segunda-feira, 23 de março de 2009

RealBeauty

Eu tenho esta figura, na minha cabeça, do dia em que ele devolveu um dinheiro que havia achado no chão. Eu sempre soube que seria um adulto excepcional, soube também que sofreria um bocado. Encontrei-me com ele, dez anos mais velho, um dia desses. Trazia no rosto aqueles traços peculiares aos homens dignos e, apesar de ser só um pouquinho mais velho do que eu, tinha a autoridade de um homem. Mas não perdera a graça. Morria de rir de tudo, e aquele sorriso contrastava com a sua maturidade, num entrelaçado de gestos que, incrivelmente, eu sempre soube que admiraria. Como eu previra, ele tinha mesmo sofrido muito. Ano passado, perdera seu irmãozinho (de quem, é claro, eu só lembrava o choro de bebê), ao tentar dialogar com um assaltante, porque não tinha dinheiro para dar-lhe. E sustenta a tese de que o assaltante era uma boa pessoa, ele vira nos seus olhos. Havia muita bondade em seus olhos.
Depois de conversar muito, despedimo-nos, com o aperto de mão que inventamos na segunda série, mas ainda nos lembrávamos (incrível mesmo!), e ele partiu, não antes de explodir o sorriso de sempre, dizendo: há mais beleza do que se pensa, neném.