segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Os poemas se divertem!

A célebre palavra de Deus começa dizendo que, no início, Ele criou os céus e a terra. Criou. Sempre me interessei muito pela arte, embora não seja amante dos palcos, a não ser o da minha própria vida, em que eu não enceno, mas vivo meus próprios pensamentos, conceitos, filosofias e emoções. Não entendo muito de pintura, nem sei distinguir muito bem os grandes artistas, mas sei ver e, vez por outra, consigo até sentir as cores vibrantes, os motivos diversos. Também gosto muito da música, e é quando penso nela que sou muito grata por ser brasileira. Nenhuma cultura européia pagaria o prazer de entender a essência da MPB ou a leveza da Bossa Nova, só para citar exemplinhos. Não assisti a muitos filmes, mas acho-os interessantes, por vezes. Mas aquilo que eu mais aprecio, e não há dúvidas quanto a isso, é a literatura. É incrível como gente feita da mesma matéria que nós possa escrever coisas tão esplendorosas. Quem nunca ficou estupefato com a engenhosidade de García Márquez ou com a mestria de Machado? Quem nunca entrou em um poema de Cecília ou de Pessoa e nunca mais quis sair? A literatura, já dizia o próprio Fernando Pessoa, como toda arte, é uma confissão de que a vida não basta. Contraditoriamente, é também o mais profundo mergulho que podemos dar na própria vida. E é na vida que eu quero terminar minhas palavrinhas. Tudo o que fazemos, escrevemos, lemos, encenamos é uma reprodução da vida, uma explicação da vida. E tudo isso só pode ser tão brilhante assim, porque um dia, como nós criamos arte o tempo todo, Deus criou o mundo e nos criou. Em Efésios, Paulo escreve que somos "feitura de Deus". Esta palavra "feitura" é a mesma palavra grega para "poema".
Nós somos o poema de Deus, e Ele nos dá, a cada dia, as ferramentas para tornar os nossos versos ainda mais belos. Às vezes é preciso ajustar a métrica ou a rima, outras é preciso ousar e fazer da nossa existência um audacioso poema modernista de versos brancos e livres.
Eu acho que a minha vida é mais para um poema modernista: tem hora que só faz sentido para o Autor e para o próprio poema. Mas, quer saber de um segredo? O Autor sempre sabe o que fará com o poema. E os poemas se divertem quando estão sendo construídos. Todos os poemas se divertem!
O milagre da criação de Deus acontece todos os dias.