sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Letter 21##

Meus Bens,
Antes de tudo, agradeço-lhes a preocupação. Estou me recuperando bem, tranqüilizem-se. Quero, nesta carta, contar-lhes uma história. Das reais. E envio-lhes uma cópia por email, como sempre. É que agora resolvi colocar no bloguinho para que eu possa sempre lê-la - traduzi-me bem, desta vez (incrível, não?). Pois bem, vamos ao caso. Lembram-se de Ana, aquela minha amiga de quem lhes falei há sete meses? Ana ficou com José. José é um colega querido de João - querido meu, também. Então, ficaram. Antes de tudo, devo dizer-lhes como me incomoda a intransitividade do ficar. Não me refiro ao amar da fraulein de Andrade (sempre esquisita, para mim), nem à escrita de Clarice, é claro. Os intransitivos de Clarice são a minha paixão secreta, vocês sabem. Mas, e ficar? Que significa? Não é sinônimo de permanecer, isso é fato. Ficar é transitório, como o foi com Ana e José. Ficaram umas cinco vezes, depois cada um correu para o seu lado, e - pasmem! - hoje, parece que nada aconteceu. Não sei porque, meus bens, mas me parece tão doentio. Não soa saudável, a vocês ocorre o mesmo? Acho que a atitude poder-se-ia incluir naquelas atitudes modernas que não compreendemos.
Quando me lembro de quando éramos menores e compartilhamos nossos primeiros amores, aliás, compartilhamo-los todos no mesmo espírito, com o entusiasmo engraçado e taquicárdico dos in love, penso que vivemos bem. Das piscadas de olho (quão piegas soam!) aos elogios, dos elogios às implicâncias, das implicâncias ao afeto, do afeto ao bem-querer e deste ao estar junto. Notem: estar. Lembro-me também de quão atípicos sempre foram vocês - talvez por isso eu os tenha em tão alto conceito - porque abraçavam o compromisso como quem se joga de asa delta. Pensando bem, vocês são muito sortudos. Nunca lhes ocorreu encontrar as facas no ar, como Léo e Bia?
Em conhecendo-lhes, diria que não. Mas, volvamos ao assunto. Já imaginaram quão terrível deve ser beijar alguém com quem não se tem vínculo? Qual é a ética do negócio? Aliás, esqueçam, não me digam - não quero saber. Compartilhar um pedaço de você com um simples amigo? (Não me levem a mal, é claro que nós cinco dividimos alma e pensamento, que são mais profundos, mas vocês sabem que um beijo é a mais entusiástica comunhão dos in love). E como é bom, esclarecido tudo, deitar nos braços da paz cordelianos e encontrar o timing perfeito! Lembro-me de você e Maria, Pedro! Pensei que o major matá-lo-ia, naquele dia. Por isso fizemos a festinha antes - não tínhamos certeza se voltaria vivo. Você é cabra macho mesmo, amigo! Sabe que são o meu casal preferido, pela força que têm, por tudo.
Não posso esquecer de Caio também, mas a história dele é a mais cômica, e eu estou tentando escrever-lhes com seriedade, ao menos uma vez.
Com todas as recordações, só posso decidir permanecer no estar. Sou dos compromissos, da segurança, do relacionamento, do namoro, da certeza, bem me conhecem - não há jeito. Ao mesmo tempo, tenho medo da rapidez. Não gosto da urgência, mas também me atordoa a incerteza. E lá vai, como sempre, termino bombardeando-lhes com meus paradoxos. Já se acostumaram, não é mesmo?
Mando a foto dos meus cabelos novos e dos meus óculos novos, para que me vejam e digam o que acham.
Ah, Fabi, seus poemas me fascinam, cada vez mais. Escreva muito, minha amiga. Escreva sempre. Você voa, com certeza.
Beijo-os, abraço-os e sinto sua falta sempre,
Com todo amor, permanência e calma,
Estejam,
MH

P.S.: A prova de francês foi comicamente terrível - é preciso que me perdoem a bagunça na pontuação e nos acentos.
P.P.S.: Troquei todos os nomes, é claro. Não reclamem de sua identidade pública! :P