quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Um tablet por aluno...

... É a proposta da moda, nestas eleições municipais. É óbvio que além dos vereadores que prometem construir duzentas creches (note: o vereador vai construir) e dos que prometem o básico neoliberal ("prometo lutar pela saúde, educação e segurança pública"), alguém tinha que inovar. E pensaram logo: um tablet. Pois, senhores candidatos a prefeito, eu não dou meu voto a quem promete tablet para alunos de escola pública. Primeiramente, porque não entendo de que maneira jurídica isso aconteceria, porque de uma coisa eu sei, é que o Estado não pode sair por aí dando eletrônicos às pessoas sem mais nem quê. Além disso, não consigo enxergar qual a relação que esses políticos fazem entre possuir um tablet e ser bem sucedido nos estudos. De minha geração mesmo, não conheço ninguém que tenha aprendido matérias escolares em tablets, e há até os que, como eu, são completos ignorantes (ou analfainfo) no assunto. Eu sei que falta é muito nesta minha cidade para as crianças e jovens que frequentam escolas públicas: falta merenda aceitável, faltam professores qualificados, faltam cadeiras confortáveis. Em algumas escolas, acreditem se conseguirem, falta até lousa branca (usam ainda quadro negro). Falta também tratamento digno aos professores, em matéria daquilo que parece ser tão secundário aos políticos: salário. E eu fico imaginando, um professor-herói desses - que são todos os professores de nossa rede municipal, os quais, apesar de ganharem bem acima do piso estabelecido pelo MEC, ainda ganham muito pouco para o trabalho que desenvolvem (isso não é privilégio deles, mas mal de quase todo professor, nesse Brasil nosso) - no fim do mês, contando seus dois mil e poucos reais, percebendo que mal dá pra pagar as contas, enquanto seus alunos desfilam com tablets pelos corredores da escola. Não que haja problema em proporcionar condições melhores de ensino. É bom que haja computadores nas escolas, com quem saiba ensinar os estudantes a utilizá-los. Mas distribuir tablets? Por favor, senhores candidatos, tenham um pouco de bom senso. O tablet se sentiria completamente deslocado do ambiente escolar municipal. E, além disso, os senhores, que pertencem à classe média - inclusive os que se autointitulam comunistas - sabem muito bem que nem todo mundo possui um tablet em casa. Pensem nas consequências para as crianças, pensem no que farão quando, de repente, esses tablets doados forem desaparecendo, um a um, vendidos pelos pais das crianças, furtados, etc. O que vocês farão diante disso, senhores candidatos? Abrirão um processo contra a criança que desviou o recurso público? Ou deixarão por isso mesmo? Para além desses questionamentos óbvios, que, certamente, passam pela cabeça de todo cidadão escaldado por vossas promessas, resta-nos, conhecendo o passado de alguns de Vossas Excelências, nobres políticos, tão bem, a certeza de que enquanto falam em tablets e veem um sorriso no rosto de um cidadão mais desavisado, já estão sorrindo também, calculando quanto levarão na licitação desses benditos tablets (que não deve ser pouco, porque, de repente, a ideia se tornou muito recorrente). Pois bem, senhores candidatos, eu lhes sugiro, humildemente, como nova eleitora que sou, caminhando para o meu segundo voto, que abortem essa proposta, antes que todos comecem a pensar nisso. E, quanto à educação, voltem ao básico: invistam nos professores, nas instalações, nas bibliotecas, na merenda, construam novas escolas, premiem os alunos, enfim, acreditem no poder que tem a educação para mudar este país e para formar cidadãos mais responsáveis e conscientes que a maioria dos senhores.