segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

(In)finito

Divirto-me bastante com os amores eternos. Não que não lhes creia. Acredito, porque já vi tanta gente que fica junto a vida inteira, mesmo com os problemas, e acredito porque vejo o meu vô, com aquele jeito seriíssimo dele, dar cheirinhos na cabeça de vovó, abraçá-la e dançar com ela. Encontro a graça nas declarações pueris de quem passa duas semanas juntos e diz que vai amar para sempre. A verdade é que, quando se é muito criança, confunde-se gostar com amar. Quem ama, ama mesmo quando não gosta, mesmo quando tem problemas, mesmo quando briga. Gosta-se por natureza, pela sensação boa; ama-se por decisão. Gostar pode ser instantâneo; amar é, necessariamente, uma construção.
Luís Roberto Barroso, um desses caras que a gente deve ler no Direito, escreve também prosa bonita e, falando do amor, diz o seguinte, com o que concordo sem adições:

Creio no amor apaixonado e cúmplice, que supera a paixão narcísica de cada um. O amor sublime, que não exige o rebaixamento do erotismo e nem o conformismo imposto - e não eleito espontaneamente - a certos deveres sociais e legais. Ainda nas palavras de Maria Rita Kehl: 'o amor sublime é o amor de escolha e, portanto, amor de liberdade. É união com base em afinidades eletivas e, portanto, uma aliança a favor, e não contra, o vôo de cada um pela vida.'
[E continua Barroso]: Quem ama, encontrou e se encontrou.

Quem me lê pode rir também da autoridade com que eu pretendo falar do assunto, eu que gostei muito, mas não sei ao certo o que seja o amor.
Parece-me que é preciso rotular menos, viver mais, ser transparente, para que, diferente do da cantiga, não seja vidro e nem se quebre o que pode ser amor.