quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Penduricalhos

Eu lhe dizia todos os dias e sempre que a felicidade vivia em nós, e que os espasmos de alegria extra que tínhamos eram como as bolinhas que colocamos na árvore de natal. Era assim que devia ser. Tínhamos de ser inteiros sempre, mas enfeitados com os pingentes da vida. Para ela, a minha pequena, tudo eram penduricalhos (aprendeu bem a lição). Os sorvetes que tomava com os amigos, as gargalhadas estrondosas, os risos quietos, os abraços, as viagens - ela percebia a felicidade em tudo, absorvia-a e colecionava-a. Nos finais de ano, tinha bolinhas, estrelas e até passarinhos(!) em todos os galhos de sua árvore. Antes de partir, escreveu-me, em palavras curtas (como me incomodam!): "Você é um pisca-pisca". Não sei se se referia à gênese ou à permanência. Aliás, não me importo. Sempre adorei os seus natais, e a sua árvore, que vejo nas fotos em que eu era tão pequena (e tinha uns cabelos tão pequenos), e que hoje está sempre guardada, para a saudade minha, me lembra da graça que tem a vida e me faz querer juntar para mim os enfeites quotidianos, a magia de todo dia, os assovios da paz.