quinta-feira, 15 de março de 2012

O amor cup-noodles

A primeira coisa que eu aprendi a cozinhar foi nissin miojo. Esquenta a água, joga o macarrãozinho e espera uns três minutinhos pra ficar pronto. Não é gostoso. É normal. A gente come porque precisa, ou porque uma vez no ano dá vontade mesmo, ou porque não tem tempo pra outra coisa. Massa boa mesmo é aquela caseira, feita em casa por quem sabe, ou no Apetito, restaurante italiano tímido (mas premiado) daqui. Com a correria da vida (bendita correria, sempre meu assunto!), as pessoas não se preocupam mais com a qualidade das coisas. Pensam, apenas, no que lhes é necessário, e arranjam um jeito - de preferência sem muito esforço - para conseguir o que querem. Fazem assim, inclusive, quando se trata de amor. Quem quer, hoje em dia, pensar em conversar muito com alguém, paquerar, namorar, construir confiança e depois dividir a vida? Só pensar nesse processo cansa, e nós, a sociedade do aqui e agora, não esperamos. Talvez por isso, as pessoas, sabendo que precisam de afeto, lançam-se às baladas da vida, colocando seu coração - ou seu corpo - a prêmio. Outros, porque não conseguem ficar sós (e este é o pior tipo de medo: não saber ficar só, não enfrentar-se a si), correm atrás de pseudo-namoradinhos, que, juntos por apenas duas ou três semanas gritam pelos facebooks da vida "eu te amo" aos quatro ventos. E todos esses (não há exceção) acabam-se deparando com muitas frustrações na vida. É que o nosso paladar - e também a nossa alma - está preparado para receber o rondelli de espinafre com ricota que demora horas para ficar perfeito, mas acaba recebendo um potinho de cup-noodles. Amor instantâneo é decepção na certa.