sexta-feira, 27 de março de 2009

'Gosto muito de fotos, mas a limitação delas me inquieta, muitas vezes. O pedaço de natureza que vejo aqui, no centro de prédios comerciais vultosos, e as crianças que vejo correndo entre os sérios empresários de paletó ilustram maravilhosamente o que eu gosto em Londres. Gosto da mistura, do sincretismo, do diferente e do igual. Gosto das pessoas notadamente ricas que vêm para o meio de um parque almoçar um sanduíche do McDonald's, só pra ver os pássaros em revoada sobre o lago. Gosto do verde daqui. Gosto da cultura, da educação, do sotaque. Gosto da pontualidade, da precisão, do vento. Gosto do cheiro (não o do Tâmisa, é claro) e do Sol, que tantas vezes se esconde, mas, quando vem, é todo charmoso. Gosto, especialmente, do seu reflexo na água, como o que eu vejo neste exato momento. Daqui, do meu banquinho, diante desta visão esplendorosa, eu sinto a minha pequenez diante da imensidão de Deus. E sinto gratidão. E deslumbre. Ouço o som do vento e o canto dos pássaros, que são singularmente lindos, e rio de graça. E não, não preciso de mais nada. Na intonação de Caetano, movida por oposta motivação, eu só quero cantar: London, London.'

(Regent's Park, Londres, março/2009)