quarta-feira, 22 de setembro de 2010

My motto: tudo passa

É engraçado como nós, meninas, temos ilusões loucas. Conseguimos, conhecendo um cara e sondando um pouco do seu caráter (ou, nas infelizes vezes, de sua beleza), já imaginá-lo nosso e, pior ainda, tê-lo quando queremos. É tão fácil gostar, entregar o coração, e tão difícil continuar analisando aquele que tantas vezes parece um príncipe, mas é um monstro disfarçado. Uma pessoa que a faz sofrer angustiada, chorar sempre, que não lhe dá paz, que gosta de vê-la triste, minha querida, não é uma pessoa que gosta de você. Aliás, tenha coragem de analisar os fatos: é uma pessoa que não tem nem consideração por você como ser humano. Embora leiamos as histórias e assistamos aos filmes em que os homens sofrem drásticas mudanças de caráter, eis o que eu aprendi, na vida e nas histórias reais: eles raramente mudam. Não confie nas exceções nem nas suposições. A felicidade, ao contrário do que pregam os românticos-românticos, não está na dor aguda do coração que não é amado, mas sim na paz que encontra quem se ama e se permite, assim, ser amado. Até Machado, o supra-sumo, se converteu ao realismo.
E veja o que encontrei nas minhas citações de alguns anos atrás:
"Metido com cabras... não se dava ao respeito... E ainda por cima, não se importava nem em negar... Mãe Nácia, porque naturalmente, no tempo dela, aguentou muitas dessas, diz que não vale nada... E a moça comparou Dona Inária à quelas senhoras de alma azul, de que fala o Machado de Assis... Foi então que se lembrou que, provavelmente, Vicente nunca lera Machado, nem nada do que ela lia. (...) Num relevo mais forte, tão forte quanto nunca o sentira, foi-lhe aparecendo a diferença que havia entre os dois, de gosto, de tendências, de vida.(...) Ele era bom de ouvir e de olhar, como uma bela paisagem, de quem só se exigisse beleza e cor. Mas nas horas de tempestade, de abandono, ou solidão, onde iria buscar o seguro companheiro que entende e ensina, e completa o pensamento incompleto, e discute as idéias que vêm vindo, e compreende e retruca as invenções que a mente vagabunda vai criando? (...) Já agora, o caso de Zefinha lhe parecia mesquinho e sem importância. Qualquer coisa maior se cavava entre os dois."
(Rachel de Queiroz, em O Quinze)

Que você, como eu, encontre quem complete o seu pensamento incompleto. Sei que encontrará.