sábado, 25 de julho de 2009

Nem sempre

Sento-me, mas ao contrário dos revoltos, não dou gritos nem esmurro por libertação. Desamarro as cordas com a delicadeza dos adjetivos, solto os nós com a imperatividade doce dos verbos e digo-os a maneira como o devem fazer com os advérbios, que são absoluta, completa e lindamente prestativos. Embora sinta o desentrelaçar, nada vejo. Não vejo a liberdade, mas sinto-a de um modo inefável. Meus pensamentos se soltam em versos, e as palavras que me prendiam, pelo contrário, deixam-me livre. Quão complexa é a transformação! E ao mesmo tempo, quão necessária e simplória!
Releio-me, procurando, nas entrelinhas, entender. Procuro em cada espaço, em cada ponto, a leveza ou o abismo que eu quis imprimir. Mais difícil que ler é saber o que significa cada letra, pontuação e figura que formo, porque não se pode lembrar de tudo. Há pouquíssimos que compreendem a minha poesia - e eu nem sempre sou um deles.