terça-feira, 20 de julho de 2010

Por que(m) mudei

Sou, first and foremost, uma pessoa, o que significa que sou um enlinhado enorme de sentimentos, emoções, riso, tristeza, drama e conflitos como o é toda pessoa. Dos meus maiores questionamentos surgiu a minha maior certeza, que é a de que pelo Ágape tenho vida. Costumava pensar em Deus como alguém que eu encontrava em determinado lugar, naquela hora do meu dia. Jesus era aquela figura triste, pendurada na cruz, que havia sofrido tanto – e talvez por isso eu o amasse. E sentia muita culpa, por tudo. As repetições de orações, como se os meus joelhos machucados fizessem alguma coisa por mim no mundo espiritual, me fazem pensar até hoje. A primeira frase completa que eu escrevi sozinha foi “A Cristo por Maria”, lema da escola onde eu estudava, e desde sempre eu pensei (porque me ensinaram) que para falar com Deus, eu precisava, primeiro, falar com Maria cuja figura maternal sempre me despertou muita simpatia, de modo que Deus, o Pai, sempre foi uma figura muito distante (temida, mas distante) para mim.

Todos sabem da história do véu do templo que se rasgou com a morte de Jesus para que pudéssemos ter livre acesso a Deus. E eu digo sempre que na minha vida também o véu se rasgou, e eu pude estar com o Senhor.

E me perguntam: quando aconteceu?

Respondo simplesmente: quando li. Assim como tantas outras idéias da minha vida que foram quebradas pela leitura e pela minha vontade (que é grande, mas tão difícil de realizar completamente) de entender o mundo, essa foi destruída pela leitura da Bíblia que, acredito eu, é a palavra de Deus.

Pois bem, li. Gênesis foi clean, tudo igual ao que eu pensava antes. Quando cheguei à passagem de Êxodo sobre os dez mandamentos (cap.20) e, deparei-me com o seguinte: “Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto.” Esse, para a minha surpresa maior, é o segundo mandamento dado a Moisés, o qual nunca me havia sido ensinado, porque fazem um enxerto de mandamentos para pulá-lo – incrível. Esse foi o pontapé inicial para a multiplicação das minhas perguntas. Depois vieram tantas outras coisas, como o fato de não existir batismo de crianças na Bíblia (o próprio Jesus foi batizado aos 30), os anjos da guarda, as orações repetidas que Jesus condena, como diz Mateus em seu evangelho, e tanto mais. Penso que a certeza da decisão que tomei veio quando li a carta de Paulo a Timóteo, em que diz: “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos.” Ora, é o que dizia, puramente, a minha Bíblia católica.

Foi muito difícil. Primeiro, porque “ser crente” era o que eu menos queria, e minha mãe sofreu grandes impropérios meus porque eu não aceitava que ela fosse também. Segundo, porque é muito harsh enfrentar tradição, correr contra o fluxo e stand up pelo que pensamos ser correto – bem sei. Mas também não é possível, vendo algo verdadeiro, negá-lo em nome de qualquer outra coisa. Não é possível, sentido tão verdadeiramente a presença de Deus, deixá-la por nada.

Eu não acredito em falar com pessoas que já morreram, porque Hebreus diz que depois da morte vem o juízo final, logo, os santos, embora santos, não podem ser comunicados. Estão, certamente, desfrutando da glória de Deus, mas diferentemente dEle, não são oniscientes nem onipresentes. Aí Maria, que é, para mim, o exemplo máximo de obediência a Deus e de santidade, não merecer orações. Sei também que existem tantos outros santos que não os canonizados que viveram uma vida digna e consagrada so Senhor. Eu não acredito que se deva batizar bebês, porque na Bíblia o batismo é a marca do novo nascimento, da criatura que crê renovada, por isso, nenhum dos meus filhos será batizado até ter idade para discernir e decidir. Eu não mais acredito em um Deus austero e que castiga. Sei que Deus é justo, mas também sei que é Amor, o que é traduzido muito bem pelo fato de Cristo ter morrido por nós. Eu não mais penso que perguntar é transgredir, como quiseram me ensinar, nem que alguém nesta Terra possa ditar verdades. Sei que Deus, através da sua palavra, fala diretamente ao meu coração, sem necessidade de rituais, e sei que eu posso lhe falar diretamente, sem necessidade de quem, afora ele, me absolva.

Detesto radicalismo. Quando entro em alguma igreja e vejo pessoas falando mal de Maria ou fazendo simpatias no nome de Deus, meu estômago embrulha. Quando vejo as novas doutrinas, o sincretismo perigosíssimo das igrejas neopentecostais, viro as costas. Eu acredito, hoje, que uma vida com Deus traz paz, vida e, acima de tudo, liberdade. E acredito que Deus é coerente com a sua palavra. Dessas certezas, eu não abro mão por nada.


"Assim, não é como uma criança que eu creio em Jesus Cristo e o confesso. Meus hosanas nasceram de uma fornalha de dúvidas."

(Dostoiévski, comentando seu antigo ateísmo)