sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Arezzo

Que neste novo ano, você seja abençoado por Deus. Que tenha paz no coração, e que esteja sempre perto de pessoas que ama. Que você também seja esforçado e alcance seus objetivos, sabendo reconhecer, em todo tempo, que a vitória é dádiva do céu. Que você encontre mais alguns amigos, mas, principalmente, que mantenha os que já tem, se forem bons mesmo. Que você, a cada dia, cresça um pouco, em sabedoria e entendimento. Se você ainda não entregou o seu coração e a sua vida a Deus, eu desejo, de todo o meu coração, que você o faça neste ano que entra. Que os seus olhos estejam atentos e preparados para enxergar a felicidade, a surpresa e a beleza que se escondem em cada brecha do nosso quotidiano. Que os seus dias, bons ou maus, sejam acompanhados da certeza de que o Senhor está com você. Que a sua língua seja lenta para as palavras más ou vãs e ágil para expressar o seu carinho pelos seus. Que você aproveite os instantes, não pensando que o amanhã não virá, mas olhando, com firmeza, para o propósito da sua vida. Que você acredite. Em Deus, em você, nos outros, no amor. Que o seu riso seja frouxo e a sua mágoa passageira. Que você tenha fé na direção de Deus. Que você saiba perdoar e tenha sabedoria para escolher seus companheiros. Que você viva de verdade. Enfim, que o seu ano novo seja feliz, e que você saiba, por cada sorriso, ser grato.
Esse é o meu desejo.

domingo, 26 de dezembro de 2010

É preciso um pouco mais de paciência, um pouco mais de tolerância. É preciso, quem sabe, um pequeno sacrifício aqui e ali. Foi esse o amor que me ensinaram: Deus tanto amou o mundo que entregou seu filho. É preciso menos adjetivos e mais ações, menos 'eu te amo' e mais amor, que sem ação, é um conjunto de palavras sem cimento, que quebram e caem no chão, sem suportar nada. É preciso, antes e acima de tudo, conhecer a Cristo, porque sem Ele, amar é um esforço impossível. É como quem corre para alcançar o vento, 'porque o amor vem de Deus, e tudo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.'
Sem Ele, eu sei, nada será amor, nada será forte.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

tic tac

Querido blog,
Queria ter o tempo de contigo (e consequentemente comigo) conversar, mas é enorme a correria. Contudo, não te preocupes. Não te deixarei neste 'canto qualquer' de internet.
Retorno na primeira fresta, para respirar-te e respirar-me, que é, em essência, ouvir o ar entrar e sair dos pulmões - luxo que, a essa época do ano, só tem quem não estuda Direito ou direito.
Já volto, para a temporada das flores.
Invernemos.
À plus,

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Tal como eras,

"se somos infiéis, ele permanece fiel; porque não pode negar-se a si mesmo." (2 Tm 2:13)

Meu grande presente, minha grande surpresa e minha grande questão, o amor de Deus é aquilo que tenho de mais precioso. Por todas as batalhas e lutas da vida, houve quem me abandonasse, houve quem eu abandonasse, mas desde que entendi e aceitei a maravilhosa graça de Deus, nunca mais estive só. A bíblia nos aconselha a sermos firmes e constantes na palavra do Senhor, isto é, a procurar, todos os dias, entender a sua vontade para as nossas vidas. Eu acredito que quando o buscamos de coração inteiro, Ele fala conosco, porque através dos pensamentos inequívocos que desenvolvemos, a perfeição de sua voz se faz inconfundível.
Você certamente já viu em alguns carros aquele banner "Deus é fiel", mas talvez não entenda muito bem o que isso quer dizer. Quando estamos juntos de Deus e Ele fala conosco, através da sua palavra nós entendemos as suas promessas. A promessa da vida eterna, da sua companhia, de que Ele cuida de nós. Deus nunca falha no que promete, porque é contra a sua natureza. E às vezes eu, pedacinho de gente que sou, olhando para trás, vejo como Deus é fiel! Verdade seja dita, penso que essa é a única hora de olhar para trás: para agradecer a Deus, que é para mim como era para Davi, rocha, refúgio e fortaleza. Seu amor nunca mudou.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

What you sow, you reap.

Nem tudo o que colhemos, na vida, foi plantado por nós. Há aqueles como os nossos pais, que plantaram tantas coisas boas para nós colhermos, e há também as adversidades da vida, que somos forçados a colher, mesmo que não saibamos exatamente por quê. Se isto é verdade - que muito da vida é inesperado, vem de lugares que não conhecemos - também é cristalino que tudo o que plantamos há de vir à tona. Anitelli, do Teatro Mágico, canta assim: "tudo o que eu criar pra mim vai me abraçar de novo, na semana que vem." Quem planta traição, maldade, amargura e inveja só pode colher solidão e angústia. E isso não é castigo: é fruto. Quem planta amor, perdão, empatia e confiança colhe, necessariamente, amigos, que são as flores mais lindas do mundo. Não amigos podres, que murcham no inverno e secam no outono, mas amigos de verdade, que nos dão suporte em tudo, e que se tornam, quando precisamos ou não, nossos irmãos.
Contudo, longe de mim alimentar maniqueísmos, porque não acredito que há pessoas completamente boas nem completamente más. Sei que todos nós, por mais que nos esforcemos, cometemos erros, magoamos os outros, e não quero separar as pessoas em dois grupos distintos, mas tenho visto e ouvido coisas que me permitem afirmar o seguinte.
Nem tudo o que você colhe foi você quem plantou - é preciso sabedoria para conviver com isso. Mas tudo o que você plantar, em algum momento, colherá - e é preciso coragem para assumir as conseqüências.

domingo, 3 de outubro de 2010

Espelho de nós, verdade nossa.

A nossa polis é a dos Cunha Lima, dos Vital do Rêgo, do Bolsa-compra-voto, dos milhões de cargos comissionados. Nossos ícones são os Calheiros, os Collor, os Dirceu, os Sarney, Lula e seus fantoches. Nosso espanto - e também, ao que parece, nossa admiração - são as verbas desviadas, os mensalões e a falta de moralidade. Os votos de cabresto, tão celebrados por serem passado, são mais presente que o hoje. A democracia por que tanto lutaram os oprimidos na ditadura (muitos dos quais se transformaram nos piores bandidos de hoje) foi já representada por Clodovil e é agora por Tiririca (e Mulher Pêra?). Engraçado ou triste? Não sei. É a história da política brasileira: uma mistura de qualquer coisa e nada.
Que país é esse?

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

trois, deux, un

É mistério, susto, tudo e nada. Segredo, claridade, esquecimento e lembrança. Passa, corre, voa.
Duvida?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

My motto: tudo passa

É engraçado como nós, meninas, temos ilusões loucas. Conseguimos, conhecendo um cara e sondando um pouco do seu caráter (ou, nas infelizes vezes, de sua beleza), já imaginá-lo nosso e, pior ainda, tê-lo quando queremos. É tão fácil gostar, entregar o coração, e tão difícil continuar analisando aquele que tantas vezes parece um príncipe, mas é um monstro disfarçado. Uma pessoa que a faz sofrer angustiada, chorar sempre, que não lhe dá paz, que gosta de vê-la triste, minha querida, não é uma pessoa que gosta de você. Aliás, tenha coragem de analisar os fatos: é uma pessoa que não tem nem consideração por você como ser humano. Embora leiamos as histórias e assistamos aos filmes em que os homens sofrem drásticas mudanças de caráter, eis o que eu aprendi, na vida e nas histórias reais: eles raramente mudam. Não confie nas exceções nem nas suposições. A felicidade, ao contrário do que pregam os românticos-românticos, não está na dor aguda do coração que não é amado, mas sim na paz que encontra quem se ama e se permite, assim, ser amado. Até Machado, o supra-sumo, se converteu ao realismo.
E veja o que encontrei nas minhas citações de alguns anos atrás:
"Metido com cabras... não se dava ao respeito... E ainda por cima, não se importava nem em negar... Mãe Nácia, porque naturalmente, no tempo dela, aguentou muitas dessas, diz que não vale nada... E a moça comparou Dona Inária à quelas senhoras de alma azul, de que fala o Machado de Assis... Foi então que se lembrou que, provavelmente, Vicente nunca lera Machado, nem nada do que ela lia. (...) Num relevo mais forte, tão forte quanto nunca o sentira, foi-lhe aparecendo a diferença que havia entre os dois, de gosto, de tendências, de vida.(...) Ele era bom de ouvir e de olhar, como uma bela paisagem, de quem só se exigisse beleza e cor. Mas nas horas de tempestade, de abandono, ou solidão, onde iria buscar o seguro companheiro que entende e ensina, e completa o pensamento incompleto, e discute as idéias que vêm vindo, e compreende e retruca as invenções que a mente vagabunda vai criando? (...) Já agora, o caso de Zefinha lhe parecia mesquinho e sem importância. Qualquer coisa maior se cavava entre os dois."
(Rachel de Queiroz, em O Quinze)

Que você, como eu, encontre quem complete o seu pensamento incompleto. Sei que encontrará.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Arte de Ser Feliz

(Eu faço essas divagações sobre a vida, e sabe quando às vezes você pensa: "isso se parece tanto comigo"? Pronto, não fosse pela superioridade poética, técnica e literária de Cecília, eu poderia ter escrito isso. Linda a arte, não é mesmo? Linda pré-tradução dos corações)

Houve um tempo em que a minha
janela se abria para um chalé.

Na porta do chalé brilhava
um grande ovo de louça azul.

Neste ovo costumava pousar
um pombo branco.

Ora, nos dias límpidos,
quando o céu ficava da mesma
cor do ovo de louça,
o pombo parecia pousado no ar.

Eu era criança,
achava essa ilusão maravilhosa e
sentia-me completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha
janela dava para um canal.

No canal oscilava um barco.
Um barco carregado de flores.
Para onde iam aquelas flores?
Quem as comprava?

Em que jarra... em que sala,
diante de quem brilhavam,
na sua breve experiência?
E que mãos as tinham criado?

E que pessoas iam sorrir de
alegres ao recebê-las?

Eu não era mais criança,
porém minha alma ficava
completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha
janela se abria para um terreiro,
onde uma vasta mangueira
alargava sua copa redonda.

À sombra da árvore, numa esteira,
passava quase o dia todo sentada
uma mulher, cercada de crianças.
E contava histórias.

Eu não podia ouvir, da altura da janela,
e mesmo que a ouvisse, não entenderia,
porque isso foi muito longe,
num idioma difícil.

Mas as crianças tinham tal expressão
no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.

Houve um tempo em que na minha janela havia um pequeno jardim seco.

Era um tempo de estiagem,
de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs vinha um pobre
homem com um balde e em silêncio,
ia atirando com a mão umas gotas
de água sobre as plantas.

Não era uma rega:
era uma espécie de aspersão ritual,
para que o jardim não morresse.

E eu olhava para as plantas,
para o homem, para as gotas de
água que caíam de seus dedos magros
e meu coração ficava
completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante
de cada janela, uns dizem que essas
coisas não existem, outros que só
existem diante das minhas janelas
e outros finalmente, que é preciso
aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Paráfrase pessoal: 1 Co. 13:1-7

Mesmo se eu conseguisse falar inglês, francês, italiano e russo, e ententesse, ainda por cima, línguas sobre as quais eu nunca ouvi falar, se o meu coração não amasse, eu seria como um juiz que acusa ou um promotor que julga, fazendo sempre a coisa errada. E ainda que eu compreendesse todo o mundo sobrenatural, o poder das orações tão lindas que ouço, e acreditasse tanto nisso de modo que pudesse curar pessoas ou andar sobre o oceano; ainda que eu entendesse todas as regras jurídicas e todo o Direito, se o meu coração fosse vazio, isso não seria importante. E mesmo que eu doasse todos os meus livros, todo o meu dinheiro e - o que me vale mais - todo o meu tempo, e mesmo que eu escolhesse morrer por alguém, se eu não amasse, isso não me serviria de nada. Quem ama pode sofrer, mas é sempre bondoso. Quem ama não tem inveja, não ignora as pessoas nem as inferioriza. Quem ama não tem prazer na imoralidade, sabe dar lugar ao desejo e ao anseio do outro, não briga muito, não se chateia com bobagem. Quem ama tem horror a ver as pessoas sendo injustiçadas e caluniadas, mas admira o que é justo. Quem ama tem uma força tão grande que pode sofrer qualquer coisa e ainda continuar crendo; pode esperar o tempo que for e pode dar suporte ao outro em qualquer circunstância.
O amor é o mesmo sempre.

Para amar um amor, é preciso, primeiro, ter a atitude de amar todos os queridos (e os não tão queridos também), com o amor que só Deus pode dar; o amor que é tão lindo, tão completo, tão perfeito, tão ágape, tão indescritivelmente real; o amor de que me tornei, por amor, pedaço.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Você não vale nada, mas...

Em um curso sobre teoria feminista do direito, ouvi um professor dizer o seguinte: "ser feminista é reconhecer que as mulheres às vezes estão em posição inferior às dos homens pelos mesmos esforços, entender que isso não está direito e engajar-se para mudar a situação."
Embora acredite na moderação, sei que muitas vezes, por suas opiniões políticas, as pessoas precisam tomar posições drásticas. Assim aconteceu com os chamados terroristas de esquerda, durante a ditadura (e assim, com Dilma, nossa horrorosa candidata à presidência, a quem reputo muitas falhas, mas não essa) e acontece com algumas mulheres que sentem tão fortemente o peso da opressão que se dispõem a romper com tudo. Assim aconteceu nos meados de 1850, em Nova Iorque, quando aquelas tecelãs entraram em greve porque recebiam três vezes menos que os homens pelo mesmo trabalho e foram assassinadas.
Ao longo da História, foram muitas as que se lançaram à luta para que hoje eu pudesse ir à Universidade, para que eu pudesse ter amigos homens sem que me acusassem de prostituta, para que eu pudesse falar em público, para que eu pudesse estar aqui, agora, escrevendo sem medo.
Se eu não tenho um pingo de respeito próprio, que eu respeite, então, a luta e o sangue alheios. Dramático, não? - c'est la vie.
Pois bem, vamos ao que interessa: desde muito pequenininha, escuto forró. Encanta-me Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Petrucio Amorim e por aí vai. Papai, com suas origens brejeiras, nunca nos poupou do bom ritmo. O que me irrita são as pessoas que vivem chamando suas músicas inescrupulosas a respeito de prostituição e sexo 'forró'.
E que não me critiquem por abominar esse dejeto a que chamam música. Não é "uma questão de gosto". É uma questão de mínimo de respeito.
E esse ultraje brasileiro é reconhecido internacionalmente. O comitê para a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher, em relatório sobre o Brasil, fala continuamente de uma mídia, legitimada por nós, mulheres, que nos coloca como objeto de consumo, que agride a nossa imagem, que faz de nós lixo ou nada.
Então, minha querida, da próxima vez que você ligar o seu forrozinho machista, lembre que alguém já morreu se defendendo disso. Ou não lembre - talvez você não consiga valer nada mesmo.

domingo, 29 de agosto de 2010

How great!

C.S. Lewis, contando sobre a sua turbulenta conversão a um amigo que se questionava sobre o ateísmo, disse o seguinte (que parafraseio): "Agora que a rede do Espírito Santo te pegou, não há mais saída". Russel Shedd diz que isso é um exemplo do que Paulo quis dizer em Filipenses: "Aquele que começou a boa obra em suas vidas há de completá-la até o dia de Cristo". Quando o Espírito de Deus habita em nós, de fato, parece não existir mais saída.
Sei que o pecado nos afasta de Deus, e é mesmo quando deixo minhas palavras saírem soltas, quando não controlo meu temperamento, enfim, quando a minha humanidade fala muito alto, que eu sinto perder a conexão que me é mais estimada no mundo. Mas Deus, tenho aprendido, não se cansa dos nossos recomeços. É como aquela estória de Beth Moore (the princess and her king), porque Deus sabe que erraremos muitas outras vezes, mas ele nos aceita sempre, nos quer sempre, porque somos seus filhos.
Ontem, na igreja, enquanto cantava, eu me lembrei mais uma vez como amo a presença de Deus. Como é bom poder louvá-lo, sentir e ver o seu amor tão grande. Não há nada no mundo que me complete mais e não há lugar no mundo que me dê mais alegria que o lugar onde eu posso adorar a Ele e só.
Queria que todos os meus queridos sentissem o mesmo e entregassem sua vida ao perene contentamento que só Cristo dá.

"Se eu tivesse que falar da grandeza do amor, teria que falar do amor de Deus que enviou seu Filho à cruz pra morrer em meu lugar. O amor é mais do que a fé, maior que a esperança: é o eterno dom de Deus. Sem amor, de que me serve andar? Seria como o som de um velho sino a ressoar. O amor é sofredor, ele é paciente e bom. Os dons de Deus um dia passarão, mas o seu imenso amor para sempre reinará."

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

En rose, bleu, vert et jaune

Em todos os contratempos da vida, dos menores aos mais importantes, acabamos por aprender algo novo. Lembro que quando eu era menor, na entrada do meu quarto tinha uma tomada em que eu vivia enfiando o dedo, mas bem rápido, para me livrar do choque. Todos os dias, quando acendia a luz, fazia a mesma coisa, e durante muito tempo nada aconteceu. Até que um dia levei um tremendo choque, e nunca mais quis enfiar dedos em tomadas (sábia decisão, devo ressaltar). Se pego um ônibus errado, aprendo que não é aquele e não erro mais. Se como algo de que não gosto, não mais provo. Enfim, aprendo. Mas há coisas mais difíceis. Há mudanças maiores e mais repentinas. Eu, mesmo sendo ainda tão nova nessa arte que é a vida, já vivi situações que me abriram os olhos, e outras que me deram óculos de cores completamente diferentes. Uma delas foi o acidente de painho, quando os dias se enchiam ora de medo, ora de confiança, ora de angústia, ora de certeza, mas sempre de fé.
Depois que tudo ficou bem, restaram-me os ensinamentos, que eu acho que todo mundo acaba aprendendo - às vezes mais de uma vez - durante a vida. Acho que a gente aprende a dar menos importância às tantas obrigações, tão frágeis que somos e suscetíveis a qualquer acidente. Aprende a fazer o que gosta, a sorrir mais, a cuidar mais dos queridos e dos amigos, que são as melhores plantas que se podem cultivar. Aprende a ser menos orgulhoso, a confiar mais em Deus, que tudo resolve, e a admirar a vida, só porque ela é linda. A gente aprende a agradecer pelas coisas mais simplórias, pela companhia familiar de todo dia, que é tão importante, e a gente - bobo que é - nem sabe. E aprende esta, que talvez seja a mais importante de todas as lições: o presente é presente.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Passarei, passaremos, passarinhos

Imagine este cenário. Uma rua movimentada, com muitos carros, motocicletas e ônibus, que querem se mover, mas estão parados no tráfego. Dentro de um dos carros, uma mulher carrega seu filho que sangra muito, porque se machucou no colégio, e precisa levá-lo ao hospital, mas não consegue. No carro à sua frente, vem um jovem médico, apressadíssimo para chegar ao plantão, pois está cinco minutos atrasado. Pela rua, as pessoas andam, no ritmo moderno de quem olha para o relógio a cada dois segundos, porque está sempre perdendo tempo. Estudantes carregam seus livros, trabalhadores suas bicicletas, homens de negócios - os poucos que andam nas ruas - levam suas pastas de couro que querem traduzir uma idéia de importância, todos com uma urgência insana. Uns parecem felizes, outros tristes, outros nada. E eu, observando tudo aquilo, vi uma flor, como a de Carlos no meio do asfalto. Uma pequena, em roupas de balé cor-de-rosa, rodopiava segurando a mão da mãe, e ria da vida. Procurei nela, em vão, o que se desprendeu de mim - de nós - durante a vida. Mas cada existência é só. Não solitária, porque temos tantos companheiros, mas seule, unique, one-off, só.
Que a sua linda existência não escorra pelos seus dedos sem a beleza que vem do Céu e que nos permite ser como Deus quis: à sua imagem e semelhança.
Que você entenda e sinta os momentos de parar, porque, sem pausas, a correria da vida perde o sentido, e as ruas se tornam vazias.
Imagine esse cenário, essa vida, esse existir. É o que você quer?

"Não julgues que alguém viveu muito por causa de suas rugas e cabelos brancos: ele não viveu muito, apenas existiu por muito tempo."
(Sêneca, no cap. VII de Sobre a Brevidade da Vida)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Mes Maries

Houve muitos momentos da minha vida em que aconteceu o que hoje acabo de presenciar: ver minhas tias juntas. São de tantas partes e é tão difícil encontrá-las todas, mas parece que a ausência de uma ou duas, embora eloquente, é suprimida pela alegria das outras. Já as vi reunidas na tristeza, já as vi brigarem algumas vezes, e, quase sempre, vejo-as sorrindo muito quando estão juntas. Contam as histórias antigas, riem umas das outras, dos seus próprios fracassos e palhaçadas, das piadas de meu avô, sempre presentes. Mamãe já se incorporou à tribo, tanto que parece também irmã delas.
Têm, como todos os seres humanos, defeitos. Temos, como todas as famílias, erros, briguinhas e tudo o mais. Mas saber que se pode contar com o outro sempre; que, além das fronteiras ou da distância existe o meu sangue que me quer bem e que a risada é sempre garantida me faz pensar como é bom ter uma família que teima em ser unida, porque no momento da dor é aí que encontramos aconchego.
Quando ouço os apelidos de tia leleda (que teima em chamar as pessoas pelo nome das personalidades de Brejo, como se fossem super conhecidos), as reações engraçadas de tia lena, a serenidade de tia lolina, a dedicação de tia neuminha (ou o general, para os mais chegados), o nervosismo agitado de tia lucinha, o português-inglesado de tia betânia, a minha semelhança física em tia marilza, a quietude de tia fátima e a presteza de tia marluce, sinto que em mim há um pouco de cada uma delas (de algumas mais que das outras, é claro).
E como são queridos a mim os dias como este, em que vou dormir à 1h da manhã porque tenho muito sono, quando na verdade queria ficar conversando até amanhecer. Mas, como este blog se tornou, antes de tudo, um registro camuflado das minhas emoções diárias, não poderia deixar de registrar aqui a alegria que me enche agora.
Queria que vocês conhecessem as minhas marias :)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Reflexões jus-humanisticas

Muito me incomoda a questão dos direitos humanos, quando penso no multiculturalismo. Não falo tanto do Direito, que para mim é trabalho, e neste blog se encaixa desajeitadamente. Falo das próprias pessoas, que em situações-limite acabam agindo de maneira tão estúpida. Serei mais clara. Devem as mulheres muçulmanas usar a burca? Não sei. Muitas dizem que é opressão, outras que é a mera expressão de sua crença. Quanto a isso, oscilo entre um ponto e outro muito facilmente e não me incomodo muito pela indecisão. Mas devem elas ser apedrejadas? Ou melhor, deve aquela iraniana que tomou os telejornais ser apedrejada pela acusação de adultério? Minha indecisão de esvai e toda a minha consciência (ocidental, diriam os mais tolerantes, diria Lula) grita: "não!"
Infelizmente, embora seja linda a diferença de culturas, ela também é assustadora, por vezes. E eu me questiono sobre o que deve ser feito, mas essa resposta parece não existir.
Certamente, não é a de Lula, o presidente de vocês (meu, não!), que tira brincadeira cantando, enquanto os outros, ou melhor, a outra, se desespera com a ameaça concreta da morte.
Se não se pode fazer nada, se a política externa não tem solução, que ao menos na miséria se respeite a condição de pessoa e se lhe dê, enquanto espera tão cruel morte, um pouco de dignidade - se é que há alguma.

E que sejamos, todos nós, mais humanos, menos feras que fazem piada do choro alheio.
(E que saibamos escolher um(a) presidente que também o seja)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Teto de vidro

Adoro filmes - e vocês, meus queridos leitores anônimos? Gosto, principalmente dos dramas, porque é quando os atores, aquelas figuras quase sempre tão lindas e irreais, se parecem mais com a humanidade que somos: difícil e fácil, complexa e simples, tão feliz e tão triste. Encantam-me as pessoas e todo o emaranhado tragicômico que formam suas reações, respostas e atitudes em relação ao mundo. Mas sei que muitas fingem viver. Aliás, hoje ficou mais fácil fingir tudo. Caio no saudosismo idealizado de quem pensa que antes era melhor. Quero dizer, antes, nos primórdios, eram blogs. Depois, fotologs, orkuts, facebooks, os abomináveis formsprings e o twitter, que me inspira um preconceito terrível. As pessoas precisam aparecer mais e com mais frequência, e em todos os momentos do dia. "Agora faço isso. Agora não faço. Tenho mil amigos."
Não que todas as redes sociais sejam más. São boas para encontrar velhos amigos, manter contato com quem se gosta e não se pode falar na correria maluca do dia-a-dia, mas são também péssimas, quando oferecem bonecos ao invés de pessoas, porque pessoas de verdade são feitas de carne e osso. Pessoas têm defeitinhos nos corpos (umas são muito magras, outras são gordas, umas têm orelhas grandes, outras narizes muito pequenos), ficam tristes de vez em quando. Também sorriem muito, se alegram muito. Pessoas choram, fracassam e erram de vez em quando. Pessoas não são sempre o padrão impecável de moralidade nem de religiosidade. E em tudo isso, há beleza.
Por isso, muito pouco me dizem sobre alegria as risadas vazias que algumas menininhas fingem para as fotos, mas me dizem muito sobre uma fantasia solitária. Assim, a mim também é dúbia a moralidade de quem nunca errou, o amor que nunca falhou (porque no pacote do amor está o perdão), enfim, esses grandes e ocos estereótipos que nos esforçamos - nós - para seguir todos os dias.
Gosto de gente no sentido mais humano do termo. Gente como eu, gente dos dramas pequenos e grandes, que precisa lutar, crescer e ser feliz.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

I thank You God for most this amazing

i thank You God for most this amazing
day:for the leaping greenly spirits of trees
and a blue true dream of sky;and for everything
wich is natural which is infinite which is yes

(i who have died am alive again today,
and this is the sun's birthday;this is the birth
day of life and love and wings:and of the gay
great happening illimitably earth)

how should tasting touching hearing seeing
breathing any-lifted from the no
of all nothing-human merely being
doubt unimaginable You?

(now the ears of my ears awake and
now the eyes of my eyes are opened)

E.E. Cummings

terça-feira, 20 de julho de 2010

Por que(m) mudei

Sou, first and foremost, uma pessoa, o que significa que sou um enlinhado enorme de sentimentos, emoções, riso, tristeza, drama e conflitos como o é toda pessoa. Dos meus maiores questionamentos surgiu a minha maior certeza, que é a de que pelo Ágape tenho vida. Costumava pensar em Deus como alguém que eu encontrava em determinado lugar, naquela hora do meu dia. Jesus era aquela figura triste, pendurada na cruz, que havia sofrido tanto – e talvez por isso eu o amasse. E sentia muita culpa, por tudo. As repetições de orações, como se os meus joelhos machucados fizessem alguma coisa por mim no mundo espiritual, me fazem pensar até hoje. A primeira frase completa que eu escrevi sozinha foi “A Cristo por Maria”, lema da escola onde eu estudava, e desde sempre eu pensei (porque me ensinaram) que para falar com Deus, eu precisava, primeiro, falar com Maria cuja figura maternal sempre me despertou muita simpatia, de modo que Deus, o Pai, sempre foi uma figura muito distante (temida, mas distante) para mim.

Todos sabem da história do véu do templo que se rasgou com a morte de Jesus para que pudéssemos ter livre acesso a Deus. E eu digo sempre que na minha vida também o véu se rasgou, e eu pude estar com o Senhor.

E me perguntam: quando aconteceu?

Respondo simplesmente: quando li. Assim como tantas outras idéias da minha vida que foram quebradas pela leitura e pela minha vontade (que é grande, mas tão difícil de realizar completamente) de entender o mundo, essa foi destruída pela leitura da Bíblia que, acredito eu, é a palavra de Deus.

Pois bem, li. Gênesis foi clean, tudo igual ao que eu pensava antes. Quando cheguei à passagem de Êxodo sobre os dez mandamentos (cap.20) e, deparei-me com o seguinte: “Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto.” Esse, para a minha surpresa maior, é o segundo mandamento dado a Moisés, o qual nunca me havia sido ensinado, porque fazem um enxerto de mandamentos para pulá-lo – incrível. Esse foi o pontapé inicial para a multiplicação das minhas perguntas. Depois vieram tantas outras coisas, como o fato de não existir batismo de crianças na Bíblia (o próprio Jesus foi batizado aos 30), os anjos da guarda, as orações repetidas que Jesus condena, como diz Mateus em seu evangelho, e tanto mais. Penso que a certeza da decisão que tomei veio quando li a carta de Paulo a Timóteo, em que diz: “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos.” Ora, é o que dizia, puramente, a minha Bíblia católica.

Foi muito difícil. Primeiro, porque “ser crente” era o que eu menos queria, e minha mãe sofreu grandes impropérios meus porque eu não aceitava que ela fosse também. Segundo, porque é muito harsh enfrentar tradição, correr contra o fluxo e stand up pelo que pensamos ser correto – bem sei. Mas também não é possível, vendo algo verdadeiro, negá-lo em nome de qualquer outra coisa. Não é possível, sentido tão verdadeiramente a presença de Deus, deixá-la por nada.

Eu não acredito em falar com pessoas que já morreram, porque Hebreus diz que depois da morte vem o juízo final, logo, os santos, embora santos, não podem ser comunicados. Estão, certamente, desfrutando da glória de Deus, mas diferentemente dEle, não são oniscientes nem onipresentes. Aí Maria, que é, para mim, o exemplo máximo de obediência a Deus e de santidade, não merecer orações. Sei também que existem tantos outros santos que não os canonizados que viveram uma vida digna e consagrada so Senhor. Eu não acredito que se deva batizar bebês, porque na Bíblia o batismo é a marca do novo nascimento, da criatura que crê renovada, por isso, nenhum dos meus filhos será batizado até ter idade para discernir e decidir. Eu não mais acredito em um Deus austero e que castiga. Sei que Deus é justo, mas também sei que é Amor, o que é traduzido muito bem pelo fato de Cristo ter morrido por nós. Eu não mais penso que perguntar é transgredir, como quiseram me ensinar, nem que alguém nesta Terra possa ditar verdades. Sei que Deus, através da sua palavra, fala diretamente ao meu coração, sem necessidade de rituais, e sei que eu posso lhe falar diretamente, sem necessidade de quem, afora ele, me absolva.

Detesto radicalismo. Quando entro em alguma igreja e vejo pessoas falando mal de Maria ou fazendo simpatias no nome de Deus, meu estômago embrulha. Quando vejo as novas doutrinas, o sincretismo perigosíssimo das igrejas neopentecostais, viro as costas. Eu acredito, hoje, que uma vida com Deus traz paz, vida e, acima de tudo, liberdade. E acredito que Deus é coerente com a sua palavra. Dessas certezas, eu não abro mão por nada.


"Assim, não é como uma criança que eu creio em Jesus Cristo e o confesso. Meus hosanas nasceram de uma fornalha de dúvidas."

(Dostoiévski, comentando seu antigo ateísmo)

domingo, 18 de julho de 2010

Mon Amour, Ma Vie.

Sabe aqueles sonhos que você fica doido pra saber o final? Eu tive um desses. Sonhei que me entregavam uma caixa bem grande e colorida que eu corria para abrir. Dentro dela havia muitas cartas, todas escritas por ele, que contavam sua história, seus sonhos, o que ele havia sentido em tantos momentos da vida. As cartas vinham separadas, mas pareciam todas conter uma história só, que era cheia de drama, aventura e amor, como o são, em maior ou menor intensidade, todas as vidas. E ele falava sobre mim também. Isso me emocionou profundamente. Ora, eu sabia - há muito tempo soube - que ele me amava muito, mas não sabia que era tanto. Quis ler tudo de uma vez só, como se o mundo fosse se acabar naquele dia e eu precisasse saber de tudo. Aí soube mais uma vez - como sei de novo e de novo todos os dias - como o amo eu também. Minha avidez por conhecer quem convive comigo, quem já faz parte da minha vida, me mostrava como é engraçada a curiosidade que temos por quem gostamos. Foi um sonho querido, e embora eu soubesse o que dizia cada página daquela, me interessava muito lê-las novamente, entendê-las ainda uma vez, porque conhecer quem amamos é, necessariamente, o primeiro passo para trazer-lhe alegria. E eu, a Ele, quero trazer riso todos os dias.

"Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei com todo o meu amor: que eu venha estar em Sua presença todos os dias da minha vida."
(Não Temerei - Bola de Neve Church) ;P

domingo, 11 de julho de 2010

Do lado de dentro

A definição que mais busco pela vida afora é esta: o amor. Isso porque sei que o amor é o que une as coisas com perfeição, é o que faz o mundo andar, é o que me salva. Mas é muito difícil, para mim, colocar tamanha importância definida em palavras. Embora eu não saiba o que é, exatamente, essa força tremenda, eu sei o que não é amor. Não é amor o sentimento súbito de dois meses de namoro em que as pessoas prometem fidelidade eterna. Não é amor o que nos faz sentir indignos, o que nos faz piores, o que nos faz pequenos. Não é amor aquilo por que nós precisamos agradecer sempre. Não é amor o que acentua os nossos defeitos. Não é amor o que nos dá medo, porque, como diz a linda palavra de Deus, o verdadeiro amor lança fora todo medo. Não é amor o que assusta, o que não nos impulsiona a aprender mais, a viver mais. Enfim, não é amor o que não nos torna cada vez mais livres, cada vez mais independentes, cada vez mais sonhadores da nossa própria história. Não é amor a possessão idiota, a desconfiança boba, ligar cinco vezes por dia.
Tenho certeza, mais que tudo, que nada disso é amor, porque o pressuposto do amor é o amor - nada mais.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Mergulhe

Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará.

Existe o momento das nossas vidas em que somos lançados à correnteza da existência, e não sabemos o que fazer. Alguns passam pela vida agarrados à primeira bóia que vêem. Esses não vivem, apenas olham o aprendizado, as braçadas e os mergulhos dos outros. É muito difícil aprender a viver. É como nadar: quanto mais cedo se aprende, mais facilmente se aprende. Mas depois o tempo passa, e nós, retrato do conformismo, nos damos por satisfeitos em apenas deslizar pela água, apontando para os fracassos alheios e sentindo inveja da felicidade de quem sobrevive às explorações subaquáticas.
Quanto mais velhos ficamos, mais difícil soltar a bóia, porque ela é confortável, segura, alienada e, principalmente, porque a maioria dos seres humanos está atracada a uma. Bóia é a convicção que não pode ser discutida, a postura que não pode ser mudada, o julgamento cego do outro, a intolerância com o diferente, a ignorância do mundo, o medo do conhecimento. Mas é preciso deixá-la, mesmo que a primeira atitude assuste ou machuque. É preciso abandonar o que nos escraviza em qualquer circunstância, em qualquer idade, a qualquer tempo, porque o momento em que somos é este. Depois, seremos ou não. As pessoas são prisioneiras da sua própria segurança e nem imaginam que isso é muito mais perigoso.
A vida, tão linda e tão complexa, nos convida a opiniões mais refletidas, ao encontro das verdades (sim, porque existem verdades e absolutas, creio eu. Do contrário, seríamos nada sobre nada), às mudanças, enfim, a mergulhos mais profundos.
Liberte-se do que o prende, ou melhor, permita-se ser libertado.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sobre princesas e príncipes

Pour mes amis P. et L.

Once upon a time, havia uma princesa muito bonita e muito inteligente, que procurava um príncipe com quem pudesse viver e ser feliz. Todos que a conheciam gostavam muito dela, porque a sua educação e a sua simpatia eram as mesmas, tanto para os servos quanto para os reis. A princesa queria ser médica, para poder ajudar as pessoas. O pai dela, o Rei, era muito poderoso, e todos os dias, antes de dormir, ela lhe pedia: "Papai, me mostre o meu par." Mas ele, em sua imensa sabedoria, esperava.
Havia, em um reino não muito distante, um rapaz bom, honesto e querido, que, vendo a princesa pela primeira vez, apaixonou-se para sempre. Não se passou mais um dia de sua vida sem que ele pensasse nela e nos seus olhos tão profundos. Foi tanto assim, que ele foi atrás dela, até que conseguiu vê-la, e começaram a namorar, mas só disseram ao Rei depois. Ele ficou um pouco triste, porque achava que era cedo, mas aceitou-os e os abençoou muito. A princesa e o menino foram muito contentes enquanto estiveram juntos, mas (e aqui lembro Machado, em Quincas Borba, penso, quando diz sobre um certo casal que se não estavam verdes para o amor, estavam verdes para o seu amor) o tempo mostrou que não sabiam lidar muito bem com as tendências diferentes que tinham e que precisavam mudar algo.
Ambos desacreditaram daquele amor. Pensavam que havia sido um sonho bom, uma valsa cujas repetições de três tempos viraram uma grande pausa. E na pausa vieram novos amores, para os dois, que foram bons também. Fizeram-nos crescer, e lhes deram certa alegria, mas, acima de tudo, lhes deram a certeza de que só seriam felizes um com o outro.
Depois de muito tempo sem se ver e sem se falar, a princesa e o príncipe ficaram um pouco distantes, mas ele, mais que ela, sabia que estariam juntos de novo. Às vezes desanimava um pouco, mas sempre soube que era ela, apenas ela.
Algo dizia a ele, sempre, que os olhares, as risadas, os abraços, as palhaçadas, a companhia, tudo dela era o melhor que podia ter, porque lhe tornava melhor. E como li em uma parede por aí, o amor só é lindo quando nos transforma no melhor que podemos ser. Era assim, a 'bela Lunna' para ele - disse-me tantas e tantas vezes. E eu concordei tantas e tantas outras.
Esperaram muito para ficar juntos de novo. As circunstâncias da vida os foram ora aproximando ora os afastando de vez. Mas reencontraram-se, como sempre se reencontram as peças que devem estar juntas em um quebra-cabeça. Só que dessa vez, quem os pôs juntos foi o Rei (e Ele apenas), ainda que talvez de maneira surpreendente. E quando Ele junta, nada separa.
Eu soube, desde maio de 2008, quando os vi em uma linda paisagem, sobrepondo a lua cheia na praia do Cabo Branco, apenas olhando um para o outro (guardo essa foto até hoje). Eu soube que seriam eles dois, o maior meant to be que eu já vi, para sempre e sempre. Eu vi um filme na vida real.

Que Deus os abençoe, queridos. Alegra-me muito o recomeço.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Renewal

Coisa bonita é a paixão. Boa de viver, de cantar, de escrever e até de ver. Mesmo quem nunca teve uma, adora ver os filmes e sente nostalgia quando está perto de um casal harmônico - todo mundo quer ter de um par (embora possamos viver felizes sozinhos - não me tomem por machista a opinião). Já li alguns, e gosto de ler sempre, escritos românticos. Se não penso que Romeu e Julieta seja obra-prima de Shakespeare, certamente aprecio os sonetos camonianos. Mas falam sempre do começo do gostar, das suas características e nunca do seu fim. Aliás, pergunto-me: acaba-se?
Not black-and-whitely, diria que sim. E jogaria um dardo com certeza no momento preciso. A paixão se acaba quando o seguinte pensamento surge: "Fulano(a) gosta mais de mim do que eu dele(a)." Pode-se dar por certo o fim do feto amoroso. Não crescerá, ou, crescendo, será doente, torto, manco, faltar-lhe-á algo, porque gostar, eu tenho visto nos outros e em mim, pressupõe um quê de falta de ar, um toque de nervosismo, umas borboletas que voam na barriga, uma segurança ansiosa. E essas coisas não param de acontecer. Tornam-se mais amenas, com o tempo, bem sei, mas não se acabam enquanto houver cumplicidade e euforia. Aquilo que não se renova, morre - regra geral.
E, digam-me, como quem diz a um mero observador: que é o amor, se não um começo eterno?

domingo, 27 de junho de 2010

É vivível?

A nova (?) loucura das pessoas é fazer milhões de coisas. Não vejo mal nisso - eu mesma faço um bocado. Mas quando nos tornamos escravos dos nossos objetivos materiais, esquecemo-nos de uma parcela da vida: viver. Eu tenho uma tia engraçadíssima - e queridíssima - com quem eu conversava um dia desses, falando sobre uma conhecida nossa que eu havia encontrado por aí. Eu disse: "Tia, ela trabalha tanto. Sai de casa às sete da manhã e chega às sete da noite, direto. Disse que está ganhando muito dinheiro." Ao que titia perguntou: "E gasta quando?"
Pensei, na hora, que não gasta. Não ela. Quem aproveita a maior parte do seu dinheiro é o marido, são os filhos, nas incontáveis saídas, nos carros novos, nas viagens. E são todos novos e bonitos, vivem na academia, enquanto ela, que deve ter uns 45 anos, parece ter quase 60.
Mas toda essa tentativa desenfreada, ou vício, pelo sucesso, acaba esbarrando em uma parada da vida. Sim, porque ou paramos por bem, ou por mal. Para por bem quem faz uma oração, lê um livro, assiste a um filme, passeia, vê o mar, conversa com os queridos pacientemente (na correria não serve). Quem se recusa a se reabastecer, a se renovar, será, inevitavelmente, assaltado por uma depressão, por uma doença causada pela falta de cuidado (no corpo, na alimentação) ou pela morte - quem sabe?
O fato é que precisamos, a cada dia, saber que somos humanos, pequeninos, frágeis, como vento passageiro, e que não, não podemos fazer tudo. Temos necessidade de descanso, de ócio contemplativo, de admirar a vida, o que é, em última análise, vivê-la verdadeiramente.

"Ensina-nos a contar os nossos dias para que alcancemos coração sábio"
(Sl. 90:13)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Que fazer? Para onde ir?

“Não é bom ter zelo sem conhecimento.” (Pv 19:2a)

“Errais em não conhecer as escrituras e nem o poder de Deus.” (Mateus 22:29)

“O meu povo é destruído por lhe faltar conhecimento.” (Oséias4:6)

Os cristãos modernos tendem a se enquadrar em dois grupos distintos, ambos bastante perigosos. De um lado, os que não ligam muito, que vão à igreja uma ou duas vezes por mês e pensam que cristianismo é aquilo que a sua própria moral lhe diz. A estes critico ferozmente, porque crer é pensar. Se não sabem o que significa aquele pãozinho ou a óstea que comem na igreja, se não conhecem os fundamentos da sua fé, se nas suas atitudes nada muda, fogem muito do que diz Jesus, tão lindamente: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." Ora, é preciso conhecê-la. Esses são perfeitos atores (para não dizer palhaços) que repetem o que decoraram desde pequenos, achando que impressionam alguém. Como se Deus fosse uma platéia surda e cega.
O outro extremo, tão perigoso quanto este, é o dos novos legalistas. A morte de Jesus na cruz rompeu com a Lei de Moisés pura e nos colocou debaixo da graça de Deus. Entender a profundidade disso é entender a base cristã. Os fariseus, a quem João Batista tanto criticou e chamou "raça de víboras", ordenando que produzissem frutos de verdadeira conversão, têm novas versões em nossos dias. São esses "sepulcros caiados" que inventam novas regras e que se esquecem da premissa primeira - a graça. Procuram novas "mulheres adúlteras" (que hoje em dia são tão facilmente perdoadas) em quem atirar pedras, nomeadamente os homossexuais, as mulheres que abortam, mas não se lembram dos seus pecados nem se retiram, como o fizeram os judeus ao som das palavras de Jesus. Absurdos eu já ouvi de todos os tipos, inclusive doutrinas que rotulam quem vai para o céu e quem vai para o inferno. Além disso, tem as que dizem o tamanho do cabelo, da roupa, a quantidade de maquiagem, and so on, como se Deus se importasse com a nossa aparência mais que com o nosso coração. Hoje mesmo, deparei-me com a doutrina de que beijar antes do casamento é pecado. Os fariseus não defecavam no sábado, porque era o descanso. Há semelhança?
Vejam bem, sei o que a Bíblia diz sobre se abster da imoralidade, mas a decisão dos limites é pessoal. Não podemos rotular como pecado algo que nos parece errado. Ora, se assim fosse, a mim parece errado ir a um show de Hard Core. Isso significa que as centenas de bandas cristãs desse estilo pecam? - de maneira alguma.
Nesse ponto, nossos novos fariseus caem no mesmo perigo dos que não se importam - confundem moral com cristianismo.
É preciso conhecer mais. É preciso estudar a Bíblia e saber o que ela diz sobre uma coisa e outra, ou o que ela não diz, porque ela é o dogma único sobre o qual nós, cristãos, estamos erigidos.
Lemos tanto: revistas, jornais, livros, bulas, manuais, emails, orkut. Por que não gastar tempo lendo algo eterno?
Há poder na palavra do Senhor.

domingo, 20 de junho de 2010

All sides

Uma das razões por que é tão difícil amar é que para isso, é preciso completude. O amor, como tudo na vida, tem fases. Primeiro são olhares, depois conversas, mais conversas, uns beijos e abraços, que são o contato físico que se tem antes de se casar (pelo menos para os mais ortodoxos, grupo em que me incluo muito facilmente). Quando se casam, as pessoas têm a fusão de suas mentes e espírito concretizada em seus corpos, mas após algumas décadas, algo cessa. O vigor físico não é mais o mesmo, as mulheres - e também os homens - ganham rugas, a beleza do corpo vai passando, tão efêmeros que somos. E o amor carnal que era tão efusivo vira só uns amassos, depois uns beijos e, quem sabe, vai se transformar naquelas conversas primeiras, em que importava a companhia - e só. Não digo que haja mal nisso tudo. Pelo contrário. Digo que só pode amar para sempre quem aproveita cada parte do amor e quem, desprovido de um de seus viéses, não o deixa de lado. Tive um amigo muito engraçado e muito querido que me dizia que precisava se casar porque não aguentava mais viver sem sexo. Eu ri muito, naturalmente, porque é divertida a declaração tão espontânea, mas pensando nisso, depois, concluí que era triste, a afirmação. É preciso gostar de quem se ama por inteiro e sempre. Se a vida, como diz a sabedoria popular, é uma roda-gigante, o amor é uma montanha-russa, e quem não aperta os cintos, principalmente quando está de cabeça para baixo, não completa a jornada. Para amar, precisa-se tanto de pulso quanto de coração, e pouquíssimos temos o suficiente.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cadê as Férias?

Eu preciso parar.
Preciso reler Cem Anos de Solidão.
Preciso ver e sentir o mar.
Preciso passar um dia assistindo aos filmes que quero.
Preciso poder ir à igreja dois ou três dias na semana.
Preciso fazer nada.
Preciso viajar.
Preciso respirar.
Preciso que o fim do período termine de verdade.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Dai Graças!

Quando eu me levanto, todos os dias, abro a janela e enxergo, sinto, saboreio, respiro e ouço o dia. Acredito que alguém o preparou para nós, e que por isso devo me alegrar nele. Chama-se presente por muitas razões. Tenho uma família que me ama e suporta em tudo, ainda que não concorde comigo às vezes, amigos que são uma festa contínua e o meu querido. Meus pais me educaram e me deram carinho desde sempre. Estudo o que escolhi por mim mesma, aprendo as coisas que quero, faço o esporte que me agrada, leio o que me dá vontade e escuto as músicas de que gosto quando bem entendo. Se preciso ir a algum lugar e não há quem me leve, posso pegar um ônibus muito facilmente. Quando tenho muita vontade de comer uma coisa diferente, vou ao supermercado, compro umas besteirinhas e invento na cozinha. As doenças mais graves que eu tenho são uma dor de cabeça ou uma gripe. No meu país, as pessoas não precisam se esconder nem correm o risco de morrer porque lêem a Bíblia ou vão às igrejas. Eu tenho muitas coisas para fazer o tempo todo. Não sou depressiva, mesmo com os problemas que, como os seres humanos todos, também tenho eu. Viajo sempre que posso, às vezes só a Recife, e isso sempre me dá mais paz. Neste mundo onde as pessoas têm tantas incertezas (inclusive eu), estou certa do que é mais importante: há um Deus que tudo pode e que é ágape. Eu já estive perdida, mas fui encontrada.
Embora tenha muitos erros e ainda muitas aspirações, neste momento da minha vida, eu tenho quem gostaria de ter, sou o que gostaria de ser e estou onde gostaria de estar. Por isso e por tudo, sou imensamente grata ao Senhor. Pelo presente, mas também pelo que passou, e pelas vitórias que, eu sei, continuarão a vir.
Hallelujah

terça-feira, 18 de maio de 2010

Disse-me Clarissa, em meio às lágrimas de quem se casa sem vontade: "Não sei o que me atraía mais. Conflitavam pelo primeiro lugar a sua inteligência extraordinária e a sua força de homem. Sim, porque era seguro de tudo, decidia bem, e quando não o fazia, encarava as conseqüências de frente. Junto dele, eu não tinha medo de nada. Se me propusesse irmos embora a não-sei-que-lugar, eu iria, porque tinha a certeza de que ele resolveria tudo. Era gentil, mas firme. Escutava as minhas opiniões, mas, no impasse, sabia fazer prevalecer a sua, "porque eu sou o chefe, meu bem", ele me disse tantas vezes, ao que eu fiquei emburrada e pisoteei, mas aceitei, porque o amei mais que a tudo. Sua autoridade de marido, que realmente se preocupava comigo, me atraía cada vez mais. Sua voz estrondosa, como de um trovejar, e o jeito como segurava a minha mão faziam surgir qualquer coisa de loucura em mim. Para ele, eu era um bibelô - o mais amado, mais querido, mais cuidado e mais brilhante dos bibelôs. Isso me permitia ser forte e confiar na fortaleza dele, ao mesmo tempo. Todas essas promessas de segurança que haviam sido feitas entre os nossos olhares foram quebradas por ele, e eu nunca saberia, não fosse um acaso qualquer. Eu não quis mais ser sua. Talvez até hoje ele não saiba o porquê e por isso me destrate, vez por outra. Mas não sabe que me teria feito o bibelô mais feliz do mundo. E hoje, vejá só, amiga-minha, entrego-me estática a esse destino materializado por outros. Não me movo, não grito, não esperneio mais. Eu, que sempre pensei que faria o meu."
E na hora do sim, houve o silêncio mais mudo que eu já ouvi. O mundo, como diria Lispector, respirava. Só ele e o noivo de Clarissa, contemplando a morte inevitável de quem não ama.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

It's all about You, Jesus

Para a minha querida

Não conheço ser humano algum que nunca tenha sido ferido. Às vezes até as pessoas que mais amamos nos machucam - e é quando mais dói. Fecha daqui, abafa dali, e vamos tocando a vida, tentando conviver com a dor. Quem diz que não sofre mente. Parte dessa vida tão brilhante e colorida é angústia, sofrimento e dor. É preciso perdoar sempre, ser leve sempre. O ressentimento é o fardo mais pesado que qualquer ser humano pode carregar. Quando depender de você, deixe as coisas ruins bem longe.
A pergunta que já me fizeram tantas e tantas vezes é a seguinte: "Por que sofremos?" Penso um pouco, e a resposta sempre tarda - não sei o motivo exato. Um amigo muito amado me disse uma vez que quando sofre, sente mais fortemente a presença do Senhor a lhe sustentar; eu penso que a sinto mais agora, quando o júbilo enche o meu ser, mesmo que Ele seja o meu sustento sempre. Mas de uma coisa eu sei ao certo: não somos o fim último da nossa existência. Aqueles que não acreditam no transcendente podem parar de ler por aqui.
Sei que vivemos para um propósito, qual seja, fazer com que o nome de Deus seja glorificado. Os nossos dias, como diz o salmo, foram escritos e contados quando nenhum deles havia ainda. Deus sabe que sofremos, conhece os nossos corações, as nossas angústias e cuida de nós, ainda que sejamos tão frágeis e passageiros. Diz Paulo, que sofreu tantas prisões e açoites, que os sofrimentos do presente não se comparam de maneira alguma à glória que está por vir.
Ontem, na Escola Bíblica, eu contava a história de quando Daniel foi mandado à cova dos leões, (v. o capítulo 6 de Daniel) quando perguntei o que era mais marcante na narrativa, ao que uma aluna respondeu: "que Deus livrou a vida de Daniel". Resposta errada. De fato, Daniel era íntegro e fiel a Deus. Mas o mais importante não é que Deus o tenha livrado da morte, e sim que através desse milagre, o Rei Dario fez um decreto a todos os povos do seu reino falando sobre as maravilhas e o poder do nosso Deus - o nome do Senhor foi louvado.
Que paremos de pensar nos nossos sofrimentos como mera tristeza, angústia, e que peçamos a Deus que a Sua graça sobre as nossas vidas transborde a ponto de alcançar quem está ao nosso redor e que, também através de nós, seja Ele exaltado - a cura virá em conseqüência. Nem tudo é sobre nós - tudo é sobre Deus e o que fazemos para Ele, na alegria ou na tristeza.

"Porque dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas."
(Rm 11:36)

terça-feira, 11 de maio de 2010

Tocou, pegou, morreu.

Oitenta por cento das mulheres que eu conheço sofrem de uma coisa chamada tensão pré-menstrual. Biologicamente, o que acontece é uma montanha russa nos hormônios e o caos se instala dentro de nós. Eu quis dizer muitas vezes que não tenho isso, mas ante às explosões emocionais e à necessidade louca de glicose que me acometem no período anterior aos maus dias vermelhos, fico sem argumentos.
Já chorei - e foi a pior das vezes - assistindo àquele comecial das fraldas em que um bebê diz no final: "respira, bumbum!"
Mas o choro é o menos mau. Ruim é a agressividade, a angústia, a dor.
Que os que defendem igualdade de gênero entendam que o nosso sofre mais. E que vão à merda, se não entenderem. Porque enquanto sinto toda esse caos dentro de mim, ainda assim preciso estudar para a minha prova de sexta-feira, para as minhas aulas, para o seminário e a prova da semana que vem, para o projeto de extensão, para as aulas que darei domingo, ainda tenho que ser uma boa filha, uma irmã engraçada, uma namorada simpática, e que se não perfaço tudo, sou menos. Não eu, porque quem está perto de mim me tolera, e eu mesma tento ter mais paciência com as minhas falhas.
Mas que saibam, todos, que as mulheres precisam de paciência e precisam ser amadas, nos dias maus mais que nunca.
Cuidem das suas flores.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Canção das Mulheres

Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dói a idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa: uma mulher.

(Lya Luft)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Nós primaveramos

Contaram-me, naqueles tempos, a história das flores. Da primavera que brotava na Europa cujo frio distanciador era a minha única memória. E, também naqueles dias, no calor do verão dos trópicos, congelava, a cada instante, a alma que havia dentro de mim. O ser, a vida, o pulso, nada mais era. Tudo se desfazia em gelo e em nada. O sofrimento que traz raiva e ódio não aquece. Pelo contrário, a angústia das nossas desavenças e do silêncio pesado em que insistíamos me faziam esquecer que havia o Sol. A bola de fogo se aproximava um pouco da Terra todos os anos, mas não de mim. Ou era eu que me afastava dela? Não sei. Era rapidamente que tudo acontecia. A velocidade da escuridão, pensava eu, era muito maior que a da luz. A escuridão alcançava todos; a luz pouquíssimos, e eu não era um deles. Queria ser. Queria poder enxergar o que os outros viam todos os dias e sentir o calor do Sol daquele que, supostamente, me havia criado. Queria acreditar nesse poder sobrenatural, mas não me era tão fácil quanto aos outros. Um dia o frio foi muito forte, e eu decidi mudar de lugar, tomei um caminho estreito, como se houvesse tristeza de menos em mim. Decidir mudar é das coisas mais perigosas que se pode fazer na vida, isso porque tirar um bloco desmorona muros inteiros - e os meus caíram todos. Então o Sol pode entrar. Ele estava lá sempre, até para mim, mas minhas travas não me permitiam vê-lo. A corda sobre a qual ando é, de fato, estreitíssima. Caio muitas vezes, mas o calor das molas sempre me empurra de volta e descongela o meu coração. Não existe mais frio. Junto com as flores coloridas cujas partes feias eu podo, deixando que renasçam ainda mais fortes, também primavero eu todo tempo.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Beyond the Veil

A páscoa, assim como o natal, é um feriado querido. Pâque, easter, páscoa - é bonita e aconchegante, até onde eu sei. Já me contaram uma vez as histórias dos ovos de páscoa e do coelho, mas não era tão interessante a ponto de eu me lembrar até agora.
Apesar de soar apenas bonitinha, a páscoa traz a história mais profunda do mundo, para mim. Enquanto no natal comemoramos a chegada de Jesus ao mundo e o presente que Ele foi, na páscoa comemoramos o objetivo dele se concretizando.
Há de se fazer uma explanação simplória para democratizar o entendimento da páscoa. Nos templos, à época de Jesus, havia um lugar mais sagrado que os outros: o Santo dos Santos. Aí só entrava o Sumo Sacerdote, que por vezes morria por não ter sido de todo purificado de seus pecados. As pessoas se purificavam através de sacrifícios de cordeiros (que deviam ser sem mácula). O Santo dos Santos, a presença de Deus, era separado dos outros lugares do templo por uma parede grossa que é referida - creio eu eufemisticamente - como o véu do templo.
Repetirei essa história toda páscoa, todo ano - é uma das minhas preferidas.
Deus, vendo a separação enorme entre o homem e Ele, por causa do pecado, dá o Seu próprio filho para ser o cordeiro sem mácula a derramar o sangue por toda a humanidade. A Bíblia diz que quando Jesus morreu o véu do templo se rasgou de alto a baixo.
Eu senti-o uma vez, pessoalmente. E nunca mais fui a mesma. Pensava em Deus como alguém muito distante de mim. Não que não falasse com Ele. Amei-O desde sempre, ensinada por mamãe. Mas também tive medo dEle e já pensei que precisasse falar com muita gente antes de chegar nEle mesmo. Enfim, houve muito, nessa existência, que me fez ver Deus como o Supremo Criador, a figura austera do pai distante, mesmo que eu, a princípio, o chamasse apenas 'Papai do Céu'.
Mas um dia, compreendendo o verdadeiro sentido do que Jesus fez, do que a Sua morte, mais que todo aquele açougue dos filmes, significou espiritualmente, tive um encontro íntimo com Deus. Senti, dentro do meu coração, o lugar santíssimo, e pude dizer, como o disse Paulo, mas na minha própria língua abrasileirada: "Aba Pai, papai querido!"
Portanto, para mim, páscoa é hora de lembrar a maravilha que é estar na presença de Deus e ter a Sua companhia sempre, de graça - Ele já pagou o preço. E é momento de agradecer por isso, não que eu o consiga inteiramente. Páscoa é quando eu entendo melhor a força da crença cristã.
Sempre que entrego um ovo de páscoa a alguém, torço para que enxergue o que se deveria comemorar por trás de tanto chocolate - Jesus Cristo, a materialização do Ágape.

"Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores" (Romanos 5:8)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Quatorze Bateaux sur la vie

Era dia catorze. Sempre, tudo sempre fora no dia catorze. Ele preferia quatorze, ela catorze - nunca deu o braço a torcer. Os franceses escrevem quatorze, ela catorze e não muda. Nunca quis mudar. Inventou-se de novo muitas vezes, fez novas coisas, mas ainda é a mesma daqueles dias catorze. Um ano antes, ajoelhou-se e orou. Pediu-o. Um ano depois, teve a resposta: separavam-se definitivamente. Não foi trágico nem melodramático. Foi seco. Seco como tudo sempre houvera sido. Seco como os dias catorze.
Ela olha suas agendas passadas, os rabiscos escassos que fez em diários e ri da própria vida. O desespero que teve porque não aprendia física de jeito nenhum, a angústia por provas bobas, o estresse para conseguir as tão suadas medalhas. Não se lembra mais de física, nem das provas e as medalhas se perderam em alguma caixa das tantas mudanças que sofreu. O que não encontra, e se espanta muito, é frustração dos seus esforços. O Criador lhe deu aquilo por que lutou. E isso lhe amedronta catorze vezes mais - os primeiros tombos são os mais doloridos.
A vida dele é cíclica, a dela retilínea. Ele volveu aos seus quatorze, não ela. Por seguir, ela encontrou a abundância de sete vidas; ele, a rouquidão do deserto.
Eu os assisti, ora de perto, ora a quilômetros de distância, e sabia que tomariam rumos diferentes. Aliás, quando lhes olhava, via aquela cena de Pocahontas (os desenhos ainda são a minha associação mais próxima) em que o rio se bifurcava. Ele e ela escolheram o mesmo caminho, mas em barcos separados. Só um dos dois tinha espaço para o Capitão. Só um dos dois encontrou paz. Desde essa história, soube eu que a vida é muitas vezes sobre os barcos que tomamos e quem levamos conosco, menos que sobre o rio mais caudaloso. Ainda assim, tenho muitas opiniões - mais de catorze, certamente.

terça-feira, 16 de março de 2010

Priorities

Penso que diz à pessoa certa, quem diz a mim que tem muito o que fazer - também o tenho eu. Faço malabarismos com horários e às vezes me canso, mas gosto muito da constante atividade, do on the go. Além disso, queria poder absorver tudo o que acho de interessante no mundo e aprender muito mais, sempre. Línguas, instrumentos, alguns esportes, muitos cursos, muitas viagens.
E por me fascinar tanto com a beleza da variedade que a vida traz, acabo, vez por outra, me esquecendo de que muito disso é passatempo, principalmente porque acredito que a minha vida só começa aqui. Na verdade, como diz a música de Casting Crowns que eu escuto repetidas e inúmeras vezes, não passo de uma onda quebrada no mar, tão pequenininha que sou, se pensar na eternidade em que creio. E nem sei quanto tempo até eu ir-me embora para casa.
Tento sempre dar menos importância ao que passa e me espanto todos os dias com os meus companheiros de pequenez que tratam cada problema como o mais importante, que dedicam toda a sua energia às coisas que evaporam.
De nada adianta nada, se o pensamento não estiver no Alto.
Se não aprendermos, minha amiga, todos os dias, a colocá-Lo no centro das prioridades, a existência se torna rasa e se esvazia. Tome as decisões certas.

"Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?"

domingo, 14 de março de 2010

Quando eu digo para os meus pais, para itamarzinho, para os meus amigos, para o meu bem ou para as pessoas na igreja "que Deus te abençoe", quero dizer com pouco, muita coisa. Quero dizer que, mesmo que eu não esteja junto daquela pessoa todo o tempo, eu desejo que o Senhor esteja com ela. Que por onde ela vá, os anjos dEle a protejam e cuidem dela. Quando estão tristes, a vontade é que a paz de Deus lhes encha os espíritos e que Ele tenha o Seu coração voltado para a angústia delas. Quando felizes, o desejo é que Deus lhes oriente o caminho. Quando no dia-a-dia, que Ele sorria para elas.
É como se eu dissesse que quero que Deus lhes dê presentes o tempo todo, porque, mesmo para mim, que adoro comprar bobagens para os outros, certamente as melhores coisas da vida vêm dEle. Muito melhor que um brinco ou um carro é um desejo de bênção.
Então, quando você ouvir de mim "que Deus te abençoe", esteja certo de que, naquele momento, eu estou lhe desejando aquilo que eu encontro de mais precioso no mundo. Sem muitas coisas e pessoas eu já tentei viver e consegui, mas a bênção de Deus sobre a minha vida é o combustível que me mantém ligada. E o que eu desejo é que seja também o seu.

terça-feira, 9 de março de 2010

To Itamarzinho, when he grows up

Baby,
I am writing you something many and many people may read before you are able to, but that will make sure you'll only read it when the timing is right - and will also give me the opportunity to receive some critics on it.
You know I am jealous of you. I've seen you grow up, I know how big your heart is and I'm scared you'll make wrong choices. But then again, you're entitled to some. Just make sure that when you find the right girl, not the one I keep saying is right, but the one which seems right for you, you'll grab her. That young lady that, when you look at her, your day glitters and euphoria and peace fill your heart, all at the same time. The girl who brings butterflies into your tummy and cares for you. Remember she must care for you, this will mean she may love you one day. Never settle. If she seems hard to find, carry on looking for her. Look for the girl who likes the things you do or at least understands the things you like. Look for the one which is calm like you and likes to talk to you. Plus, most importantly, seek for the one who truly loves God, who truly lives the way God wants, who truly gives Him the value and the place He deserves - you have no idea how important that is.
When I say she should speak English, French and Spanish, even though I may sound serious, that's all a piece of nonsense. Speaking any of that, or even Russian, means nothing. Knowing everything, or even being a genious, means nothing. What I want to say is that it may be a pretty cherry over a cake, but it certainly is no flour. She must speak the voice that goes silently and deeply straight to your heart and she ought to act beautifully, even if you are the only one who can see the beauty (inner and outer, as mum always taught us, ok?).
So, little one, when you find that lovely girl, make sure you don't let her go. And make sure you'll take good care of her. Remember that as strong as she might seem, she needs to be looked after. All women, baby, are like flowers. Some have grown in a nice soil without any problems, some have grown by themselves, some have spines, some smell good, some have been cut before and need special attention, some are colourful, and so on. Whichever your flower is, help her keep growing. And remember her, every day if you have to, that you are nothing more than a gardener. Like all Sunflowers turn to the Sun, for a shiny life she will have to turn to God.
I hope I'll like your Sunflower,
Do take your time,
Love you

segunda-feira, 8 de março de 2010

Meu IntWoDay

Eu adoro ficar olhando a vida. Parece inércia, mas traz tanta surpresa, percepção e beleza, que vale a pena. Hoje, na minha jornada de primeiro dia na faculdade, prestei atenção especial às mulheres. Quando entrei no ônibus, a cobradora me recebeu com um "bom dia" e um sorriso bonitos. Minha mãe, que é a minha mulher preferida, em meio a todas as tarefas, livros e obrigações, deixou suas coisas e foi me buscar na Universidade, só porque eu lhe falei do calor que fazia. Em casa, Célia tinha preparado um almoço bem gostoso. Vovó, que tem o espírito mais alegre que eu conheço, passou por aqui. À tarde, Betinha, minha teacher querida, veio me dar aula. Fui à autoescola resolver umas pendências. No caminho, vi meninas com fardas de colégio segurando aquelas flores murchas que receberam, e tinham um olhar triste mas firme. Na autoescola, por fim, chegou uma senhora muito elegante de uns sessenta anos que disse, sem vergonha alguma: "Não quero mais andar de motorista. Vim tirar a carteira." E são todas lindas, desde a bebezinha que usa uma tiarinha cor-de-rosa até a mecânica que resolve os problemas tão rápido. Por isso, ontem comprei presentes para as que eu quero bem. Vale sempre fazer vista grossa ao apelo comercial e lembrá-las do quão especiais são, ou de quão gratos somos por elas.
Neste dia, portanto, permiti-me admirar apenas a metade da vida. E me perdoem os homens - ou melhor, concordem comigo - a metade mais poética.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Foundations

"Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha."

O tempo todos as pessoas me perguntam sobre esses cursos de inglês cujas propagandas ostentam: "Aprenda inglês em seis meses." E eu lhes digo sempre a mesma resposta ensaiada: "Impossível." Ora, já é dificílimo aprender português em tão pouco tempo, quiçá uma língua completamente estranha. Pode-se aprender a gramática, uma coisa ou outra, mas se depois de um ano de estudo, o aluno quimérico puser a língua à prova em uma viagem, por exemplo, verá que parece um analfabeto. Dizer a um desses aspirantes que é preciso, pelo menos, que se estude três ou quatro anos para alcançar fluência é fatal - desistirão, com certeza. E esse é o problema: todo mundo quer tudo aqui e agora, mas ninguém percebe que o fast quase sempre é junk.
O paraíso seria se as línguas fossem o único aspecto dessa nossa mania modernosa. Fato é que os relacionamentos ficam, a cada dia, mais instantâneos que leite em pó. Quem se conheceu ontem, saiu hoje e vai transar amanhã, sem escrúpulo algum e achando normal. O menino que escuta uma música de rock, amanhã já se diz fã dos Beatles, sem conhecer nada. Aliás, os Beatles são um exemplo bom de que é preciso esforço e tempo para construir uma base decente. Não conheço mais nenhuma banda recente, porque vêm e vão tão rapidamente que todo mundo acaba escutando só uma canção e pronto.
O desafio é, então, ter paciência e perseverança para construir bases fortes, que suportem a bonança e resistam às tempestades. Conhecer bem, ser seguro sobre quem se é (mesmo que seja a coisa mais difícil de se explicar), ser família sempre, saber erguer um amor (sem esperar que ele chegue pronto e embrulhadinho) e, abaixo de tudo, como uma pedra angular, ter fé em Deus, que é o único que permanece. Por isso diz Ele, tão firmemente: "Os céus e a terra passarão, mas não as minhas palavras."
Alicerces são demorados e ficam invisíveis na construção, mas nesses dias tão rasos, ter um sustento é fundamental - literally.
Há doze anos que eu estudo inglês.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Escrever sem metáforas, sem explicações; sem início, preposições ou fim; sem o aperto de quem vive para escrever, nem a leveza de quem escreve para viver; sem os elogios nem as críticas. Escrever sem pontos, sem vírgulas, sem acentos; sem a preocupação dos amantes nem a negligência dos que se julgam soltos; sem o estresse da cidade nem o bucolismo oposto.
Escrever sem o mar e sem as estrelas; sem as brigas intermináveis de amigos íntimos, nem a concordância estimável dos cúmplices; sem o roubo e sem o presente.
Escrever sem a necessidade de escrever e sem o prazer de escrever; sem mecanicidade, sem choro, sem idéias.
Não escrever um livro nem um conto nem um artigo nem um parágrafo.
Não escrever uma linha nem uma frase nem uma construção.
Não escrever nenhuma palavra.
Transcrever a alma e a gargalhada de uma criança e guardá-las no bolso do meu coração - tenho sonhado com isso.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Marie-Helène

Não sou como a de Tróia - a tranqüilidade é um dos meus amores mais insecretos. Sou menos real que as de Manoel Carlos, mas mais humana que a de Machado. Mudo o tempo todo. Posso ser um turbilhão ou a inspiração de que fala a música de Altemar Dutra, que tanto me cantam, desde pequena. Um dos meus nomes é hebraico, o outro, grego. Paz, Graça, as duas se fundem na minha cabeça, quando chamam meu nome, que me lembra constantemente de que o amor de Deus se estende a mim e a todos. Então, eu sei que nada é acaso.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Unformsprings

Eu fico no meu canto
e não me exponho
embora ponha a alma
na janela.

Eu fico de vigília
e não me espanto
mas cuido de observar e
às vezes
canto.

(Marina Colasanti)

Esta e a única pergunta a que eu vou responder: "Por que você não faz um FormSpring?"

Nunca entendi muito bem o orgulho de algumas pessoas ao dizer: "Minha vida é um livro aberto." Não bastasse a declaração boba, a nova ferramenta da internet, o tal do FormSpring chega especialmente para quem, não conseguindo contar sua história, permite que os outros façam um Control+F e vão direto à informação desejada. Além disso, os inquisitores não precisam se identificar. Eu me pergunto: viraram pura informação, as vidas?
Sempre tive pena ao abrir, nas esperas intermináveis dos salões de beleza (é, eu não sigo bem o conselho de Zeca Baleiro, quem sempre ouço), as revistas de fofoca e ver aquelas fotos tiradas pelos paparazzi ou as perguntas inconvenientes feitas aos famosos. Penso que vida pressupõe liberdade e ter que dar satisfações sempre e a todos parece um tipo de prisão. Mas agora parece que todo mundo precisa muito aparecer, tornar públicos os detalhes da sua vida, que todo mundo quer ser estrela. Aqui eu me lembro do que disse um querido professor que eu já mencionei antes: "Tem muita estrela pra pouca constelação."
Nunca tive muito problema em ser clara sobre o que pensa a minha mente e luto para sempre transparecer os meus reais sentimentos, mas não fere, de maneira alguma, a integridade de alguém, guardar para si os seus sonhos, conquistas, as palavras, histórias e momentos que lhe marcaram.
A vida que eu ganho de presente todos os dias é um livro fechado que eu abro para pouquíssimos, e há páginas - bastantes - que só eu e Deus lemos. Não quero virar novela. Nenhuma plenitude é escancarada.

sábado, 23 de janeiro de 2010

As-tu trouvé ton papillon?

"Il faut bien que je supporte deux ou trois chenilles si je veux connaître les papillons. Il paraît que c'est tellement beau."
(La fleur du Petit Prince)

Disse o apóstolo na citação que incomoda e perturba muita gente: "Em tudo, dai graças." Para quem recebeu da mãe e do pai, até aprender, muitas observações quando esquecia de agradecer, dizer "obrigado" é muito normal. Quando recebemos um presente, quando alguém faz um favor, quando cruzamos os dedos pedindo alguma coisa e acontece, quando oramos muito e o pedido é atendido, ou nas coisas mais banais, quando nos abrem a porta do carro ou nos dão preferência em uma fila, sempre agradecemos. A Deus, aos nossos queridos ou a um completo estranho.
Um coração grato se junta à saúde e à tranquilidade interior no começo da lista de bens terrenos mais preciosos.
Difícil de entender é como agradecer pela adversidade. Paulo instrui: agradeça sempre, agradeça o tempo todo. Gosto de ler suas cartas porque nelas encontro a visão grande de que Deus controla tudo e nos ama, ao mesmo tempo. Quando ele diz que sabemos que todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus, é como se quisesse dizer: mesmo que nem sempre pareça bem, sempre está bem. Deus sabe. Existe, então, uma lógica - ainda que Deus não possa se resumir à nossa razão tão insana - devemos agradecer porque Deus cuida de nós. Deus é o nosso Paizinho e, como os pais por vezes deixam os filhos errarem, é como se Deus fizesse o mesmo. [Diz García Márquez que talvez Deus queira que conheçamos muita gente errada para que, quando, enfim, conheçamos a certa, saibamos estar agradecidos. Vale para as outras coisas da vida.] Ou talvez como se Ele simplesmente nos deixasse livres.
Seja uma coisa ou outra ou uma coisa e outra, importa confiar que Deus sabe o que faz com as nossas vidas, ou porque permite que certas coisas aconteçam. Todos os pedaços de vida são importantes, e há tempo para tudo. Deve-se agradecer pelos lagartos, porque depois vêm as borboletas. E então é preciso agradecer por elas.

sábado, 9 de janeiro de 2010

As almas também se entendem

Every single human being, even the most euphorical one, has got some beliefs that are unquestionable. Those things that have grown inside them as their bodies and souls grew and might change, but may not change. Those things which are natural and clear.
I've got a bunch of them. About faith, family, drugs, law, morals, and so on. Today, however, all of that seems too heavy to me, whereas marriage sounds as light as a sheet. Talking about it, I mean - the real thing must be a little thicker.
Well, what's clear to me about marriage is that it is something God has prepared for almost everyone and that it is something good. I have reflected about passion and I'd go along with Lewis when he says it's the explosion for marriage, if it has developed into love. In this life full of ups and downs, a truthful and strong love that resists the storms is the only thing worth marrying for.
The Bible says, so beautifully, that "love is patient, love is kind, it does not envy, it does not boast, it is not proud. It is not rude, it is not self-seeking, it is not easily angered, it keeps no record of wrongs. Love does not delight in evil but rejoices with the truth. It always protects, always trusts, always hopes, always perseveres."
Plus, it is clear to me, as clear as the clearest thing, that sex is something saved for marriage and that one must wait. I clearly will. One of the first verses I ever memorised said that there is a time for everything.
Last, but very far from least, I guess marriage should last. And last. And last, even when you don't like each other or in the middle of trouble, 'cause you love each other, and though your love may seem endable, the love God puts in your hearts is infinite. That is, to me, absolutely clear.
Love, the one which trusts, waits and cares, is probably the best and rarest thing to find. Keep your eyes open.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Ciclar

Maria era uma mulher comum. Veja-se o indício do que quero dizer pelo seu próprio nome, que é o mais ordinário. Como há muitos Severinos, também há muitas Marias. É nome de santa, de cidade, de loja, nome da mãe, da prima, das tias. Mas esta Maria tinha uma história esquisita. Nascera em uma cidade em que a lei proibia nomes iguais. Sua mãe queria por-lhe o nome da santa, mas não podia – havia uma senhora, já quase morta, que se chamava Maria. Portanto, Maria ficou sem nome até a morte da velha, quando a menina já tinha uns sete anos de idade. Ao contrário de quem começa a escrever aprendendo o próprio nome, Maria escrevia o da velha, isso às escondidas, em um quartinho nos fundos que tinha três grades e dois ferrolhos na porta, para que ninguém denunciasse sua mãe.

Quando ouviram dizer que a velha morria, a cidade inteira se vestiu de preto, menos a mãe de Maria, que colocou a roupa mais branca que tinha compôs uma canção que entoava aos vinte ventos e dizia:

- Hoje nasceu, nasceu Maria.

Quando o padre escutou o canto, tratou de enviar a mulher para o hospício da cidade vizinha e contou, até o dia em que ao invés do altar ocupava o caixão, a história da doida que dizia que nascera quem morria, fazendo, sem saber, piada do que ele pregava nas enfadonhas celebrações de todos os domingos.

Antes de morrer, contudo, celebrou o casamento de Maria, que se casou com João. Aprendendo a crença materna, queria mesmo era casar-se com um José, mas o único que conhecia já não podia lhe dar filhos, porque era o seu próprio avô. Não tendo jeito, casou-se com João, a quem apelidara de Zé. Não compreendia por que perto dele seu coração acelerava, seu corpo esquentava, sua mente descansava e menos ainda entendia a vontade insana de querer estar perto dele o tempo todo. Maria, tendo encontrado o maior dos amores, não sabia o que era o amor – ninguém lhe contara. Tiveram dois filhos e nenhuma filha. Três netas e nenhum neto.

Mesmo depois de quarenta anos de casados, riam juntos todos os dias, às vezes só do vento. Houve dias em que suas gargalhadas foram tão estrondosas que os vizinhos correram à sua casa intentando separar uma briga, só para chegar lá e rir também.

Uma das netas de Maria, estando grávida, disse-lhe, numa sexta-feira quente do verão eterno, que achava bonito o nome de João e que queria colocá-lo no seu filho. Na mesma noite, quando estavam na cama abraçados, Maria sentiu parar de bater o coração que complementava o seu. Como que movido por uma engrenagem, o seu também foi desacelerando, e ela só conseguia pensar:

- Neta desgraçada!

Nasceram um novo João e uma nova Maria, e nunca mais houve verão nem riso. Mas houve vida, o que, no fim das contas, importa mais.