terça-feira, 5 de maio de 2009

Chinelinha de Cinderela

Enquanto esperava Papai ontem, na porta da faculdade, passou à minha frente um casal magro e pobre, tão pobre que tinha que dividir um guarda-chuva infantil em meio a uma chuvinha não muito fraca. Mas não vinham ranzinzos nem reclamando de nada. Ela apertava na sua mão uns trocados, que deveriam usar para comprar o pão, e ele apertava a ela mesma nos seus braços. Seus chinelos velhinhos, já pretos de tão usados, vinham molhados na chuva, e a havaiana dela escorregou. Ele, em um gesto de heroísmo, deixou-a debaixo da sombrinha enquanto aventurava-se pela chuva em busca da chinelinha, que colocou no pé da sua amada como se fosse o sapatinho de uma princesa. E ela, como recompensa, o abraçou. E ficaram lá, os dois, abraçados, ainda ao meu alcance de vista, segurando o guarda-chuva apertado entre seus corpos pequenos. Depois continuaram andando, com um encanto que não se acabaria nem depois de mil batidas de sino, com amor. Há príncipes e princesas que moram nas ruas.