quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Tenho medo. Confesso. Pronto. Medo de ir deixando a vida escapulir por entre minhas mãos,enquanto vejo o tempo passar, mas tenho-o também de viver tanto a ponto de não poder parare ver o vento correr. Tenho medo de prender-me a alguém com a mesma intensidade que tenho de ser livre. Tenho medo inclusive do próprio medo, que me assusta, todavia também temo nada temer, porque em sendo brava demais negaria minha essência. Talvez a beleza da existência seja justamente esses medinhos, talvez nossos temores nos impulsionem a querer algo mais, e eles são mesmo feitos para que os enfrentemos, que é a melhor parte da nossa natureza. Talvez só possamos apreciar a liberdade se antes tivermos sido aprisionados. Ou não. Talvez eu só esteja com medo.

[oct/23/07]

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Objetividade

Enquanto descia os degraus, não pensava em nada além do que faria ali. Veria a praia todos os dias, leria os livros que quisesse, teria paz. A tranqüilidade era tanta que, quando levantou os óculos escuros e deu a mão à aeromoça que a ajudava com a escada, o passado não lhe doía. Havia escutado músicas no fim da viagem, dormira, e agora, vendo aquele pôr-do-sol do lado de fora do avião, sentia vontade de dar risadas, como uma criança despreocupada. E um riso até se esboçou no seu rosto, mas teve medo de que, nesse riso, houvesse alguma crueldade. Não queria rir da má sorte de ninguém. Quando viu aquele sol, só pôde pensar que discordava um pouco de Exupéry, quando ele diz, no pequeno príncipe, que quando estamos tristes adoramos o pôr-do-sol. Ela gostava deles sempre! Ao caminhar para o saguão, sentia, cada vez mais forte, a firmeza desse pedaço novo da sua vida. Não tremia, nem duvidava, pelo contrário, a certeza era o traço inerente ao seu semblante, aos seus trejeitos. Quem a visse de longe, talvez não lhe conhecesse os cabelos curtos ou as roupas coloridas, mas qualquer um não hesitaria em dizer que era uma mulher decidida.
Pegou suas malas, passou no Duty Free e comprou uns chicletes coloridos, que lhe lembravam sua infância.
É verdade que, do avião, descia só, mas, quando saiu no desembarque, teve a maior surpresa de todas.
(...)
Saíram todos abraçados, do aeroporto. O 3510 ficaria para a próxima semana. Nesta, assistiriam à Bela e a Fera. Havia muito a discutir, e que saudades tinham daquelas conversas, daquelas manhãs.

domingo, 26 de outubro de 2008

"- Você contou-me há bocado a tal história dos hipopótamos...Sabe perfeitamente que os animais não olham para o céu, e quando levantam a cabeça na sua direcção, é fechando os olhos para bramir com toda a força... E se o homem, esse, se tivesse aprumado para olhar a beleza do céu, de olhos muito abertos, fascinado pelo azul, a imensidade e o mistério das estrelas...Um desejo de imensidade... Como se urgisse, um dia, ligar o céu à terra, unir a força da gravidade ao infinito, a lama dos caminhos ao esplendor do firmamento... Os primeiros homens aprumaram os seus corpos, elevando-se na ponta dos pés, de braços estendidos para partir à conquista do céu..."
(Yves Simon)

Ontem à noite, quando cheguei da festinha da Aliança, Itamarzinho correu para mim: "Nena, foi tão legal a minha aula!" Mamãe o matriculou em um clubinho de leitura, lá no Centro de Cultura. Ele chegou empolgadíssimo, contando as histórias, e me soltou essa: "Você sabia que os homens são os únicos animais que olham para o céu?" Eu, que nunca li Yves Simon e, naturalmente, não sabia, fiquei pensando muito sobre isso.
Como metida a aspirante de filósofa que sou, não poderia deixar de imaginar os porquês disso. Minhas tentativas de laicizar os pensamentos, nesse sentido, foram vãs. O que escrevo é cristianismo puro, ou seja, é puro amor.
Todo mundo que me conhece sabe que eu sempre quis ir a Londres, na Inglaterra. Quando pego um mapa da Europa, ou mesmo um Atlas, há sempre um magnetismo que me atrai para lá. olho também para o Egito, para a Austrália, para o Peru e tantos outros lugares que eu gostaria de visitar. Gosto muito, também, de olhar para o mar: às vezes penso que gostaria de morar nele. Mas é confirmando o que Simon disse que eu revelo a melhor visão que encontro: adoro olhar o céu.
Sua grandeza, as lindas estrelas que parecem rir, como diz o Pequeno Príncipe, e a linda lua prescindem de descrições. Cada vez que olho o céu tenho mais certeza de que não somos daqui - há um lugar para além dos nossos olhos para o qual todos nós, ainda que secretamente, desejamos ir. O ímã que atrai os nossos olhos para cima, quando vagamos por aí, é a simples tradução do que o nosso coração mais almeja: o céu.
A única maneira de encontrar descanso para as nossas almas é assegurar-lhe de que estaremos lá, de fato. É quando aceitamos o lindo presente oferecido por Deus que os nossos olhos fitam o firmamento com mais que mero desejo - com certeza do seu cumprimento, com esperança, com... Contando os dias, que, embora de espera às vezes curiosa e ansiosa, são maravilhosamente bons.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sábado, enquanto esperava a hora de encontrar painho para o almoço, assisti a um programinha muito curioso, do qual não me lembro o nome, na TV Cultura. O tema era a correria dos tempos modernos. Num desfecho brilhante, inventaram de encenar Hamlet para um grupo de pessoas, em uma praça pública. Ao anúncio da duração do espetáculo, uma mulher se levanta e diz: "Pô, cinco horas? A gente não tem tempo para isso! Será que não dá pra fazer uma versão resumida?"Discussão de atores para lá e para cá, decide-se pela short version. Um homem pega uma caveira, olha e diz: "Ser ou não ser - eis a questão." Muitos aplausos do público satisfeitíssimo. De repente, emerge um homem da multidão: "Isso é inadmissível! Eu sou William Shakespeare e não permito que a minha peça seja encenada assim." Uma das atrizes lhe explica: "Seu William, é o seguinte: hoje em dia a gente não tem mais tempo pra nada. A gente já compra as calças jeans rasgadas, porque não tem tempo de usá-las até o fim, quando a gente chega nos restaurantes, a comida já está pronta. Não podemos perder um segundo. Fazemos de tudo para economizar o nosso tempo." Depois de longa reflexão e admiração, Sr. William solta um "para quê? Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia." E o que ecoou na minha mente e ainda está se reproduzindo, até agora, foi esse "para quê?"
Vindo de Shakespeare, deve ser pensado. O homem escreveu as mais fascinantes histórias, o que deve ter levado um bocado de tempo, e o sucesso é tremendo. Depois de cinco séculos, eu estou aqui, num bloguinho de nada, falando dele. Penso que o melhor que podemos fazer da nossa existência é viver, a cada dia, tentando cumprir aquela frase que Tyco Brahe dizia antes de morrer: let me not seem to have lived in vain. Se a correria do mundo te faz viver em vão, pára! Sorve a tua vida santa e lentamente: é tudo o que tens, é presente.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Dúvidas?

Todo mundo tem perguntas. Melhor, todo mundo tem muitas perguntas. Há tanto nessa existência engraçada que não entendemos! Uma das maiores interrogações que temos é o amor. Quem diabos explicá-lo-ia? Tem pra todo tipo: eros, filos, ágape, mas não tem verso nem prosa que o compreenda e decifre. Eu sei muito pouco do amor, aliás, o que eu sei é mais de ouvir falar. Conheci dois dos seus companheiros: a paixão e a amizade. A primeira dá uma alegria danada! Vontade de pular, uma borboletas que voam na barriga e canções que nunca se acabam, o que se acaba é ela mesma. Depois de um tempo, é que nem aqueles chocolates de passas: ninguém mais agüenta! A amizade é mais constante, mas muito mais rara. Encontrá-la é tarefa muito difícil, porque tem muita gente que usa umas fantasias parecidas com ela. Pra testar se é amigo de verdade ou só de carnaval, a gente precisa ter um banho de problemas, doença ou decepções. Ágape é outra história. Eu nunca achei que isso poderia existir: alguém que me ama sem querer de mim nada. Nesse mundo, então, de incertezas, conhecer o lindo amor de Deus é o sustento que nos basta. Não haveria poemas, livros ou letras que expressassem quão maravilhoso é sentir o amor do Senhor nos cercar. O amor que é surpreendente, imutável, pleno, lindo e perfeito. O amor, amor mesmo, sabe?

[Que sejas tudo o que eu sinto e o que eu penso!]

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

SAUDADES

Com certeza, esse idiotismo do Português já deu muito o que falar! São tantos que o tentam explicar, retalhar, emendar, compreender, e certamente não sou eu quem falará dele melhor. Ontem, voltei do acampamento de crianças, e já sinto saudades das minhas semi-filhas, porque dessa vez eram de Lu (que foi a melhor conselheira, eu devo ressaltar). Cada palavra dita em oração e cada gesto de um cristianismo que se forma é tão lindo, que dá vontade de aplaudi-los sempre, esses pequenos. As brincadeiras, os olhares, os 'obrigada, tia', aqueles inusitados 'tia, você é tão linda' (é, há muita bondade nos olhos infantis), sinto saudades de tudo. Esse sentimento acontece quando algo MUITO BOM nos acontece, quando queremos voltar no tempo e viver tudo de novo, queremos ter os mesmos beijos, abraços, sorrisos, conversas, tudo de novo, e poderíamos viver aqueles momentos infinitas vezes. Engraçado, eu nem queria tanto ir pro acampamento. Perdi duas provas muito importantes no dia, mas foi umas das experiências mais construtivas de acampamento (eu que já fui, sem exagero, a mais de 20) que eu tive. Quando cheguei lá, confesso que a aparência não era assim, e há tantas outras coisas na vida que superestimamos, achamos que é demais, mas, como diz a música: 'as aparências enganam aos que odeiam e aos que amam'. Saudade a gente so sente do que foi muito bom, o que é ruim ou nos machuca, a gente esquece como uma nuvem de fumaça. Ganhei amigos de volta, lembrei-me do meu passado bom, dos meus amigos de verdade, e constatei, mais uma vez, que Deus sempre nos prepara o que é melhor! :D

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Enquanto posso dizer que adoro pingüins!

Ontem, no Centro de Cultura (é assim que chamam o prédio de Zarinha, agora), recebi um papel com as mudanças que a nossa língua sofrerá. Sai um monte de hífen, acento diferencial, trema e até os circunflexos! Hermann Neto é que não deve estar nem um pouco satisfeito: a crase fica! Ainda bem que Maria Valéria Rezende escreveu o Vôo da Guará Vermelha (por sinal, muito bom) antes dessa reforma, porque eu acho que depois dela, nada mais voa em substantivo, ninguêm mais crê, lê, dá nem vê na terceira pessoa do plural, no subjuntivo. Quer dizer, pode-se até dizer que eles leem, mas convenhamos que fica meio capenga. Daqui a uns 15 anos, vão, "mutatis mutandis", chegar dizendo que agora não é /lêêm/ que se pronuncia, mas /lim/, para anglo-saxonizar a fala também! Não quero ser mal interpretada, eu não sou totalmente contra a reforma: as coisas simples são boas, mas é como se quisessem empurrar uma nova língua pra cima de mim. É como uma prótese no dedo mindinho, que embora pequena, significa muito. Já imaginou um diálogo com seus netos?

- Você comprou muitas coisas, minha querida?
- Para Sagui!
- Para Sagui? E quem é essa?
- Não, não escou falando com você, vovó. Estou dizendo Para Sagui.
- Hã?
- Tem um sagui aqui do meu lado.
- Ah! 'pára sagüi'.
- Nossa, vovó. Nem escreve isso por aí, vão pensar que você deu um voo pra assembleia dos milenários. E como andam os textos?
- Ando escrevendo sobre pingüins, descobri coisas novas. Seus irmãos me lêem todos os dias.
- Ô, vovó! 'pingüins', 'lêem'! É quase um museu vivo! Você me diverte!

sábado, 4 de outubro de 2008

Mes routes

'Poursuis ta route
Suis ton chemin
(...)
Jamais ne doute
N'aie peur de rien
(...)
Prépare ton cœur
Ouvre ses portes
Pour que la fleur qui s'y cache, s'éveille'
(Palaprat)

Se eu me levanto bem cedinho de manhã, e vou tentar correr na praia, eu posso chegar lá e encontrar o maior toró, mas também posso ver alguém que fazia tanto tempo, alguém com gosto de sonho esquecido. Qualquer das duas coisas (e sim, eu já vou tentando construir mais uma teoria) me traria surpresa, porque o que eu queria era simplesmente sair de casa, andar, olhar o mar, tomar uma água de coco e voltar. Uma das melhores partes de viver é essa: é sempre diferente do que esperamos. Às vezes pra mal, às vezes pra ótimo. Depois de ler tantas histórias incríveis sobre esses 'Nobels', mártires e até gente comum que passou por um câncer com louvor, sou inclinada a acreditar naquele quebra-cabeça sendo formado, de modo que as coisas más são chutes, e as boas abraços carinhosos que vão levando as circunstâncias da vida para o seu lugar certo, para onde deveriam estar, de acordo com o plano.
E eu penso, também, que a gente tem um quebra-cabeça pra cada situação na vida (já pensou painho, quantos deve ter?). Cada vez que as peças chegam ao seu lugar, ao nosso coração chega a tranqüilidade, que nos invade de tal modo que começamos a sorrir um sorriso pleno, transparente e calmo, que não tem aquele som estridente das gargalhadas forçadas, mas segue bem o eloqüente arauto, como diria Shakespeare, simplesmente porque emana da paz das nossas águas.
Aí vem outro plano, com as peças todas desajeitadas. Mexemos pra lá e pra cá. Nada. Vamos lá e cá, fazemos orçamentos, traçamos metas, por favor papai. Nada. Se você brincar, minha querida, enfiam um Egito ou a Amazônia no meio do seu problema, que agora não tem mais 12, mas 36 pedaços.
Como resolvê-lo fica muito difícil, deixa-o de lado. "Tenta ajeitar o outro, é o seu futuro!" "É. É isso. Há sempre muito mais a ser consertado."
Hoje, quando eu abri aquela pasta em que estava o jogo, engraçado, só havia 12 peças, e só duas fora do lugar. Eu e Mainha cuidamos delas. Sonhos esquecidos não são sonhos abandonados. O gosto de realizá-los é melhor que o suco do TGIF's. Minhas costelas estão doendo: os abraços da vida foram esmagadores.

~

Ah, só um ajoute. Esqueci-me de escrever aqui sobre a linda pregação de Pr. Kerly a que assisti há uma semana. Ele falava sobre Filipenses 4:7, dizendo que parece mesmo improvável que em uma situação adversa você consiga, ao invés de desespero, sentir paz. Não adianta tentar explicar, dizia ele, porque simplesmente, excede todo o entendimento. Era o que eu precisava saber, naquele dia: ninguém iria entender. Mesmo assim, a calmaria feels great.


[Senhor, MUITO OBRIGADA. Eu não esperava. Eu nem tenho palavras!]