domingo, 28 de fevereiro de 2010

Foundations

"Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha."

O tempo todos as pessoas me perguntam sobre esses cursos de inglês cujas propagandas ostentam: "Aprenda inglês em seis meses." E eu lhes digo sempre a mesma resposta ensaiada: "Impossível." Ora, já é dificílimo aprender português em tão pouco tempo, quiçá uma língua completamente estranha. Pode-se aprender a gramática, uma coisa ou outra, mas se depois de um ano de estudo, o aluno quimérico puser a língua à prova em uma viagem, por exemplo, verá que parece um analfabeto. Dizer a um desses aspirantes que é preciso, pelo menos, que se estude três ou quatro anos para alcançar fluência é fatal - desistirão, com certeza. E esse é o problema: todo mundo quer tudo aqui e agora, mas ninguém percebe que o fast quase sempre é junk.
O paraíso seria se as línguas fossem o único aspecto dessa nossa mania modernosa. Fato é que os relacionamentos ficam, a cada dia, mais instantâneos que leite em pó. Quem se conheceu ontem, saiu hoje e vai transar amanhã, sem escrúpulo algum e achando normal. O menino que escuta uma música de rock, amanhã já se diz fã dos Beatles, sem conhecer nada. Aliás, os Beatles são um exemplo bom de que é preciso esforço e tempo para construir uma base decente. Não conheço mais nenhuma banda recente, porque vêm e vão tão rapidamente que todo mundo acaba escutando só uma canção e pronto.
O desafio é, então, ter paciência e perseverança para construir bases fortes, que suportem a bonança e resistam às tempestades. Conhecer bem, ser seguro sobre quem se é (mesmo que seja a coisa mais difícil de se explicar), ser família sempre, saber erguer um amor (sem esperar que ele chegue pronto e embrulhadinho) e, abaixo de tudo, como uma pedra angular, ter fé em Deus, que é o único que permanece. Por isso diz Ele, tão firmemente: "Os céus e a terra passarão, mas não as minhas palavras."
Alicerces são demorados e ficam invisíveis na construção, mas nesses dias tão rasos, ter um sustento é fundamental - literally.
Há doze anos que eu estudo inglês.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Escrever sem metáforas, sem explicações; sem início, preposições ou fim; sem o aperto de quem vive para escrever, nem a leveza de quem escreve para viver; sem os elogios nem as críticas. Escrever sem pontos, sem vírgulas, sem acentos; sem a preocupação dos amantes nem a negligência dos que se julgam soltos; sem o estresse da cidade nem o bucolismo oposto.
Escrever sem o mar e sem as estrelas; sem as brigas intermináveis de amigos íntimos, nem a concordância estimável dos cúmplices; sem o roubo e sem o presente.
Escrever sem a necessidade de escrever e sem o prazer de escrever; sem mecanicidade, sem choro, sem idéias.
Não escrever um livro nem um conto nem um artigo nem um parágrafo.
Não escrever uma linha nem uma frase nem uma construção.
Não escrever nenhuma palavra.
Transcrever a alma e a gargalhada de uma criança e guardá-las no bolso do meu coração - tenho sonhado com isso.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Marie-Helène

Não sou como a de Tróia - a tranqüilidade é um dos meus amores mais insecretos. Sou menos real que as de Manoel Carlos, mas mais humana que a de Machado. Mudo o tempo todo. Posso ser um turbilhão ou a inspiração de que fala a música de Altemar Dutra, que tanto me cantam, desde pequena. Um dos meus nomes é hebraico, o outro, grego. Paz, Graça, as duas se fundem na minha cabeça, quando chamam meu nome, que me lembra constantemente de que o amor de Deus se estende a mim e a todos. Então, eu sei que nada é acaso.