quinta-feira, 5 de julho de 2018

Quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em você?

Eu gosto de ler e reler a carta que escreveu Clarice a sua irmã, implorando-lhe: "pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita". Ela lhe perguntou, também: "você já viu como um touro castrado se transforma em um boi?". Essa questão me persegue. Na primeira vez em que a vi, eu era ainda a mocinha nova que escrevia aqui suas indignações, seus sonhos, suas lutas, e que era decidida a não deixar-se domar. Mas a vida não escuta a nossa intenção. Há fases em que o abalo nas estruturas vitais é tão grande que nós chegamos a suspeitar a proximidade do fim, ou, pior ainda, a desconfiar de que não conseguiremos ir em frente. A força de amar, de projetar-se no futuro, de entregar-se sem amarras, tudo isso fica muito prejudicado. E aí, parece impor-se uma suspensão de muitos sonhos, planos, projetos, talentos, habilidades. A energia do corpo e da alma, e mesmo a própria vontade, que antes era sempre tão variada, concentram-se todas na manutenção da vida. Isso, em si, é uma coisa muito poética também. Que, além de Deus, que provê a maior força, o nosso próprio ser seja capaz de um autocuidado tão imenso, de mudar o querer e transformá-lo em uma vontade de acomodação, de estar quieto para seguir vivendo, é algo de extraordinário. E agora me sinto imensamente melhor. Mas eu, que sempre sonhei muito, vejo este lugar, que já tem se prolongado, como transitório. Eu permaneço nele, também, porque fiz a loucura de sobrepor o sonho do outro ao meu. Loucura de amor, não me arrependo. Agora, porém, é hora. Que me perdoem os que creram na minha quietude e que estavam alegres, acreditando que ela duraria para sempre. Eu sei que vocês só quiseram o meu bem, mas o confinamento nunca será o meu bem. Que me perdoem e me entendam, porque eu (ainda) sou (de novo) aquela menina. Já é hora, já é hora. Eu fiz a lista, e não desisti de sonhar. O sonho agora é outro.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Long time no see. Long time since I last wrote in English, this dear language of mine. I have to confess, I've lost the practice. Will come back another day.