é difícil crer que seja real.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Pontos, contrapontos, contracontrapontos e vírgulas.

Um dia desses, conversava com Danilo, um de meus colegas de sala, metido como eu a escrever - só que ele, muito mais arriscado, faz poesia - quando nos vimos num impasse. Eu que, como se pode notar de minha escrita, procuro ter opiniões moderadas, mas quase nunca consigo, fui correndo me assegurar de que eu e ele ficamos bem - concordando em parte e discordando em parte. A resposta foi que sim, claro que tudo bem, porque, como dizia uma frase que ele lera no mesmo dia, é conversar com quem discorda da gente que enriquece. Verdade pura. Acredito que o aprendizado - não só das técnicas, mas acima de tudo da vida - vem com a inquietação. E a inquietação vem com o contraponto razoável. É pensando no que de diferente pensa o outro que a minha visão de mundo pode se alargar, e - quem sabe - minhas opiniões podem mudar. Não quero dizer ser a metamorfose ambulante de Raul Seixas, porque, embora poeticamente linda, implica muita volatilidade para uma vida só, e o meu espírito, que tem várias convicções inegociáveis, não é preparado para isso. O que quero dizer é o resto da música: não ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Principalmente, "sobre o que eu nem sei" ou sobre o que eu penso que sei. É na dialética - em aceitar a crítica e a visão alheia - que podemos aprender, martelar nossa cabeça para um lado e para o outro, e opinar considerando e conhecendo o outro lado. Esses são, certamente, os argumentos mais bonitos e fortes.
Como meu amigo, quero aprender a valorizar, cada vez mais, quem pensa diferente de mim.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Chamava-se Francisca. Só Francisca. Mas não precisava das especificações severinas - era a única Francisca da região. Aliás, se vamos falar de como via as coisas, ela era a única Francisca do mundo inteiro. As cores, para ela, não significavam nada. Onde alguns viam vários tons e ficavam maravilhados, ela via traços pretos e brancos. Para ela era simples: amarelo, azul claro e cor-de-rosa queriam sempre dizer branco; verde, marrom e cinza significavam preto. Francisca era mulher macho, nordestina sofrida das secas e vinda num pau-de-arara para São Paulo, onde trabalhou três anos fazendo tapiocas, mas ao ouvir dizer da primeira gota de chuva, veio com o eu-lírico da volta da asa branca para sua casinha, nesse interior de ninguém. A Francisca não incomodava o sofrimento. Desde o seu nascimento, soube que a vida era mais que isso e que, como sua mãe lhe dizia, quem tem o que comer e vestir só não é feliz se não quiser. Foi à escola durante algum tempo, mesmo depois de adulta, sem que nunca tenha conseguido fazer aquele desenho da barriguinha com uma perninha, que diziam ser a letra "a". Desistiu de aprender, porque tinha certeza que aquele povo de nada sabia. Imagine só, a primeira letra do alfabeto ser uma bolotinha! Ah, não! Disso Francisca não queria saber. Ela pensava, isso há muito tempo, que se aprendesse a ler e escrever conseguiria trazer a chuva para o sertão. Não que se importasse com a plantação, ela, uma pobre coitada que não tinha nem onde cair morta, mas porque quando estava em São Paulo e chovia, ela via as pessoas pararem na rua e olharem para cima, para um traço preto no céu, e ficarem maravilhadas. Raciocinou, portanto, que se conseguisse fazer chover em Riachinho, veria o tão famoso arco-íris, porque as cores, pensava ela, só apareciam às pessoas quando elas voltavam pra casa. Um dia, depois de já muito velha e tendo desistido de ler, da chuva e do arco-íris, num daqueles anos de seca forte, Francisca fechou os olhos, sentada na cadeira de balanço do terraço. Escutou o barulho de seus netinhos brincando, e de seu interior surgiu um riso de contentamento. Seus pequenininhos pareciam as gotinhas de chuva que ela tanto queria que caíssem, mas que sempre falharam. Quando abriu os olhos, viu. O céu ainda estava aberto, mas ela podia vê-las caindo de uma só nuvem: gotas coloridas, aos milhares.

sexta-feira, 18 de março de 2011

"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

(Copiado do Cinco Solas)

terça-feira, 15 de março de 2011

A mudança que eu quero s/ver?

Somos uma geração de grandes críticos. Na verdade, nosso jeito ranzinza de ser é muitas vezes a nossa conexão com o mundo. Um exemplo são as conversas de elevador. Se vamos ao segundo ou ao terceiro andar, tudo bem, nem falamos com as outras pessoas, mas quando seguimos a andares mais altos e o silêncio se torna pesado – é muito difícil compartilhar a quietude com estranhos – logo descobrimos que os outros são tão descontentes quanto nós. O calor é grande, a política é nojenta, a desigualdade social é tremenda. Reclamamos o tempo todo. De fato, trivialidades à parte, o mau exemplo que nos lançam as elites políticas do nosso país é às vezes não apenas assustador, mas sobretudo triste. Contudo, cruzar os braços em caras e bocas de grandes críticos da vida também não compõe uma boa vitrine. Passar pelo mundo flutuando sobre opiniões fortes a respeito de tudo parece relativamente fácil, não concordam? Difícil é tentar colocar os pés, ou um dos pés, no chão, enfrentar a realidade – dura e linda como ela é – e agir. Que mania temos nós, eu e meus colegas estudantes de Direito do CCJ, de falar mal dos professores faltosos e da ausência de informações, e como nos falta a coragem de agir, porque já prevemos a grande burocracia, a impossibilidade de tudo. Deixamos de tentar, muitas vezes, porque fazemos caso não só do passado, mas somos envolvidos pela crítica que se projeta ao futuro.

E precisamos falar. É imprescindível que nos lembremos constantemente de que talvez a vida seja menos fácil que comemorar ter passado no vestibular. Mas temos que fazer também. Há dois discursos que me enojam de uma maneira que eu talvez não consiga dizer em palavras. O primeiro é o do extremista que vê erro em tudo dos outros e julga suas opiniões e sua concepção de mundo infalíveis e portanto não consegue ouvir o outro, muito menos respeitá-lo. O segundo é o do típico político brasileiro (e como formamos tantos todos os dias!), que vê o erro mas não tem coragem de enfrentá-lo, porque é melhor conversar ou deixar pra lá. Esse, com uma vozinha mansa e um tom de superioridade, diz que tudo se resolve sem afrontar o professor, pra gente não se prejudicar, e que, se você pensar bem, melhor mesmo é nem ter aula, que a gente pode vagabundar como bem entende. Que nunca me peçam votos, os desta última estirpe, porque para mim são as crias dos piores crápulas que temos visto na política brasileira.

O desafio, portanto, parece-me ser este: agir (com certeza), mas ter os pés firmes e os olhos bem abertos, tanto para ver a muitas vezes dura realidade, quanto para tentar, de alguma maneira, mudá-la. Por fim, ainda mais difícil parece-me ter os ouvidos fechados às insistentes vozes que dizem que nada muda, e a vida é assim mesmo. Absolutamente. Tudo muda. Se não muda para melhor, piora - pode acreditar.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ele e o mundo tinham um acordo, desde tempos imemoráveis: nenhum se meteria na vida do outro. Cuidou sempre de si próprio, dos seus planos, da sua família, da sua expressão séria, que precisava cultivar para espantar qualquer pedaço de mundo que com ele quisesse manter contato. E funcionava, quase todos os dias. Uma vez, não deu certo, e ele se casou com a mulher que lhe deu um pouco de vida. Mas o tempo, por si só, apaga a vida. É preciso muito esforço e um pouco de boa vontade para continuar vivendo, porque a metamorfose contínua da existência descarta quem para e mata quem acelera muito. A boa vontade deve ser comedida e contínua: é essa a receita. Fora disso, queima. Na rotina inalterável que compunha seus dias, havia pouquíssimo lugar para sentimentos. Se ele pensasse, imagino que diria: 'amor, esse luxo'. Como se o amor fosse um chocolate belga, ou um Chanel nº5, ou qualquer desses supérfluos lindos, mas supérfluos. Quando seus filhos, ainda muito pequenos, lhe estendiam as mãos para um abraço, recebiam aquele olhar de confiança, mas nunca um toque, jamais um cafuné, de maneira alguma um carinho. Aliás, tudo isso parecia meio herético, porque uma promessa era uma promessa, e ele, homem de palavra, cumpria sempre as suas: ele e o mundo não se falavam.
As pessoas dizem que quase nunca sabemos o que nos é mais essencial, porque geralmente é aquilo que de tão comum ignoramos. Ele, olhando para o céu um dia, soube que morreria. Apenas soube. O Sol se pondo era um prelúdio do seu próprio fim, era isso o que o seu corpo anunciava, com todas as forças. E ele não deveria ligar, afinal, o mundo, a ele, de nada servia. Mas o fato é que se importou. Chamou sua mulher às pressas e abraçou-a. Agarrou-a como nunca antes fizera e não queria soltá-la. A senhora, assustada e pensando que o marido já enlouquecia pela idade, perguntou-lhe: 'que há de errado?' Ele, contudo, não tinha mais palavras. Quando se morre, as palavras partem primeiro e deixam o corpo e a alma. E segurava-se a ela, não a deixava, porque, no fim das contas, ele, pobre homem, punha todas as suas forças para manter-se vivo. O mundo, entretanto, muito mais orgulhoso, manteve o trato e quedou-se inerte. E então aconteceu.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ma foi, oui!

Oui, j'y crois. À l'amour, à la vie, à la beauté. 'Pauvre romantique', tu me diras. Et moi, toujours riche, je te dirai: 'quelle belle pauvreté, celle dont on est heureux'. Mais tu, avec ton réalisme, tu ne l'as jamais cru. Dites-moi, quelle est l'avantage d'une vie si grise?

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

meowmeow

To H., my brother in Christ

Dear,
From the first time I saw you, I knew there was something shiny about yourself. At first, I thought maybe it could be all your jokes and stories, but then I understood that behind your easygoing ways, was God's light. I was 15 when we first worked together, but I can still remember those days so clearly. You always told me what a blessing it was to know God and have the opportunity to serve him from our youth and you always encouraged me to carry on doing it.
Once, when we were heading to Camalaú, you asked me: how old are you? and I told you I was 16. I can't tell you how your face went funny with surprise. I loved your plans to come live in João Pessoa and go out preaching the gospel in Brazil. You even looked into Portuguese classes, didn't you? And tried to dye your eyes brown, so you would look like us.
Suddenly, I heard about the cancer, the getting better, the getting worse, the getting really worse and finally it.
Death is such a time for reflection, but yours, while makes me miss you a lot, gives me peace. I have seen you work as much as possible for God. I have truly seen a life that is worth living. And I look up to you on that.
I know you can't read this anymore, but I'm also pretty sure I've told you enough times how I loved you.
Thank you for being such an example, for the godly advice and for leaving your mark in my life.
When I remember you, I think of what Jesus said: 'Tonight, they will demand your soul. And what you have prepared, who is it for?'
I will miss you immensely but I will see you again.
Rejoice, dear.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Plástica Reconstrutora: Risco Zero e Resultado Garantido

A pedido de, e para vovó Laurita, que é um lindo modelo de alma.

Vivemos dias curiosos. Pergunto às minhas amigas de cabelos cacheados, e elas me dizem que adorariam ter cabelos lisos. Pergunto às de cabelos escorridos, e elas suspiram: "é, um cachinho não faria mal." Conheço quem tenha colocado silicone para seios mais volumosos e quem tenha passado a vida juntando dinheiro para fazer uma cirurgia de redução de mama. Devemos concordar todos que os avanços da medicina são maravilhosos. Imagine uma pessoa com câncer que precisou remover um pedaço do corpo e tem a chance de fazer um implante, ou alguém que sofreu um acidente e pode ter seu rosto reconstruído. Mas eu desafio você a me apresentar uma pessoa no mundo que não saiba de uma história triste: de alguém que, na mesa de cirurgia em busca da vaidade, perdeu a vida; de alguém que teve sequelas gravíssimas das intervenções, ou simplesmente de resultados não atingidos. É claro que são falhas médicas, e os médicos, seres humanos que são, estão sujeitos ao erro (nada demais nisso), portanto, quem faz uma plástica se sujeita a alguns perigos.
Fato é que a maioria das plásticas são desnecessárias. Há alguns anos, porém, lendo um livro antigo guardado na minha estante, descobri uma operação de que todos os seres humanos precisam, isto é, que é fundamental à vida, mas que pouquíssimas pessoas têm oportunidade de fazer (só há um médico no mundo qualificado para o procedimento). Aliás, das que têm a chance, menos ainda têm coragem, embora a cirurgia não apresente quaisquer riscos de vida. Para que você se familiarize, eis o que acontece. Primeiramente, dá-se uma anestesia geral no corpo, para que o paciente se sinta tranquilo, em paz. Em seguida, faz-se um corte no abdômen e uma sucção de todos os dejetos que aí se encontrarem: da maldade, da ansiedade, do medo, e dá-se uma injeção de alegria. A próxima etapa é a mais delicada: abre-se o coração e coloca-se, dentro dele, amor e bondade. Há, ainda, implantes de silicone, em locais a ser escolhidos pelo paciente, de perseverança, fé e mansidão. Por fim, o médico instala um tipo de chip no paciente, de modo que Ele faz morada em seu coração. Ao fim da operação, tem-se não só uma pessoa renovada, mas uma nova pessoa. Além disso, tem-se a certeza da vida eterna.
Ainda mais incrível é que o preço da cirurgia, embora seja muito mais alto que qualquer um de nós possa pagar, já foi quitado na cruz. Nós podemos tê-la de graça, apenas marcando uma consulta.
O problema é que muita gente, depois do primeiro procedimento, deixa de fazer retornos ao Médico e revisões, e aí põe-se tudo a perder. Mas não tem problema: a operação pode ser refeita a qualquer instante.
Antes de tentar consertar seu corpo, preocupe-se com a sua alma. Ela é, de fato, você.

"Você não tem uma alma. Você é uma alma. Você tem um corpo." (C.S. Lewis)
"Enganosa é a graça e vã a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada." (Pv. 31:30)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

The Mind's Rubber

Era apenas uma linha, um fio muito tênue riscado sobre uma mesa de madeira. E ainda assim, meus neurônios transformavam a realidade com tamanha velocidade que as sinapses se confundiam num misto de sofrimento e alívio. Nas primeiras horas do dia, a linha me parecia um borrão de lápis de olho, que sobrou da noite anterior, quando saímos, eu e todas as minhas fantasias, a vagar por aí. Mas, com o passar do tempo - que nem mesmo do risco se compadece - o traço preto foi-se parecendo mais com um grito de socorro. Parecia-se o início de uma letra A, que não pode ser terminada porque quem a escrevia foi arrastado violentamente e só conseguiu deixar aquele risco. O desespero. O desespero que não me vem na língua materna, nem no inglês tão familiar. O grito que, quando se parava para olhar com calma, rasgava como granizo: Aide-moi! E a tristeza que me assolava, ao ver, às três da tarde, a lágrima impressionista que formava aquele traço no pedaço de madeira que tinha a cor da minha pele. As pequenas gotas d'água que saíam da minha alma pelos meus olhos se intensificaram e se transformaram em soluços violentos e falta de ar. Lá pelas sete, percebi que ou deixava o teatro tão horrível que pode ser o choro, ou morria. Foi quando, não sei se já consciente do possível fim ou apenas pela perspectiva diferente, vi no traço um elástico, que poderia muito bem estar segurando o nariz de um palhaço, prendendo o cabelo de uma menininha linda ou servindo de brinquedo para mim. Então pus-me a imaginar trezentas utilidades para o elástico, algumas das quais me divertiram muito e, de repente, peguei-me dando gargalhadas sozinha. A este ponto, já eram dez da noite, e o sono, que sempre bateu à minha porta cedo, já empurrava minhas pálpebras para baixo e abria a minha boca em um bocejo horroroso. Antes de deitar-me, porém, percebi, como Vieira em seus estalos, que o risco preto era, na verdade, cinza. Com uma borracha vagabunda, apaguei-o da minha mesa em dois segundos. As memórias, porém, apagam-se aleatoriamente. Enquanto esta, tão boba, me persegue, há outras importantes que não me vêm nunca. Se eu tivesse a borracha da mente, emprestaria a você, ou talvez não, porque você é tudo o que viveu, e eu não suportaria que você deixasse de simplesmente ser.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Alegria é a melhor coisa que existe

Todos os dias eu me surpreendia com ela. Tão querida sempre foi (e é), com as palavras certas na hora exata, e a ausência de palavras quando os abraços bastavam. Essa percepção, que poucos seres humanos têm, de saber precisamente o que fazer, me impressionava muito. Mas, acima disso, eu achava linda a sua risada, porque a alegria retratada era verdadeira. Era um sentimento que - eu tinha certeza - fluia de seu próprio coração. Talvez você não acredite em mim e pense que é apenas essa minha mania boba de ver um brilho, às vezes inexistente, nas coisas. Contudo, fica mais fácil se você parar um minuto e pensar que você mesmo já conheceu alguém assim. São anjos de Deus, essas pessoas, que iluminam a vida. Sua alegria vem dEle mesmo, é nisso que eu acredito. Ela trilhou novos caminhos, e nas primeiras fotos que me enviou, via ainda aquela felicidade tão contagiante. Muito tempo se passou sem que eu ouvisse notícias suas e, um dia desses, o que vi me assustou. Ela escrevia me dizendo em outras palavras o que eu só conseguia ler desta forma: troquei a alegria perene pelas festas, bebidas e baladas. Logo a mim, que na carta que pretendia lhe enviar, para perguntar como andava, escrevia assim: "Para 2011, desejo-lhe tudo de bom. Que a sua família esteja unida e que você continue sendo feliz de verdade." Suas fotos de tão longe eram lindas e brilhantes, mas quando vi sua realidade pertinho de mim, vi que aquele sorriso só se sustentava sobre muita maquiagem, e me lembrei de uma situação antiga. Conversávamos sobre o sentido desses tantos carnavais, dentro e fora de época, num papo meio filosófico, e quando eu sugeri que talvez aquelas pessoas fossem felizes, ela me disse - Deus, como é viva a memória! - o seguinte: "Minha amiga, nunca queira essa alegria de balada, que isso é coisa de gente triste, gente que não tem amor e precisa rastejar por atenção." Hoje, eu, de opinião menos severa, te vejo, minha amiga, a mendigar felicidade com uma latinha de cerveja, e o pior de tudo é que tu conheces a verdadeira Fonte.
Que O encontres de novo, para seres, de novo, contente mesmo.